De acordo com os dados divulgados pela ConVid Pesquisas de Comportamentos, com base nos resultados coletados de 24/04 a 24/05 de 2020, relacionados ao fumo, o número de fumantes durante a pandemia aumentou. Os dados mostram que entre os fumantes quase 23% aumentou cerca de 10 cigarros por dia e 5% aumentou mais de 20 cigarros por dia. Sendo que as mulheres tiveram um resultado maior que entre os homens, 29% e 17% respectivamente.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 2019, revela que em comparação ao resultado de 2013, o número de fumantes diminuiu em adultos acima de 18 anos – saindo de 14,7 em 2013 para 12,6 em 2019. Mas em adolescentes entre 13 e 17 anos, o número de fumantes de cigarros, que antes era de 6,0 %, passou para 6,5%.
Conversamos com o médico pneumologista do Sistema Hapvida Walter Netto sobre os riscos do cigarro para a saúde, uma droga que possui mais de 4.700 substâncias tóxicas, nocivas ao organismo. Dentre elas a nicotina, que leva de 7 a 19 segundos desde a tragada até o cérebro e é forte causadora de dependência. Além de trazer informações sobre os cigarros eletrônicos, que atualmente são proibidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Walter, explique como o cigarro afeta os pulmões.
O Cigarro afeta a via aérea como um todo, destaco aqui os brônquios que são fortemente afetados, com uma condição de bronquite crônica e o tecido do pulmão que sofre muitas lesões, sobretudo, uma condição de enfisema pulmonar. A composição entre bronquite e enfisema pulmonar chamada de DPOC - Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, é consequência do cigarro, forte elemento cancerígeno.
Quais são as doenças que os fumantes podem desenvolver?
Além dos pulmões, o cigarro também está associado à presença do câncer de boca, faringe, laringe, traquéia, esôfago, estômago, pâncreas, rins, fígado e outros órgãos. Assim como está ligado à osteoporose, impotência sexual no homem, e nas mulheres menopausa precoce e infertilidade. Doenças cardiovasculares como hipertensão arterial, infarto, angina e trombose também estão relacionados com os males causados pelo uso do cigarro.
Deixar de fumar cedo pode diminuir ou eliminar as chances da pessoa fumante desenvolver câncer ou até outros tipos de câncer?
Além do fator genético, a associação câncer de pulmão e uso de cigarros está bastante relacionada a carga tabágica, ou seja, quantos cigarros este indivíduo fuma por dia e por quanto tempo ele vem fazendo isso. Evidentemente, a pessoa que tem uma carga tabágica maior, tem um risco maior de desenvolver câncer de pulmão, então, o principal caminho é parar de fumar. Porque os efeitos benéficos da sensação do tabagismo são de curto a longo prazo. Com um dia, o indivíduo já consegue ter melhora na função pulmonar, em um ano ele já consegue reduzir bastante o risco de infarto e após dez anos sem fumar, o indivíduo consegue reduzir pela metade o risco de câncer de pulmão que ele tinha anteriormente.
Apesar do cigarro eletrônico ser proibido no Brasil, muitas pessoas conseguem ter acesso. Ele é tão viciante quanto o tradicional?
Da mesma forma que o cigarro comum surgiu tempos atrás com a ideia de glamour, uma ideia de modernidade , atualmente, o cigarro eletrônico vem com a mesma promessa e está longe de ser livre de malefícios. Em 2019 observou – se nos EUA uma franca epidemia do uso de cigarros eletrônicos. Eles foram amplamente difundidos, utilizados, sobretudo, na população mais jovem e muitas dessas pessoas acabaram procurando centros médicos com sintomas de tosse, dispneia, falta de ar e sintomas gastrointestinais. Foi observado então que esses sintomas estavam relacionados ao uso do cigarro eletrônico e isso ganhou o nome de uma nova doença, chamada de EVALI, que é o termo em inglês abreviado para Injúria Pulmonar associada ao Uso do Cigarro Eletrônico. Muitos indivíduos que apresentaram lesão pulmonar mais extensas, acabaram necessitando de cuidados intensivos e muitos vindo a óbito. Há relatos já no Brasil de EVALI.
Os cigarros eletrônicos ajudam quem deseja parar de fumar? Qual seria a forma mais adequada de largar o vício?
Os cigarros eletrônicos podem conter na sua essência nicotina, é muito frequente, e a nicotina causa dependência. Então, é importante ter em mente que muitos indivíduos acabam buscando no uso do cigarro eletrônico uma forma de saírem do uso do cigarro comum, mas esses indivíduos são dependentes do cigarro comum por conta da nicotina, então eles vão sentir necessidades de utilizar dispositivos com essência que possuam nicotina na sua composição, logo não vão se ver livres de fato do vício do tabagismo. Eles vão apenas trocar o dispositivo e muitas vezes vão passar a utilizar os dois produtos, o cigarro comum e o cigarro eletrônico.
O indivíduo que tem o interesse de parar de fumar deve, primeiramente, ter força de vontade para tal, desejar realmente cessar o hábito e procurar ajuda médica. Existem medicamentos eficazes no tratamento ao tabagismo, então recomendo que quem possui interesse em parar de fumar, busque um médico pneumologista, converse sobre o assunto e veja a melhor estratégia para o seu caso.