Morador de Santo Antônio do Tauá, a 56 quilômetros de Belém, o egresso Rômulo Nascimento acorda todos os dias ainda de madrugada para chegar às 8 da manhã na sede da Associação Polo Produtivo Pará - Fábrica Esperança onde trabalha com serigrafia. Depois de quase 10 anos preso, há cinco ele decidiu mudar. “Depois da morte do meu pai eu percebi que não podia continuar na criminalidade. Ele sempre foi um exemplo e nunca deixou faltar nada em casa. Se eu pudesse voltaria aos meus 18 anos e não cometeria os mesmos erros, mas como não posso, quero fazer o melhor no presente e garantir um bom futuro para meus quatro filhos”, diz o serigrafista.
Rômulo foi contratado na Fábrica Esperança em 2009 e como todos que chegam na Associação começou como auxiliar de serviços gerais. Foi limpando as telas da serigrafia que se interessou por aprender a profissão e logo foi contratado no setor onde, hoje, é instrutor. E ele está sempre disposto a aprender. Já fez curso de computação, auxiliar de cozinha, atendimento ao cliente e agora se dedica ao curso de mecânica de motos, que faz todas as tardes na sede do Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai), em Belém.
“Eu não quero ficar a vida toda aqui. Quero crescer e ter meu próprio negócio. Esse curso de mecânica de motos é mais uma oportunidade que apareceu na minha vida e ao qual estou me dedicando muito. A vida me ensinou muitas coisas e uma delas é que aprender nunca é demais”, contou.
Atualmente, 28 egressos fazem cursos de qualificação visando uma promoção dentro da Associação. “Aqui todos começam como auxiliar de serviços gerais e podem, aos poucos, crescer dentro dos setores de acordo com o desempenho que apresentam. Esse sistema de promoção que desenvolvemos estimula os ex-detentos a buscarem melhores cargos e salários. E isso só acontece se eles estudarem e adquirirem conhecimento que vão servir para o resto da vida”, explica a socióloga Josiane Cardoso, que trabalha no local desde a fundação da Fábrica Esperança.
No setor de serigrafia, localizado no último andar do prédio, trabalham dez egressos, que chegam a produzir até duas mil peças por dia - entre lençóis e jalecos hospitalares, além de uniformes como os usados pelos socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). O último pedido que está em produção são as camisas do Círio da Polícia Civil deste ano. “Aqui trabalhamos com muita dedicação para que as peças fiquem bem feitas e sejam elogiadas por quem as vê”, contou o egresso Carlos Avelino, de 60 anos que trabalha há pouco mais de um ano com serigrafia.
Outro setor em que os ex-internos atuam é na panificação. No local são produzidos mais de 2.300 lanches todos os dias. São pizzas, esfirras, salgadinhos e uma variedade de pães que alimentam principalmente crianças e adolescentes atendidos pelo Pro Paz, além de eventos do Corpo de Bombeiros, Segup, Casa Civil da Governadoria, além de pedidos da própria comunidade.
O gerente do setor garante que os produtos são de excelente qualidade. “Os ingredientes que usamos são os melhores do mercado. O trigo, queijo e presunto são de primeira e toda a produção é acompanhada de perto por uma nutricionista para garantir a qualidade”, conta o gerente, informando que os pedidos também podem ser feitos por meio do departamento comercial da Fábrica, com os melhores preços do mercado.
Reinaldo dos Santos, de 30 anos, é um dos 11 egressos que trabalham na padaria. Antes de ser preso ele teve vários empregos com carteira assinada. “Nunca quis essa vida de crimes pra mim, mas fui pego e sempre tive consciência de que tinha que pagar pelo que fiz de errado. A minha experiência com o trabalho ajudou a conseguir essa vaga aqui na Fábrica. Hoje, eu tenho um sonho de ter minha casa própria e tudo graças à oportunidade que tive e à minha família, que nunca me abandonou”, revela o egresso.
O Núcleo de Reinserção Social da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) está fazendo sua parte e investindo na educação dos detentos e na geração de postos de empregos. “Este ano conseguimos mais de 4 mil vagas para capacitação profissional dos detentos, através do Pronatec. Atualmente, temos mais de 20 convênios que ofertam vagas de trabalho para presos do regime semiaberto, além do incentivo à educação formal", explica o superintendente da Susipe, André Cunha.
Cerca de 12% da população carcerária do Pará está em atividade escolar e a meta é que esse percentual chegue a 16%, até o final de 2014. A média nacional é de 9,34%. "Todas as novas unidades que estão em construção no Estado possuem salas de aula, ou seja, a educação será mais uma ferramenta que estará incorporada à reinserção social de forma prioritária”, conclui o titular.
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