Oportunidade
Foto: Thiago Gomes/Ascom Susipe
Risoneide Pereira, de 54 anos, é uma das integrantes da Cooperativa de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe). A detenta estava muito emocionada de poder participar da Feira do Artesanato Mundial (FAM) e III Feira Estadual do Artesanato paraense (Fesarte), mostrando o trabalho desenvolvido dentro do presídio. “Estão sendo dias incríveis, eu nunca imaginei na minha vida que eu pudesse estar em uma feira de artesanato tão importante. Todas as integrantes da cooperativa estão muito empolgadas com essa oportunidade e com a certeza de que aqui podemos divulgar nosso trabalho. É bom ver que as pessoas gostam do que estamos produzindo”, disse a também presidente da cooperativa.
É no estande do Programa de Articulação e Cidadania, do Governo do Estado, que estão expostos os produtos da Coostafe. Durante o final de semana, o público visitou o local e pode ver acessórios como chinelos, bonecas de pano, panos de prato, tapetes, além de novidades como os puffs feitos com pneus, luminárias e almofadas de crochê.
Tudo foi desenvolvido com a ajuda do designer Roberto Dellunder, que faz um trabalho voluntário com as detentas. “Há um mês e meio conheci a cooperativa e me apaixonei pelo trabalho desenvolvido por essas mulheres. Ofereci minha experiência para ajudar a agregar valor ao que elas já fazem. Todas ficaram surpresas quando viram o resultado. O que ajuda a melhorar a auto estima dessas mulheres. A feira vai trazer bons frutos, com certeza”, falou o designer.
Resultados esses que já começaram a aparecer, o dono de uma loja de objetos de decoração ficou encantado com o que viu e se interessou em ter os produtos da cooperativa na própria loja. “O material é muito comercial, além de ser uma iniciativa muito interessante, afinal a gente tem que fazer nosso trabalho social. Eu já tinha ouvido falar desse projeto, mas nunca tive acesso e aqui na feira pude ter a oportunidade de pegar um contato, e quem sabe, fechar uma parceria”, contou o arquiteto.
Projeto
A cooperativa surgiu quando a direção da unidade percebeu que havia uma grande quantidade de mão de obra feminina ociosa. Com base nas habilidades de cada uma, as detentas foram chamadas a ministrar cursos para outras mulheres. O sucesso da iniciativa deu origem à formação da Coostafe. “Elas estão na criação de novos produtos, aperfeiçoando alguns que já produziam e acompanhando a evolução do trabalho delas. Resultado dos projetos de ressocialização que desenvolvemos na Susipe”, explica a diretora do Centro de Recuperação Feminino, Carmem Botelho.
“Eu visitei a cooperativa na penitenciária feminina e achei a iniciativa muito boa. Esperamos que elas voltem para a sociedade melhor do que entraram. Ver as próprias detentas na feira, mostrando as produções que fazem e à sociedade que querem uma nova oportunidade”, disse o coordenador do Mutirão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no Pará, Eduardo Fagundes; que fez questão de visitar a feira.
A Cooperativa de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe) é a primeira do Brasil formada exclusivamente por detentas. O registro foi feito há pouco mais de um mês na Junta Comercial do Estado (Jucepa). A iniciativa da Susipe conta com 32 cooperadas. O Centro de Recuperação Feminino abriga pouco mais de 500 presas.
O superintendente da Susipe também visitou o espaço e disse que o trabalho delas a cada exposição está ganhando mais qualidade e diversidade de produtos. “Essa é sem dúvida a melhor exposição que elas já fizeram. Até o final da feira teremos uma boa comercialização dos produtos, além de contatos para futuras parcerias. Estou muito otimista. É um grande avanço da cooperativa que é a primeira do Brasil formada exclusivamente por pessoas presas”, disse André Cunha.
A Feira
Também estão à mostra na FAM e Fesarte produtos da Fábrica Esperança e plantas ornamentais de diversas variedades, tamanhos e cores, cuidadas por detentos e egressos do sistema penal que passaram pelo projeto Cultivando Flores e Vidas, que integra o programa Articulação e Cidadania, em parceria com a Susipe e Emater. Os egressos são capacitados em um espaço na Central de Abastecimento do Pará (Ceasa), que também é parceira do projeto.
Com o tema “Do tradicional ao contemporâneo: o artesanato está no dia a dia”, a expectativa da Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego e Renda (Seter), organizadora do evento e coordenadora do artesanato no Estado, é que 85 mil visitantes passem pelo Hangar nos nove dias da programação. Ao todo, 1.200 artesãos de 60 municípios de 20 estados brasileiros, apoiados pelo Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), e outros 23 países terão a sua produção cultural exposta na Feira. O volume de vendas esperado gira em torno de R$ 882 mil.
Além de uma vasta programação com desfiles, danças e música, haverá palestras, degustações, brinquedoteca e oficinas abertas ao público. O evento valoriza a geração de emprego e renda, e a cultura local, e promove uma maior participação dos municípios na comercialização entre os Estados e o exterior, fomentando novos negócios.
O Pará possui 3.200 artesãos cadastrados no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab), vinculado ao Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), da Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República. Do total de Artesãos Cadastrados, 22% são homens e 78%, mulheres. Desses, 61% possuem renda familiar abaixo de um salário mínimo; 33% possuem renda de 1 a 3 salários mínimos, e para 6% a renda familiar está acima de 3 salários mínimos.
Serviço:
A III Feira do Artesanato Paraense e a Feira do Artesanato Mundial (FAM), organizada pela Secretaria de Trabalho Emprego e Renda (Seter) e pela Charp Eventos, está sendo realizada até o dia 31 de agosto, no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém. As feiras estão abertas para o público a partir das 15h até as 22h, com entrada a R$ 6,00 e R$ 3,00 a meia-entrada.