Arte-romaria







Foto: Cristino Martins/Ag. Pará
Auto do Círio: 20 anos unindo fé e arte pelas ruas da Cidade Velha
Manifestação artística levou 440 artistas ao cortejo com teatro, música e carnaval, a partir da dramaturgia em movimento e homenageando “Maria de Todas As Artes”. Organização deste ano contou com apoio intensivo da Polícia Militar e se destacou como a edição mais tranquila de todos os anos.
Entre as muitas homenagens destinadas à Padroeira dos Paraenses, o Auto do Círio é uma das manifestações mais genuínas da cultura local. A tradição que transforma a devoção em beleza cênica e criando uma nova concepção de romaria completa 20 anos reunindo diversos segmentos artísticos da cidade.
Organizado pela Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUfpa), o Auto do Círio integra o conjunto de manifestações que compõem a extensa programação do Círio de Nazaré e é aguardado anualmente por turistas e romeiros nas ruas onde nasceu a cidade de Belém, no bairro da Cidade Velha.
A mãe de santo do Tambor de Minas, Sônia Maria, veio de São Luiz (MA) para o Círio de Nazaré, e disse que não esperava ver um espetáculo tão bonito e cheio de cores. “Não sabia que era tão diversificado e bonito, a Mãe de todos nós está mesmo representada aqui", acrescentou a turista, que veio em caravana com mais 10 seguidores de sua religião.
Cadenciada pela bateria da Escola de Samba Quem São Eles, a manifestação do Auto do Círio tem no carnaval uma das suas marcas principais. O samba está presente nas músicas, figurinos e adereços, incluindo pequenos carros alegóricos.
Dividida em estações, a procissão deste ano teve três paradas específicas, melhorando o fluxo da apresentação e da organização. Na comemoração destes 20 anos, o Auto colocou nas ruas seu idealizador - Miguel Santa Brígida - representando o deus pagão da mitologia grega Dionísio, ou Baco para os romanos, que diante da Igreja da Sé, declamou seu pedido:"Nós somos aqueles com vícios e virtudes e que vêm pedir a autorização para falar da Virgem", declamou, emocionado.
Com 440 artistas em cena, a principal parada do desfile foi em frente ao Solar do Barão de Guajará, sede do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, onde foram realizadas apresentações de carimbó e marujada e a coroação de Nossa Senhora, a aguardada “subida da santa”.
A jornalista Andréa Cunha participou da encenação pela primeira vez como atriz e foi a responsável pelo momento de elevação da imagem com os balões. “É uma sensação indescritível. Eu nunca me senti tão feliz, tão integrada. É uma emoção muito forte”, relatou após o espetáculo.
Para a diretora da Escola de Teatro e Dança, Waldete Brito, a principal característica do Auto do Círio é a força que ele adquiriu ao longo dos anos e especialmente a possibilidade das diversas linguagens artísticas homenagearem Nossa Senhora de Nazaré. “O Auto do Círio é uma manifestação de fé, de amor e de arte que ultrapassou um projeto de extensão iniciado 20 anos atrás e alcançou essa manifestação artística que hoje é esse teatro de rua, essa dramaturgia em movimento”, explica a diretora.
Segundo a organização do evento, cerca de duas mil pessoas seguiram a procissão do Auto do Círio, acompanhadas de perto pela Polícia Militar, que ajudou a organizar o cortejo, evitando furtos e roubos. “Não tenho dúvidas de que esta foi a edição mais organizada do Auto. Ainda não tinha visto a PM tão perto como hoje e a procissão tão tranquila como estou vendo agora”, disse o produtor audiovisual Paulo Afonso Martins.
O encerramento do Auto do Círio culminou com a apoteose musical em frente ao Palácio Lauro Sodré e Museu Histórico do Estado do Pará, onde se apresentou a banda Álibi de Orfeu, a cantora Alba Maria (que já havia aberto a procissão), a cantora Gaby Amarantos e o músico Dominguinhos do Estácio, que encerrou a romaria com o tradicional samba-enredo “Festa de Nossa de Nazaré”, garantindo, como diz a letra, que o mês de outubro "são dias de alegria e muita fé".