Depois de Chris Kyle, o atirador de elite das forças especiais da marinha dos Estados Unidos no Iraque, e Vassili Zaitsev, o franco-atirador russo que virou herói durante a Batalha de Stalingrado, durante a 2ª Guerra Mundial, quando enfileirou 243 soldados e oficiais nazistas, chegando a um total de 468 até o fim da guerra, um novo “sniper” está prestes a surgir para o mundo em um outro campo de batalha: o octógono do UFC.
A recente promoção de Francisco Nazareno Figueiredo no “show” vem agitando os fãs do MMA antes do combate de estreia na organização em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, marcada para 20 de janeiro de 2021 contra o mexicano Jerome Rivera, “O Renegado”, pelo peso mosca (57 quilos).
São duas as razões principais para gerar tanta expectativa: ele é irmão de Deivson (a grafia correta do nome é essa) Figueiredo, o “Deus da Guerra”, campeão absoluto justamente dessa categoria, e seu estilo reconhecido como “agressivo e certeiro”, buscando sempre o nocaute, já inspirou um comentarista do Jungle Fight, onde foi campeão peso-galo, a classificá-lo de “Sniper”, apelido do qual gostou de cara e pediu para colocar no Sherdog.
Se Kyle e Zaitsev tiveram a fama potencializada em grandes filmes, o “Sniper” do Marajó, um ex-sushiman e ajudante de pedreiro, agora de 31 anos, sabe que as batalhas na organização de lutas mais famosa do planeta são o caminho para a realização de muitos sonhos.
Esse “atirador de elite” natural de Soure, no deslumbrante arquipélago do Marajó, no Pará, pai de Renzo, que completou apenas quatro meses nessa véspera de Natal (o nome do filho é uma homenagem a uma dos mitos do clã Gracie), está há dois anos sem conhecer um revés, ainda pelo Jungle Fight.
Recentemente, ele e a mãe, a dona de casa Silvana Lúcia Alcântara, estiveram na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) para representar Deivson no recebimento da medalha “Ordem do Mérito Cabanagem”, a maior honraria do Parlamento estadual (veja fotos).
Na entrevista a seguir, Francisco “Sniper” Figueiredo provoca empatia e esbanja personalidade e confiança. Acompanhe.
REDEPARÁ – A pergunta que os fãs do MMA estão se fazendo, principalmente os brasileiros e em especial os paraenses, é: vem aí um novo fenômeno do esporte? O que eles podem esperar de você?
FRANCISCO “SNIPER” FIGUEIREDO – Podem esperar mais um campeão brasileiro, como o meu irmão. Em breve o Pará terá mais um cinturão.
REDEPARÁ – Qual foi a sensação de fazer parte do UFC? O que pensou na hora da confirmação do contrato e assinatura?
SNIPER – Cara, quando veio a notícia, passou um filme na minha cabeça, nas dificuldades e lesões que tive, nos pensamentos para desistir, mas também lembrei da dedicação com os meus irmãos e que tudo valeu a pena.
REDEPARÁ – Qual é a estratégia para alcançar o topo e não sair mais?
SNIPER – É investimento em si mesmo. Meu irmão faz isso, montando uma equipe de grandes treinadores que atendam ao alto nível que o UFC é. O restante é muita dedicação, trabalho.
REDEPARÁ – Alguns atletas se destacam mais com uma determinada especialidade, como o boxe ou o jiu-jítsu. Com que arma você se sente mais confortável?
SNIPER – Gosto do muay-thai, sou ponta preta nessa arte, que pratico desde os 3 anos, e, desde molequinho, a luta marajoara. Sou também faixa preta de jiu-jítsu. Mas estou treinando outras modalidades para fazer história e deixar o nome marcado no UFC.
REDEPARÁ – Qual o seu estilo de luta? O que tem de parecido com o Deivson?
SNIPER – Temos estilos parecidos, assim como a vontade de vencer. Sou bem agressivo. Dificilmente jogo golpe no vazio. Sou mais certeiro, mas ele costuma não desperdiçar golpes.
REDEPARÁ – Seu irmão gosta de promover o show. Você prefere ficar mais quieto ou também é de “vender” a luta?
SNIPER – Fico mais na minha, mas se o cara me provocar eu respondo ele, não vejo problema com isso. Faz parte.
REDEPARÁ – Como surgiu o interesse pelo MMA na família e o seu em particular?
SNIPER – Foi com a luta marajoara. Víamos o MMA, fazíamos planos. O Iuri Marajó, que é da nossa região, nos ajudou muito. Somos muito gratos a ele, que primeiro descobriu o meu irmão e nos ajudou a chegar ao objetivo.
