Círio 2014






Foto: Thiago Gomes/Ascom Susipe
A Trasladação, segunda romaria mais esperada do Círio de Nazaré, marcou um momento especial na vida de 20 internos custodiados pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe). Todos eles integram o Grupo Timbres, que se apresentou durante a passagem da berlinda de Nossa Senhora de Nazaré na Estação das Docas.
Acostumados a cantar para o público em outras oportunidades, os homens e mulheres que integram o coral se emocionaram nesta noite. Entre as mulheres estava Manuela Bermeguy, há cerca de um ano e meio custodiada no Centro de Recuperação Feminino (CRF). Durante a passagem de som, ela avistou seu filho em meio aos fiéis que aguardavam a passagem da santa. “Nem imaginava poder ver o meu filho. Ele sempre acompanha a procissão com a avó, mas vim pra cá sem nenhuma esperança de encontrar ninguém. Hoje ele faz aniversário e foi um presente para ele e pra mim. Poder cantar com ele na plateia me deixou ainda mais emocionada”, contou Manuela.
A maestrina do coral, Deolinda Gonçalves, revelou que a apresentação na Trasladação era esperada ansiosamente pelos internos. “Nós começamos os ensaios para esse dia há três meses. Desde então eles estão eufóricos. É muito gratificante poder vê-los aqui”, disse.
A expectativa da apresentação pôde ser sentida até mesmo fora dos ensaios segundo a diretora do CRF, Carmem Botelho. “Eles viveram uma mistura de ansiedade e felicidade. Todos se sentiram honrados em estar aqui. É maravilhoso poder ver isso acontecer. Eles estão aqui, se apresentando no maior evento da igreja católica no Brasil, perante essa multidão, e isso não tem palavra que descreva”.
Com o repertório composto com músicas como “Vós sois o lírio mimoso” e “Jesus Cristo”, o coral dividiu o palco com a soprano Patrícia Oliveira e com as cantoras Liah Soares, Nanna Reis, Núbia de Freitas e banda Agnus.
Mesmo os fieis que acompanhavam a procissão na corda se deixaram embalar ao ritmo das canções apresentadas e seguiram com a fé renovada pelo restante do percurso até a Catedral da Sé.
Com a missão de executar um solo especial durante a música “Ave Maria”, o interno Josimar Oliveira se sentiu agradecido. Evangélico, ele fez questão de se manter no Grupo e estar presente nesta noite especial. “Foi tudo ótimo. É uma emoção estar aqui, independente de religião. Cantar a paz e o amor é a maior prova de que estamos aqui em grande culto ecumênico”, revelou o interno.
Para o titular da Susipe, André Cunha, o momento foi de consagração. “De todas, essa foi a apresentação de maior dimensão do Grupo. Hoje é a apoteose desses internos. Eles estão aqui como músicos, encarando a música como profissão, e isso é ressocialização”, afirmou.
O grupo Timbres é um projeto social da Susipe, que conta com o apoio do Programa Articulação e Cidadania, da Casa Civil da Governadoria do Estado, e consiste na reinserção de internos através do canto e da música. O projeto tem como objetivo a capacitação técnica na música, com aulas de canto.