Leonel Andrade foi convidado para assumir o cargo de CEO da CVC Corp em fevereiro de 2020. Àquela altura as perspectivas para o Turismo eram mais do que otimistas. Quando ele assumiu, no entanto, em março, o mundo e a CVC já não eram os mesmos. A pandemia da Covid-19 gerou uma crise sem precedentes para o mercado e a CVC reportou erros no balanço de 2019 que poderiam arranhar a credibilidade da companhia. Era aquilo que o mercado chama de “tempestade perfeita”. O pior, porém, não aconteceu. Andrade agiu rápido para que a empresa tivesse aporte de capital e renegociasse as dívidas. Em meio a tudo isso, uma série de mudanças organizacionais, deixaram a empresa mais leve. A credibilidade ficou e agora chegou a esperança. O executivo acredita em uma retomada mais forte a partir de setembro com o avanço da vacinação. Nesta entrevista, ele conta ao M&E porque acredita que a CVC sairá mais forte desta crise.
MERCADO & EVENTOS – Você está há pouco mais de um ano no comando da CVC. E este acabou sendo o período mais desafiador das mais de quatro décadas da companhia, tanto por conta da pandemia como pelos balanços. Como foi este primeiro ano de CVC Corp?
Leonel Andrade – Foi uma enorme coincidência, porque eu acertei a minha ida em fevereiro para iniciar em março e, depois que eu cheguei, aconteceu um pouco de tudo. Passamos também por um problema muito danoso e que dói muito, que é de credibilidade. Então, tivemos que trabalhar em diversas frentes para resgatar a credibilidade da companhia. Primeiro, junto com mercado e reguladores, depois com os investidores. Isso ficou claro com a necessidade de capitalização. Por fim, com os credores, porque tiveram dívidas que precisaram ser renegociadas. Este resgate ocupou muito do meu tempo e terminamos o ano com tudo em dia e dívida renegociada. Não é uma dívida alta em um período normal, mas na situação atual precisava de uma renegociação. Graças aos acionistas, a companhia está bem viva. Eles fizeram um aporte de R$ 700 milhões no ano passado e tem programado para este ano mais R$ 400 mil.
M&E – Isso possibilitou que a CVC conseguisse passar bem pela crise?
Leonel Andrade – Como a empresa estava sendo bem resgatada, tomamos a decisão de manter 100% o operacional. Não desmontamos nenhuma estrutura e nenhuma linha de negócios. Isso nos trouxe ao momento atual, que é de muita crença de que a CVC vai sair muito mais forte. Após as renegociações das dívidas em novembro, foi eliminado o risco de continuidade da empresa. Agora é nossa hora de olhar e cuidar da companhia através de negócios inovações e futuro.
Não desmontamos nenhuma estrutura e nenhuma linha de negócios. Isso nos trouxe ao momento atual, que é de muita crença de que a CVC vai sair muito mais forte
M&E – E como este futuro começa a ser desenhado a partir de agora?
Leonel Andrade – Começamos a ter vantagens competitivas porque o mercado enxerga que vamos sobreviver. Quando o trade e fornecedores de um modo geral olham e percebem que a CVC está viva e tem capacidade financeira, preferencialmente vai fazer negócios conosco. Como o Rock in Rio e a Copa do Mundo, que vamos vender. Incluo também os fretamentos para o final do ano. É fundamental para esses eventos e empresas olharem quem estará vivo lá na frente e com capacidade operacional. Todos os dias fechamos negócios para o futuro e com boas condições.
M&E – Você já afirmou que pretende empreender uma transformação digital da CVC Corp. Como está este trabalho e qual será o efeito na empresa como um todo quando estiver concluído?