REDEPARÁ – Além de você, tem algum outro talento na família para lutar?
SNIPER – Tenho primos e um sobrinho, ainda criança, que é muito talentoso.
REDEPARÁ – É possível descobrir novos grandes lutadores no Marajó?
SNIPER – Há muitos por lá. É um celeiro de lutadores bons, que só precisam de apoio e oportunidade. Quero ajudar no futuro oferecendo essas condições, inclusive de estudo. Quero ajudar outros atletas. Não quero só para mim.
REDEPARÁ – Quais são os seus grandes objetivos particulares que estão relacionados à sua vida como atleta?
SNIPER – Quero ajudar os meus pais na velhice deles, os meus avós. Vou poder levar minha família a lugares bacanas, apoiar meus primos e sobrinhos.
REDEPARÁ – E qual o seu grande sonho de consumo?
SNIPER – Inicialmente, quero conseguir comprar uma casa grande, um sítio, onde possa ficar com a minha família. Quero estar perto de todos.
REDEPARÁ – O que mudou na vida de vocês com a participação do Deivson no MMA?
SNIPER – Ele ajuda a gente, é bom de coração, mas não podemos ficar só esperando. Quero também dar assistência.
REDEPARÁ – Qual a sua referência no MMA?
SNIPER – Gosto do estilo do [atual campeão dos médios, Israel] Adesanya, do [ex-campeão] Conor [McGregor], e da forma de lutar do meu irmão. Na verdade, me espelho nos melhores.
REDEPARÁ – Já assistiu a vídeos de lendas como Muhammad Ali e Mike Tyson e, mais recente, às exibições do Jon Jones, por exemplo, para aperfeiçoar o seu jogo?
SNIPER – Já vi lutas de Muhammad Ali e Mike Tyson. Esses caras inspiram. O Jones é muito bom, mas não sou muito fã da luta dele. Também assistia a filmes de Bruce Lee e Jet Li.
REDEPARÁ – Quem escolheu o apelido de “Sniper”?
SNIPER – Surgiu durante uma luta do Jungle Fight. Um comentarista falou que eu não dava golpes no vazio, que era como um “sniper”, ou seja, certeiro nos golpes. Gostei e pedi então para colocar o apelido no Sherdog.
REDEPARÁ – Na estreia do UFC, você irá enfrentar o mexicano Jerome Rivera, que é mexicano, assim como é o Brandon Moreno, que recentemente demonstrou muito coração e ofereceu grande dificuldade ao Deivson. Esse adversário preocupa?
SNIPER – Preocupa, por isso estava treinando três vezes por dia. Diminuímos agora a quantidade, mas é de segunda-feira a sábado. Os mexicanos são raçudos. Mas vou chegar para a luta com ele bem preparado em qualquer área.
REDEPARÁ – O que já sabe sobre ele?
SNIPER – Já assistir a algumas lutas dele, que é um pouco mais alto que eu. É um bom lutador, gosta de finalizar, mas eu também tenho muitas finalizações.
REDEPARÁ – Como está o seu camp?
SNIPER – Está muito bom, é a mesma equipe do meu irmão, até a nutricionista é a mesma, a doutora Lia Corrêa. São grandes profissionais, muito dedicados e que exigem o máximo.
REDEPARÁ – Se fosse para lutar agora você já estaria preparado? Não tem problema com dieta e em manter o peso?
SNIPER – Sim, estaria pronto. Estou com 64 quilos, não tenho problema com corte de peso, sou disciplinado, evito comer besteiras, como frituras. O meu objetivo é muito grande.
REDEPARÁ – Você é a favor de usar o esporte para combater determinados comportamentos, como o racismo?
SNIPER – Sou a favor. Nunca fui vítima de preconceito, discriminação, mas isso tem de ser combatido de todas as formas. Não é um bom comportamento. Somos todos iguais.
DADOS DA FERA
Nome: Francisco Nazareno Figueiredo.
Apelido: “Sniper”.
Idade: 31 anos.
Naturalidade: Soure, Pará.
Altura: 1,71m.
Peso: 70 kg (vai lutar com 57 kg).
Números dos calçados: 39/40.
Categoria no UFC: mosca.
Graduações: faixa preta em jiu-jítsu e ponta preta em muay-thai.
Cartel no MMA: 13 lutas, 11 vitórias, 2 derrotas, a última há dois anos pelo Jungle Fight (pelo peso galo – 61 kg – para o mineiro Eduardo Silva, em Belo Horizonte, quando teve um ponto descontado).