Assistência
Foto: Carlos Sodré /Ag. Pa
A jovem V. S., de 17 anos e moradora do município de Senador José Porfírio, no sudoeste paraense, mostra interesse e desenvoltura na confecção de embalagens e cartões com temas natalinos. Ela aprende o artesanato nas oficinas pedagógicas do Espaço Acolher, um local de amparo provisório, em Belém, para pessoas que sofreram escalpelamento pelo eixo descoberto de embarcações nos rios da Amazônia. Val sofreu o acidente aos 11 anos, e desde então vem para a capital, de tempos em tempos, para fazer parte do acompanhamento médico e escolar contínuo.
“Logo no começo, quando sofri o acidente, não queria fazer nada disso. Fiquei quase dois anos sem estudar, sem querer fazer nada, até que comecei a estudar aqui e tem sido ótimo. Nessa oficina de Natal já deu para aprender bastante, coisa que eu nunca sabia, aprendi aqui. Isso é muito bacana!”, diz a adolescente, com um tímido sorriso no rosto.
Na Classe Hospital da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), com o apoio do Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP), são trabalhadas as atividades interdisciplinares e por áreas de conhecimento ao longo de todo o ano. Desde o início deste mês há o direcionamento voltado para o Natal. No dia 11 de dezembro ocorrerá a festividade de encerramento de 2014, com o tema “Natal no mundo: Natal de todo mundo”.
“Para a culminância dessas atividades, nos meses de novembro e dezembro, estamos fazendo uma série de atividades para parte da escolarização, envolvendo toda a festividade do Natal. As crianças, adolescentes e adultos vão trabalhar todos os conteúdos curriculares do Natal, voltados para a festividade em todo mundo. Trabalhamos textos, formação de poesias, músicas e, no fim, a dramatização em cima das atividades que trabalhamos ao longo desses dois meses”, explica a professora e uma das coordenadoras, Gilda Martins Saldanha.
Segundo a outra coordenadora do projeto natalino, a professora Denise Soares da Mota, o trabalho multidisciplinar consegue ao longo do tempo transformar a realidade das pessoas atendidas.
“Aqui elas recebem todo o atendimento psicológico, social e educação também. Algumas precisam vir de seus municípios para fazer procedimentos longos, como a colocação de expansores, cirurgias plásticas, e aí entra o nosso trabalho. São meses, anos com uma equipe de pedagogas, professores, assistente social, psicólogos, terapeutas acompanhando essa conquista do paciente pouco a pouco. É um acidente muito agressivo, com um tratamento para o resto da vida. Aos poucos elas vão retomando a vida de uma outra maneira”, diz.
O trabalho de voluntário também é bastante apreciado e transformador no Espaço Acolher. O professor universitário Diego Magalhães ajuda o local há oito meses, especialmente nas atividades lúdicas do núcleo. Neste ano, ele participa do Auto de Natal, que será no dia 11 de dezembro. “Desde que comecei o trabalho voluntário aqui, mudei o modo de encara a vida. Em meio a tantas dificuldades do nosso dia a dia, percebemos que este é um drama que essas meninas vão carregar para o resto da vida. Então, a partir disso, a gente começa a repensar nossa caminhada, vira um incentivo para nós, que muitas vezes com mazelas muito menores, ficamos desestimulados”, relata.