Rita Soares e Layse Santos
Pré-candidata ao Senado pelo PSOL, a jornalista Úrsula Vidal se viu recentemente no meio de uma polêmica. Ao estrear um programa na Rádio Clube do Pará, que pertence à família Barbalho, Úrsula foi acusada de uma aliança velada com o MDB de Helder Barbalho, pré-candidato ao governo do Pará.
Na semana passada, Úrsula conversou com as jornalistas Rita Soares e Layse Santos. Falou das razões de ter optado pela disputa ao Senado, da filiação ao PSOL e, lógico, do programa na Rádio Clube.
Confira os principais trechos desse bate-papo.
Por que você decidiu se filiar ao PSOL?
A filiação é o resultado de uma construção. Resolvi apoiar o Edmilson (Rodrigues candidato à prefeitura de Belém derrotado por Zenaldo Coutinho) no segundo turno das eleições de 2016.
Já foi a aproximação de uma pauta (comum), com uma maneira de enxergar a cidade, de construir plataformas políticas e um modo de fazer política com participação popular, com escuta. Naturalmente, fui me aproximando do ponto de vista das escolhas dentro do campo ideológico.
O País está passando por um processo muito claro de recrudescimento dessa intolerância.
Há uma política que não respeita o direito dos trabalhadores, que tarifa o consumo. Há um empobrecimento da população, um corte absolutamente brutal e desumano nas políticas sociais, das garantias de direitos individuais difusos. Então essa aproximação foi natural.
Eu me sinto realmente em casa.
Foi uma surpresa sua candidatura ao Senado porque algumas pessoas entendiam que você deveria sair candidata ao governo ou dar um passo menor tentando, por exemplo, uma vaga na Assembleia Legislativa. Por que essa decisão?
O Senado é um espaço muito importante para o País que queremos e para garantir direitos consolidados que foram retirados. E é uma janela demorada de abrir. Neste ano, são duas vagas. Isso só se repetirá daqui a oito anos. Portanto, teremos uma chance efetiva.
Você vai competir com candidatos de partidos com estrutura muito maior que a do PSOL. Isso te assusta? Você acha que tem alguma chance nessa disputa?
Olha, se a gente não tivesse no meio de um terremoto, eu acharia que talvez fosse muito difícil. Será uma luta dura, mas eu acho que temos um ambiente muito favorável para a renovação política.
Recentemente você estreou um programa na Rádio Clube do Pará, ligada ao grupo RBA, da família Barbalho, e isso gerou muita polêmica nas redes sociais. Realmente isso significa que você está potencialmente aliada ao MDB?
Nós não somos aliados. Nós três aqui trabalhamos em emissoras, grupos de comunicação que pertencem a famílias e famílias alinhadas politicamente com partido A, B ou C. Isso não significa que a nossa voz, o nosso exercício jornalístico seja a voz do dono.
Eu quero voltar para o Rádio. É a minha profissão. Eu sou comunicadora há 30 anos e percebi que o Rádio tem uma capacidade imensa de comunicação, sobretudo nas áreas aonde a TV, a rede social não chegam. É um programa dentro de uma Rádio que tem 90 anos, uma rádio de esporte, de cobertura jornalística, que fala para um público majoritariamente masculino.
A nossa ideia é fazer uma pedagogia do direito social, muito relacionada à questão do direito das mulheres, do acesso à educação, à segurança, atenção à primeira infância.
É um programa que aprofunda a discussão sobre certas temáticas.
Por que a Rádio Clube?
A Rádio Clube tem o maior alcance de sinal no Brasil. A gente ouve no Amazonas, Amapá, Tocantins. Então essa foi uma escolha estratégica de maior alcance de sinal.
Qual é a sua relação profissional com o grupo RBA?
Comercialização do horário como muitas pessoas fazem dentro de emissoras de rádio, de emissoras de TV.
Então você não está na folha de pessoal da família Barbalho?
Não. Eu não estou na folha da família Barbalho.
A decisão de ter o programa de rádio sofreu resistências dentro do PSOL?
Não, porque isso foi uma decisão consensual. Olha, eu tenho uma profissão, sou jornalista. Preciso voltar a exercer minha profissão, então conversamos com a direção do partido. Nós sabíamos que isso ia gerar este tipo de fake news.
Eu estou sob ataque há muito tempo. São coisas pesadas, acusações gravíssimas contra minha honra, minha família. Se eu fosse para uma Rádio de outro campo político, iam dizer que eu estava indo para outro campo. Praticamente todas as rádios estão na mão de famílias que já têm uma trajetória empresarial ligada a certos campos ideológicos. Para onde quer que eu fosse isso iria gerar algum tipo de comentário.
Tem alguma possibilidade de aliança do PSOL com o MDB em eventual segundo turno no Pará?
A gente está trabalhando em campos ideológicos de posicionamento político, de construção de projetos bem diferentes. Eu entro na Rádio Clube com uma camiseta onde está escrito “fora Temer”. Faço duras críticas ao governo Temer todos os dias. É um espaço de total independência editorial, independência do ponto de vista político.
E como está a pré-campanha?
É duro porque, infelizmente, dentro das redes sociais há uma campanha muito agressiva, covarde até, contra esse projeto político que a gente acredita que é legitimo. Mas nos lugares por onde a gente vai, nos municípios, nos territórios para onde eu tenho viajado, as pessoas acreditam nessa candidatura.