Educação
Foto: Thiago Gomes/Ascom Susipe
Mais de 33 mil presos participaram do primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para Pessoas Privadas de Liberdade 2014 em todo o Brasil. No Pará, 749 detentos fizeram o exame. O número de candidatos faltosos foi considerado baixo. Nas 34 unidades prisionais da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) participantes, apenas 118 candidatos faltaram, o que representa 15% do total de inscritos. No ano passado, esse índice foi de 46%. O nível da prova foi considerado alto.
“No Pará este é o quinto ano consecutivo que os detentos custodiados pela Susipe participam do Enem PPL. A cada ano temos um número maior de inscritos. Em 2013 foram 649, mas ainda esbarramos em problemas com a documentação da população carcerária para aumentar o número de participações. Não há regalias, o nível de conhecimento é o mesmo. Felizmente, tudo transcorreu dentro da normalidade”, disse a gerente da Divisão de Educação Prisional da Susipe, Aline Mesquita.
Na Região Metropolitana de Belém (RMB), a unidade prisional com o maior número de inscritos foi o Centro de Recuperação Penitenciário Pará I (CRPP I), localizado no Complexo Penitenciário de Santa Izabel, com 72 candidatos. Já no interior, o Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura (CRASHM), em Santarém, foi o que teve o maior número de inscrições, com 42 candidatos.
No primeiro dia do Enem PPL, foram aplicadas provas de Ciências Humanas e suas Tecnologias e de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Para os candidatos custodiados pela Susipe, as questões de química foram as mais difíceis.
“Quem teve tempo de se preparar o ano todo fez uma boa prova. Eu já concluí o ensino médio e hoje sou ouvinte em uma escola pública de Belém. As questões de química foram bem difíceis. Apesar de não ter me preparado tão bem como outros candidatos estou confiante. Este ano, tento uma vaga para o curso de nutrição. Vamos esperar o resultado”, disse o reeducando Fabrício dos Santos Silva, custodiado no Centro de Progressão Penitenciária de Belém (CPPB).
No Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), 39 candidatos se inscreveram e apenas nove não compareceram no primeiro dia de provas. O detento Januário Palheta foi o primeiro a terminar a prova na unidade prisional, e apesar da dificuldade também em química está confiante no resultado. “A prova exigiu bastante dos candidatos este ano. As questões foram mais bem elaboradas e contextualizadas, o que exigiu um pouco mais de atenção. Química foi um pouco mais complicado. Gostei bastante da parte sobre meio ambiente. Estou confiante na redação. Leio bastante e espero fazer uma boa prova”, garantiu o interno Januário Palheta, custodiado no CRC, que tenta uma vaga para o curso de Teologia.
Com a pontuação do Enem PPL, os detentos podem se candidatar a uma vaga na universidade, através do Programa Universidade para Todos (Prouni), e também podem usar o resultado da prova para obter a certificação do ensino médio. Para isso são necessários 500 pontos na redação e 450 nas demais disciplinas. O reeducando Rosinaldo Antonio Ratis está cursando a 2ª etapa da Educação para Jovens e Adultos em uma escola pública de Belém e quer garantir a conclusão do ensino médio com a nota do Enem PPL. Ele quer se candidatar a uma vaga no curso de engenharia.
“É a primeira vez que faço a prova do Enem. Estou desde 2001 sem estudar. Não foi fácil. Se eu tivesse me dedicado mais aos estudos teria feito uma prova melhor, mas acredito que fiz uma boa prova. Espero ficar na média. Os meus pais não são mais vivos, a minha mãe queria que eu fizesse direito e o meu pai, engenharia. Ainda estou indeciso nesses dois cursos. Quem sabe eu consiga entrar este ano na faculdade e realizar o sonho deles de ter um filho com diploma”, afirmou o interno Rosinaldo Antonio Ratis, também custodiado no CPPB.
O acesso à educação para detentos do sistema penitenciário brasileiro é assegurado pela Lei de Execuções Penais do país. Além de garantir uma vaga na universidade com a pontuação obtida no Enem PPL ou conseguir o certificado do ensino médio, o interno que participa do exame tem outra vantagem, que é a remição da pena. Na Recomendação nº 44, aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o apenado que obtiver aprovação no Enem PPL terá 800 horas de remição da pena, o equivalente a 133 dias.
“Agora a expectativa é quanto ao tema da redação. Este ano tivemos o Pró Enem, um cursinho intensivo com 55 dias de aula, em algumas unidades prisionais com aulas focadas na escrita. Estamos melhorando os resultados a cada ano. Precisamos de qualidade e continuidade da educação no sistema penitenciário. Nosso nível de ensino superior ainda é pequeno, mas estamos trabalhando para aumentar e temos certeza que conseguiremos uma boa média nacional este ano”, frisou Aline Mesquita.
Nesta quarta-feira (10), no segundo e último dia do exame, detentos de todo o país farão provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e Matemática, com duração de cinco horas e 30 minutos. As provas terão inicio às 13h, pelo horário de Brasília. Meia hora antes do inicio do exame, os internos serão encaminhados para as salas, na própria unidade prisional que estão custodiados, onde farão as provas.