Saúde
Foto: ASCOM HCGV
“Evita Brasileira”. Esse é o nome da primeira peça montada integralmente por uma paciente da Psiquiatria da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV). Isabel da Silva escreveu, dirigiu, escolheu personagens, trilha sonora e todos os detalhes do espetáculo, que foi apresentado nesta sexta-feira (21), no hospital.
A peça é uma forma de protesto, uma crítica social escrita por uma pessoa indignada com a situação do país, mas que ainda tem esperança em dias melhores. "A ideia da peça surgiu quando eu assisti à atriz Evita Perón, por isso o nome da peça é 'Evita Brasileira'. Ela era uma atriz e líder política argentina, uma mulher forte e revolucionária. Eu me inspirei e quis mostrar o sofrimento pelo qual os brasileiros passam, os preconceitos, os sonhos, as realizações. O Brasil deve deixar de ser um país apenas de vitrine. Todos os brasileiros têm direitos", explicou Isabel.
A paciente disse ainda que seu objetivo é mostrar que o Brasil é um país de primeiro mundo, com espaço para todos, e que ninguém deve ser excluído por raça, gênero ou religião. O espetáculo foi montado em menos de um mês. Isabel compartilhou a ideia com a equipe da Psiquiatria, que desde o primeiro momento deu todo o apoio e incentivo.
Isabel é reconhecida como uma pessoa com forte tendência para as artes, e dotada de um forte senso critico. Essas qualidades sempre foram valorizadas pelos profissionais da Psiquiatria, que aceitaram participar da peça. Fazem parte do elenco mais quatro pacientes do hospital (todos escolhidos pela própria autora da peça), além de funcionários da instituição, residentes e estagiários.
"Quando usamos da arte para construir a autonomia deles, eles se reconstroem enquanto sujeitos no mundo. O estado em que se encontram, dentro de um hospital, é um ambiente totalmente desprovido de autonomia, então a arte vem como possibilidade de ter e criar novos meios de vida. Mesmo em um ambiente que não tem voz, essa é uma forma deles se expressarem", diz a terapeuta ocupacional e residente da FHCGV Adriane Leite.
Adriane ainda destaca a importância de ver uma paciente montando uma peça com total autonomia, sem precisar da ajuda da equipe que trabalha na Psiquiatria. "Quando vemos um paciente montando uma peça, isso torna real o objetivo do nosso trabalho, que é fazer com que eles conquistem coisas novas na vida. É extremamente gratificante! Além disso, ver que ela, a Isabel, nos insere nesse contexto, pede nossas opiniões, pede que a gente participe com ela, torna tudo muito mais especial", afirma.
Todos os instrumentos usados na peça são confeccionados pelos pacientes, em oficinas feitas com eles durante vários momentos do ano. O processo de produção até o dia da atuação promove um sentimento de incentivo para os outros pacientes, que se sentem motivados a fazer o mesmo que Isabel.
"A peça ajuda a melhorar todo mundo. Ela mostra que podemos nos reintegrar à sociedade. Mostra que somos capazes de trabalhar, criar, evoluir. Aqui no hospital só temos duas opções: ou saímos felizes com o sucesso pela cura, pela reintegração, ou tristes, com a infelicidade da morte. Nesse meio, temos a arte, a música, jogos. Fico feliz que, mesmo sem tantos recursos, tenhamos conseguido fazer essa peça acontecer", explica a paciente.
A equipe do Hospital de Clínicas também afirma que a atuação e a criação geram novas formas de socialização do paciente com o mundo, dando de volta a eles o sentimento de cidadania, de pessoas pertencentes a esse mundo, e tudo isso através da arte, que lhes devolve a voz, a liberdade de expressão e a socialização.