Leonel Andrade – No início do ano, separamos sete grandes coisas estratégicas. Destas duas já estão no negócio atual. A primeira é trazer a empresa para a modernidade, com investimento em tecnologia. Em cinco anos, a companhia fez dez incorporações, um trabalho louvável e corajoso, mas não dedicou investimento e tempo na questão de tecnologia e processos. Então, estabelecemos um plano grande, que conseguiremos concluir em dois anos. O que já fizemos até agora não é tão visto pelo mercado por enquanto. Estamos migrando toda empresa para a nuvem e começando a colocar produtos, como uma solução de app, orçamento dinâmico, QR Code e uma série de novidades. A CVC não vai deixar de ser uma empresa física, mas precisa ser digital também. A segunda diz respeito a nossa rede de distribuição. Ter mais de 1 mil lojas e presença em todo o Brasil é uma imensa vantagem competitiva. No mundo todo, mesmo nos EUA onde o online é mais disseminado, a venda física ainda responde por mais ou menos metade das viagens.
M&E – Há como mudar o modelo de atuação das lojas físicas?
Leonel Andrade – Hoje, a experiência do cliente não é a ideal. O menor pedaço da experiência é a viagem. A maior parte está no planejamento e na curtição da preparação. Nisso tudo a CVC não está presente. As lojas precisam ser transformadas em um ponto de experiência e sem papel para que apóie o franqueado a vender. A vitrine digital, por exemplo. Fechamos uma promoção e apertando apenas um botão aqui conseguimos mudar a vitrine de todas as lojas. Da mesma forma, entra um cliente na loja querendo saber sobre a Croácia. É raro alguém que tenha este conhecimento, então o atendente vai lá e pega um papel para mostrar, uma coisa antiquada. O mundo mudou e a partir de agora temos que ter todo este conteúdo digital em um tablet e por meio de um QR Code no celular do próprio cliente para que ele possa ir para a casa, curtir e tirar dúvidas.
M&E – Você já afirmou que a CVC é uma empresa especializada em Turismo, mas tem que ser especializada no turista. Como fazer esta mudança?
Leonel Andrade – Não tínhamos uma área de tecnologia e vamos terminar o ano com 26 milhões de clientes contectáveis e com um alto nível de conhecimento sobre eles. Estamos gastando muito dinheiro com isso. A CVC, sabiamente, conhece como poucos o canal de distribuição e os produtos. Mas precisamos ter esta inteligência artificial para conhecer o cliente e a CVC estava totalmente fora disso.
M&E – Em um contexto que as agências físicas estão fechando e o trabalho home Office se multiplicando, qual é o potencial de alcance da plataforma Agente Autônomo?
Leonel Andrade – Seja através de um agente autônomo, que tem a capacidade de vender se deslocando, ou pelas lojas físicas, precisamos gerar tráfego. Tenho conversado muito com franqueados para entender como esta modernidade pode ajudá-los a vender. A CVC tem uma marca fantástica e continua sendo muito importante, mas estamos investindo em mídia de performance para gerar esta inteligência e conhecimento sobre o cliente. Não vamos ficar restritos ao tradicional, estamos tentando abrir a cabeça, porque o cliente tem buscado novas fontes.
M&E – Com base na movimentação atual e nas buscas é possível projetar quando o mercado de viagens estará mais confortável?
Leonel Andrade – O mercado está muito prejudicado, as vendas caíram fortemente. Todas as companhias estão tirando malha porque a demanda caiu muito. Acredito que a partir de setembro e outubro vai voltar muito forte. Estamos acompanhando a questão da vacinação e não há nenhuma dúvida de que este é o caminho, porque dá certo e muda completamente o risco. Apesar dos atrasos, decisões no fundo vão acontecer no Brasil e chegaremos em setembro com 70% da população vacinada, incluindo os principais centros urbanos e os mais velhos, que são nossos principais clientes. Eles estarão aptos a consumir no final do ano e como temos uma demanda reprimida muito forte, será o renascimento do Turismo. (Entrevista: Anderson Masetto - Mercado e Eventos)
Entrevista publicada originalmente em https://www.mercadoeeventos.com.br