Inclusão
Foto: Thiago Gomes/Ascom Susipe
A Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) levou o projeto Conquistando a Liberdade ao município de Abaetetuba, no Baixo Tocantins. O evento ocorreu na Escola Estadual Cristo Redentor, nesta quarta-feira (20). Mais de 50 alunos na faixa etária de 13 a 15 anos receberam a ação dos 15 internos do Centro de Recuperação Regional de Abaetetuba. O projeto é coordenado pela Susipe em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJE).
O titular da Susipe, André Cunha, também participou do evento, com a presença do juiz da 3ª Comarca de Abaetetuba, Deomar Barroso, do juiz do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Eduardo Fagundes e do secretário de Educação do município, Helder Daniel. Foi a primeira vez que o projeto recebeu uma avaliação do CNJ.
“Viemos conhecer de perto como funciona o projeto que, além de ressocializar detentos, reforma prédios públicos e instrui estudantes de escolas públicas. É, sem dúvida, uma oportunidade de aproximar o preso da sociedade, para que ele participe desse processo de ressocialização. O formato é interessante e mostra que esse indivíduo vai retornar à sociedade melhor. Além de revitalizar os ambientes escolares com a manutenção predial, o projeto fomenta a ideia nesses adolescentes de que a criminalidade não compensa”, frisou o juiz Eduardo Fagundes.
Para o secretário de Educação do município, Helder Daniel, o projeto é fundamental para a comunidade escolar. “Precisamos dessa troca de experiência e andar de mãos dadas com os órgãos parceiros, o que possibilita para esses adolescentes uma oportunidade de melhorias no ambiente escolar. O projeto provoca uma reflexão tanto nos alunos quanto nos detentos", frisou.
Idealizado pelo juiz Deomar Barroso, o Conquistando a Liberdade visa preparar o preso para o retorno à sociedade após a conclusão da pena. Nas escolas, eles contam suas histórias de vida, no Papo di Rocha. “Os internos se sentem úteis falando sobre a realidade dolorida da prisão e buscam se empenhar nos projetos. Aquele que participa tem poucas chances de reincidir no crime. Nos alunos, os depoimentos provocam a reflexão sobre situações futuras, servindo como um conselho bem realista sobre o mundo da criminalidade", explicou o juiz.
Exemplos – Para o coordenador do projeto, Ercio Teixeira, a conversa é uma ferramenta pedagógica de prevenção. "É por meio desses exemplos que podemos evitar a entrada destes jovens no mundo do crime. O Papo di Rocha mostra o dia a dia desses presos e o choque de viver no cárcere. Essa troca de experiências tem um efeito pedagógico em muitos adolescentes, que refletem a partir dos relatos", assegurou.
No bate-papo com os alunos, os internos deixaram claro que o crime não compensa e que o melhor caminho é manter a dignidade e eliminar o preconceito em relação à condição de preso. Aos 25 anos e há dois anos preso, Valdir Gomes vê no “Conquistando a Liberdade” uma oportunidade de mudar. "A cadeia é um processo dolorido. Perdi tudo e agora estou tendo minha segunda chance. Com esse comprometimento na educação e no trabalho, quero sair ressocializado e dizer que a vida digna é a melhor opção que um homem pode tomar", afirmou.
A estudante Heloísa Santos participou da programação e aprovou a ideia. “É uma iniciativa fundamental para os alunos da nossa idade, além de ser uma oportunidade de melhorar a nossa escola. É possível aproveitar a troca da experiência com o ambiente carcerário e saber a realidade desses presos", disse.
O “Conquistando a Liberdade” não oferece remuneração. O preso recebe o benefício da remição de um dia da pena a cada três participações, direito garantindo pela Lei de Execuções Penais. Todos os internos que participam passam por uma avaliação psicossocial e treinamento. O projeto, que já chegou a 18 municípios, é reconhecido pelo CNJ como referência no país na área de reinserção social de presos. O “Conquistando a Liberdade” foi um dos 18 projetos premiados entre os mais de 460 inscritos no Prêmio Innovare.