Tradição








Foto: Eliseu Dias/Ag. Pará
A maior e mais variada feira de brinquedos de miriti de Abaetetuba, denominada "Girândolas de Abaeté no Círio de Nazaré", estará aberta até a meia noite deste domingo, 12, na Praça D. Pedro II, bairro da Cidade Velha, em Belém. Organizada pela Associação de Artesãos de Brinquedos de Miriti de Abaetetuba (ASAMAB), a feira reúne trabalhos artesanais de cerca de 250 profissionais e oferece 45 mil peças com temas variados.
Rivaildo Peixoto, presidente da Asamab, explica que a movimentação financeira com a comercialização de produtos deve chegar a R$ 500 mil. “Cada artesão vende entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. Considerando que estamos com 60 estandes, com muitos girandeiros comercializando dentro da feira, e que muitos itens produzidos para o evento foram vendidos ainda em Abaetetuba, estimamos chegar a meio milhão em vendas”, afirma Rivaildo.
A abertura oficial da tradicional Feira do Miriti aconteceu na última quinta-feira, 09, após uma missa celebrada na Catedral de Belém pelo pároco de Abaetetuba, Padre Carlos Silva. A celebração foi a maneira que os artesãos de Abaetetuba encontraram para homenagear Nossa Senhora de Nazaré e o Círio, que tem nos brinquedos de miriti um dos seus símbolos mais tradicionais.
A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Maria Dorotéa de Lima, participou da abertura do evento e falou da importância dessa expressão cultural associada ao Círio.“O Iphan aproveita o ensejo, em que o Círio é reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro, para apoiar esta iniciativa, que está atrelada às tradições do Círio."
O Iphan apoia o trabalho dos artesãos de miriti de Abaetetuba assegurando a salvaguarda dessa arte, promovendo oficinas profissionalizantes às famílias artesãs, e trabalhando pelo reconhecimento público da atividade e identificação de algumas fragilidades.
A prefeita de Abaetetuba, Francinete Carvalho, participou da feira e ressaltou que, em sua gestão, todas as iniciativas voltadas ao reconhecimento do miriti como um produto promocional e de retorno econômico ao município são prioritárias.
Estruturada pela empresa MS Produções e Eventos, Prefeitura de Abaetetuba e Iphan, a Feira de Artesanato de Miriti de Abaetetuba conta com apoio do Governo do Estado, por intermédio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater). “Nosso projeto contempla um universo de temáticas, como a preservação ambiental, geração de emprego e renda, fortalecimento do associativismo, resgate cultural, além da difusão da cultura amazônica", destacou Geovanny Farache, técnico da Empresa.
Sustentabilidade e beleza – A Feira de Artesanato de Miriti, alem de garantir ampla comercialização e divulgação do trabalho dos artistas de Abaetetuba, também garante a preservação de 800 hectares de miritizeiros e essências florestais, beneficiando 700 trabalhadores e suas famílias em 38 comunidades rurais.
Mas também harmoniza o artesão com os consumidores. O administrador de empresas Emerson Coe, além de comprar alguns itens, elogiou a estrutura da feira. “É um evento tradicional, mas este ano a gente percebe que está com uma estrutura melhor. Gostei da proposta e os produtos mostram a habilidade desses artistas do povo”, comentou.
Essa habilidade também foi motivo de elogios da psicóloga Lena Mousinho. “Círio e miriti têm tudo a ver. Se falta, fico com sensação de implenitude. Todo ano compro, levo para decorar a casa, os espaços no trabalho e fico imaginando o artesão esculpindo pacientemente, preparando cada peça”, destacou Lena, para quem o artesanato de miriti traduz alegria e transmite a boa energia do artista.
Se os consumidores aprovam, as famílias que vivem do artesanato, agradecem. “É o caso de Dona Maria de Fátima, 62 anos, e do esposo, Antônio Rodrigues, de 63. “Trabalhamos desde os cinco anos de idade, estamos casados há 32 e criamos nossos 10 filhos com os frutos do artesanato de miriti”, relatou Fátima, muito contente com a movimentação da feira e o retorno das vendas.
Amadeu Gonçalves de Sarges, 56, anos trabalha há 32 com o artesanato. Em média, ele e outros seis familiares produzem de 300 a 400 peças por mês, o que garante um acréscimo de 70% na renda familiar. "Tudo o que tenho na vida, o sustento dos meus filhos e a minha casa, eu consegui com o dinheiro do trabalho de artesanato com miriti", diz Amadeu. Para o artesão, a criação da Associação foi fundamental para a expansão do segmento. "Antes, cada um trabalhava isolado e conseguíamos avançar muito pouco. Depois da criação da ASAMAB nos fortalecemos e conseguimos parcerias importantes, como a da Emater, que sempre nos ajudou muito", conta.
Já para Gilda maria dos Santos Brandão, 60 anos, o trabalho artesanal significou uma mudança de vida. Há 10 anos ela se dedicava somente aos afazeres de casa, quando passou a acompanhar a filha, que cursava Turismo, em comunidades ribeirinhas de Abaetetuba, para o Trabalho de Conclusão de Curso. "Via como as pessoas trabalhavam o processo e me interessei. A partir daí, munida apenas de vontade própria, passei a produzir biojóias a partir da casca e da semente do miriti", conta a artesã, que com este trabalho também ajuda outras famílias que lhe fornecem matéria-prima como tecidos, resina e o próprio fruto. Atualmente, Gilda tem uma renda mensal de R$ 700 e, em feiras como a do Miriti, em Belém, chega a comercializar até R$ 2 mil em produtos.
Segundo o assitente administrativo da Emater, Adalberto Bandeira Pinheiro, a avaliação do evento tem sido positiva entre os artesãos. "Essa é mais uma oportunidade de mostrar ao público esse rico trabalho. A expectativa é comercializar a maior parte dos produtos em exposição", ressalta.
Serviço: A Feira de Artesanato de Brinquedo de Miriti de Abaetetuba abre diariamente às 7 horas e permanecerá até a meia noite deste domingo, na Praça D. Pedro II, bairro da Cidade Velha. Mais informações: (91) 8202-3823 / 9123-3811, com Rivaildo Peixoto (presidente da Asamab).
(Com colaboração de Paula Portilho - Ascom Emater)