Cessão
A Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves recebeu, em sessão solene realizada no dia 5 de dezembro, a família do escritor Ildefonso Guimarães para oficializar a doação das obras da biblioteca particular do escritor paraense, que a partir de 2015 passam a compor o acervo do setor de obras raras da Biblioteca Pública Arthur Vianna. A coleção doada inclui 2.608 livros, entre os quais 480 autografados por seus autores com dedicatória para o escritor paraense.
O filho mais velho do homenageado, Ildefonso Junior, fala com emoção sobre a decisão da família em compartilhar tão rico acervo: "Eu tive que segurar as pontas, pois a emoção era muito grande. Este é um patrimônio que sempre foi muito querido por mim e meus irmãos (Heloísa Helena e Nelson Guimarães). Meu pai foi um leitor compulsivo que viu sua biblioteca crescer aos poucos - ele não dispunha de muitos recursos quando jovem - e que nos últimos anos de sua vida se preocupava muito com o que seria dela. Hoje, confiamos a guarda da coleção à esta Fundação na certeza de que nosso pai permanecerá vivo nela e que esses livros servirão ainda por muitos anos à causa do saber".
Diversos escritores paraenses foram convidados para a solenidade e manifestaram sua satisfação pessoal em vivenciar este momento. "Conheci pessoalmente e convivi com Ildefonso por muito tempo. Quando cheguei à Academia Paraense de Letras ele já estava lá. Foi lendo suas obras que aprendi a tecer o texto que gosto de fazer. Este ato é muito significativo, falar dele é falar de todos nós, escritores paraenses. Parabéns também pelo selo Ildefonso, publicado pela Fundação Tancredo Neves", declarou o escritor Salomão Larêdo.
Algumas das obras mais raras da coleção foram admiradas por quem esteve na entrega, algumas com autógrafos e dedicatórias de Dalcídio Jurandir, Bruno de Menezes e Mário Quintana. "Eu estou tão emocionada! Ao ver esses livros recordei a última conversa que tive com meu pai, ele sentado em sua cadeira, me dizendo que seu sonho era deixá-los em um lugar assim. E hoje ver o sonho dele realizado... nossa! A vida dele era esses livros. Desde o primeiro salário que recebeu foi para comprar livros", conta a caçula da família, Heloísa Helena.
Para o presidente da FCPTN, Nilson Chaves, a cessão feita pelos familiares de Ildefonso Guimarães representa uma grande honra para o setor cultural do Estado. "Esta doação reforça a missão primordial da Fundação Tancredo Neves, que é trazer poetas e escritores para constituírem o já rico acervo público que temos, fazendo do Centur um lar permanente para os escritores. Podem estar certos de que cuidaremos deste legado com extremo cuidado e carinho".
Sobre o escritor
Ildefonso Guimarães nasceu no dia 23 de janeiro de 1919, em Santarém, mas foi criado no município de Óbidos, cidade que foi o grande objeto de amor e inspiração para a arte desenvolvida pelo escritor. Ele completou os estudos até o quinto ano primário e, após os 18 anos entrou para o exército.
O autor foi um verdadeiro autodidata, tendo aprendido Espanhol e Francês longe das salas de aula. A língua espanhola, por exemplo, aprendeu quando foi deslocado para trabalhar na fronteira do Brasil com a Colômbia, na cidade de Tabatinga. Na época, começava a trabalhar com a radiotelegrafia dentro do Exército, deixando para trás a área da infantaria. Já o Francês, Ildefonso aprendeu com uma amiga francófona, em Óbidos, por meio de algumas indicações de leitura. Pouco tempo depois, já lia as grandes obras da literatura francesa e escrevia no idioma.
A habilidade nata com as letras garantiu a atuação de Guimarães no ramo do Jornalismo, durante quase 30 anos, escrevendo para impressos como a “A Província do Pará”. Foi graças a uma reportagem escrita sobre o Japão que o autor foi convidado pelo cônsul jaónês à época a passar um mês naquele país. O escritor foi eleito para a Academia Paraense de Letras e publicou vários livros como ‘’Histórias sobre o Vulgar’’, ‘’Senda Bruta’’ e ‘’Os Dias Recurvos e Coisas da Maçonaria’’. Venceu ainda vários concursos literários nacionais.
Faleceu em 2004, aos 85 anos, deixando como herança a perseverança e a humildade como forma de alcançar objetivos. Hoje, Ildefonso Guimarães dá nome ao Selo Literário da Fundação Tancredo Neves que publica obras inéditas e republica obras clássicas de autores paraenses.