Reinserção





Foto: Thiago Gomes/Ascom Susipe
Na manhã desta quinta-feira (30), internos da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) participaram da 8ª edição do projeto Conquistando a Liberdade, em Belém, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Maria Luiza Costa Rego, no bairro do Bengui. Onze detentos do regime semiaberto da Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (Cpasi) fizeram a limpeza e manutenção da escola.
Além da roçagem e capina em volta do prédio da instituição de ensino, os detentos aterraram um córrego aberto na frente da escola. Foi a segunda vez que o detento Jefferson Matos, 26 anos, participou do projeto. “Tenho a chance de mostrar que mudei depois de cometer um crime e ser preso. Dentro do cárcere aprendi que devemos aproveitar todas as oportunidades oferecidas. Semana que vem começo uma nova etapa na minha vida, com a vaga de emprego que consegui em uma fábrica”, contou o interno, que participou de cursos e concluiu o ensino médio quando cumpria pena no regime fechado no Presídio Estadual Metropolitano I (PEM I), em Marituba.
O Conquistando a Liberdade atua diretamente na linha de prevenção e, humanizando o retorno do preso ao convívio social com a redução da pena. O preso recebe o benefício da remição de um dia da pena a cada três dias trabalhados, um direito previsto na Lei de Execução Penal. Todos os internos que participam passam por avaliação psicossocial e treinamento.
O “Papo di Rocha”, que faz parte do projeto, é uma forma de relato pessoal das experiências dos presos passadas, em depoimentos, para os alunos da escola. Num bate-papo, os presos falam sobre a vida na criminalidade e relatam as experiências de quem está no cárcere, sempre servindo como contraexemplo e alertando os estudantes sobre os perigos do crime.
No Bengui, quase três mil alunos serão beneficiados com as melhorias na instituição pública de ensino. A diretora da escola, Angela Pantoja, contou que outras escolas do bairro já tinham recebido o projeto. Por meio do Pro Paz, ela fez um ofício para a Susipe solicitando a parceria, que além de melhorar a estrutura do local, também ajuda a prevenir a entrada dos jovens na criminalidade. “O cárcere faz parte da vida dessas crianças e adolescentes, pois muitos têm pais, parentes ou vizinhos que estão ou já foram presos. Além de ajudar na ressocialização desses detentos, mostramos para os nossos alunos o destino de quem comete crimes”, explicou.
Terra Firme – Cerca de 70 alunos da Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, no bairro da Terra Firme, em Belém, também participaram, na quarta-feira (29), do Papo di Rocha. O coordenador do projeto, Ércio Teixeira, diz que as ações trouxeram bons resultados. “Mais de 500 alunos já tiveram a oportunidade de conhecer essa realidade. É uma conversa franca, que mobiliza muitos desses alunos a não praticarem o crime e nem entrarem no mundo das drogas. Nossa alegria é poder ver o projeto crescer e saber que, ano que vem, a primeira ação será em um município do interior”, afirmou.
A diretora da escola, Benedita da Silva, apoiou a iniciativa. “Toda experiência é válida, e a realidade desses internos é uma forma de conscientizar nossos alunos a não se envolverem com a criminalidade. O que buscamos por meios dessas parcerias é gerar diálogo dentro de casa e na escola. Levar informações para pais e filhos, e aproximá-los, sem dúvida, gera bons resultados”, frisou.
Virgilio Marcio está há 17 anos preso. Hoje, ele cumpre pena no regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciário de Belém (CPPB). No Papo di Rocha, ele contou aos jovens sobre a dura realidade de que vive no cárcere. “Há 30 anos, eu estudava nessa escola, e entrei para o mundo do crime por influência de colegas. Quero que vocês respeitem e saibam da importância do diálogo com os pais, a procurar ajuda, ao fortalecimento do vinculo familiar, e a não andar com más companhias”, aconselhou.
O projeto Conquistando a Liberdade é promovido pela Susipe em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado (TJE), Ministério Público, Defensoria Pública, Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Pro Paz e Polícia Militar. O projeto foi um dos 18 premiados entre os mais de 460 inscritos no Prêmio Innovare 2013. O prêmio, destinado a iniciativas inovadoras para a Justiça no Brasil, torna a iniciativa paraense referência nacional na reinserção social de detentos.
O projeto é desenvolvido em escolas da rede pública estadual de ensino, onde os detentos fazem serviços de limpeza, poda de árvores, reparos nas redes elétricas e hidráulicas e consertos de cadeiras e mesas. Participam do projeto detentos dos regimes fechado e semiaberto.