Devoção Mariana
O musicista Paulo José Campos de Melo é um dos paraenses e funcionários públicos do Estado que tem papel fundamental no Círio de Nazaré. Ele é o organista oficial da Catedral Metropolitana de Belém desde 1996. Sob sua responsabilidade, está um instrumento muito especial e marcante da festa nazarena, que é tocado na chegada da imagem peregrina à Sé (na Trasladação), e na saída para o Círio com destino à Praça Santuário, já no domingo.
“É um trabalho bastante árduo por conta dos horários, que são imprevisíveis. A gente nunca tem ideia de quando chega a procissão aqui e nós temos que estar, necessáriamente, no domingo, às 4 horas da manhã, para a passagem de som da missa, que começa às cinco. Então, é um período bastante trabalhoso mas, ao mesmo tempo um dos mais felizes da nossa vida. Quando dizem que o Círio é o Natal dos paraenses eu acredito que tem tudo a ver: natividade, maternidade... somos produto de um matriarcado. Então homenagear esta mulher, Maria, no segundo domingo de outubro é um dos momentos mais belos da nossa rica cultura do Pará”, explica.
A preparação do artista para Círio começa bem antes, mas já no início de outubro tudo se torna mais intenso. “Desde pequenininho a gente convive com essa tradição. Então pra mim, a época, de um modo geral é muito especial. Muda o cheiro, muda o comportamento das pessoas, a gente começa a sentir, aqui na Cidade Velha especialmente, uma mudança radical. As pessoas ficam mais dóceis, mais sociáveis, mais solidárias. Sou católico e devoto de Nossa Senhora porque ela representa essa figura materna. É a maternidade na religião, é a figura da mãe na igreja. Pra mim a mãe é a figura do despojamento e da entrega total. Ela não faz questão de título, nada. Ela é a mãe, ela cuida. Então, eu acho que a tradição do Círio é um momento muito, muito especial em nossa história”, fala.
O artista utiliza, para homenagear Maria, um verdadeiro tesouro histórico de nosso estado, o órgão Cavaillé-Coll. Considerado o “rei dos instrumentos”, teve sua primeira audição no dia 9 de setembro de 1882 e funcionou durante quase 70 anos. Comprado por D. Antônio de Macêdo Costa, o grande órgão ficou parado por 45 anos e ameaçava desabar.
Em 1995, iniciou-se uma forte campanha em Belém para garantir a sua restauração, que foi realizada na França, por sugestão do então organista da Catedral de Notre Dame, de Paris. Em 14 de junho de 1996, foi reinaugurado na festa do Sagrado Coração de Jesus. O órgão da Sé de Belém tem este nome em homenagem ao seu artista construtor e, continua sendo o maior Cavaillé-Coll da América Latina.