Cultura

XXXI Fimupa termina mostrando a importância do ensino musical no estado

A estreia mundial da cantata “Icamiabas” e a execução da primeira sinfonia de Mahler marcaram o concerto de encerramento do XXXI Festival Internacional de Música do Pará (Fimupa), no domingo à noite, no Theatro da Paz. A música, de autoria do compositor João Gulherme Ripper, buscou inspiração num poema de João de Jesus Paes Loureiro sobre as guerreiras do Amazonas que formavam uma tribo exclusivamente feminina.

“Icamiabas” foi interpretada pela soprano portuguesa Carla Caramujo, pelo violoncelista norte-americano Jed Barahal e pelas cordas da Orquestra Sinfônica do XXXI Fimupa, com regência do maestro Tobias Volkmann. Após a execução da música, o compositor e escritor foram chamados ao palco e saudados pelo público.

Paes Loureiro se emocionou ao falar sobre o resultado de ver seu poema musicado. “Ouvir pela primeira vez as Icamiabas e a música do Ripper foi muito emocionante. O resultado que o Ripper conseguiu com seu talento e sua criatividade excepcional foi de primeira linha. Ao irmanar poesia e música, ele fez com que o poema adquirisse uma forma cênica musical inesperada e de grande força e brilhantismo. Espero um dia ter esse trabalho gravado para ouvir toda vez que tiver vontade”.

Para os músicos, foi uma grande experiência. “Vale a experiência de você estrear uma obra mundialmente. Fica para o resto da vida no seu currículo”, disse a regente Maria Antonia Jimenez, responsável pela preparação do coro feminino do Festival.

Com mais de 80 músicos no palco, a Orquestra do XXXI Fimupa reuniu grandes instrumentistas brasileiros e de várias partes do mundo, como o italiano Alberto Bocino, os portugueses do Toy Ensemble e os brasileiros do Quinteto Villa-Lobos, Radamés Gnattali e Quinteto Porto Alegre, além de estudantes e professores do Instituto Estadual Carlos Gomes.

Além das orquestras e bandas, o festival também teve um dia dedicado às óperas. Foram encenadas as montagens “Domitila”, de João Guilherme Ripper, e o “Doido e a Morte”, do compositor português Alexandre Delgado. As montagens encantaram crianças como a Camila, de 9 anos, que estuda violoncelo e integra o Coro Itacy Silva, do IECG. “Eu achei muito bacana, engraçada e muito bonita. Espero um dia participar de um espetáculo como esse”, sonha a jovem musicista.

O Festival também destacou o trabalho feito na Academia com a realização do I Simpósio de Musicologia do IECG, que reuniu grandes nomes da pesquisa em música e promoveu o lançamento de livros da professora russa Svetlana Boukchtaber.

“Ela foi responsável pela inauguração do bacharelado em música no IECG. Graças à professora Svetalana nós entendemos que a formação acadêmica é tudo e graças a isso fomos cristalizando os festivais, onde a qualidade artística é consequência do trabalho acadêmico. O produto final, que o público vê no palco, é resultado das oficinas, dos cursos, simpósios e masterclass”, destacou Paulo José Campos de Melo, superintendente da FCG.

Com forte tradição de bandas, o festival mais uma vez destacou esse trabalho, com a participação de jovens que integram bandas sinfônicas do interior e vieram a Belém para assistir e também tocar nos concertos. Alguns viajaram 27 horas para chegar à capital e se apresentar no Theatro da Paz. Foi o caso da Orquestra Filarmônica de Santarém e da Banda Municipal José Agostinho, que encantaram o público ao apresentar tanto o repertório erudito como os ritmos paraenses, como o carimbó. “A viagem foi muito cansativa, mas subir nesse palco foi muito emocionante. É uma coisa muito especial para nós todos”, contou Katrine Maia, de 21 anos, que toca viola na orquestra de Santarém.

Sessenta e oito músicos do município, que fica no oeste do Pará, tocaram pela primeira vez no Festival. “São mais de cinco décadas preservando a cultura de Santarém com apresentações contínuas na nossa cidade. Para nós foi uma honra, foi a realização de um sonho. Foi um evento fantástico, destacou Adisson Wender, diretor das sinfônicas”.

A professora Tirza Moraes, da escola de música Daniel Nascimento, em Paragominas, levou seus alunos para assistir ao concerto da Banda Sinfônica do XXXI Festival, que este ano foi conduzido pelo maestro norte americano Darrel Brown. “A escola de música tem uma relação longa com a Fundação Carlos Gomes, a prefeitura cedeu o ônibus e graças a isso nós viemos prestigiar os nossos alunos que estão tocando”.

Com o tema “Amazônia, música para o mundo entre guerreiras e Titans”, o XXI Fimupa homenageou mestres da música erudita e destacou a música brasileira contemporânea com recitais, concertos e shows que reuniram grandes talentos nacionais, como a cantora Monica Salmaso e o maestro Nelson Ayres. “O Brasil não tem essa tradição de coisas que se mantém, desse nível, que traz músicos do mundo inteiro. Isso é o Brasil que a gente gosta e fazer parte disso é uma experiência muito emocionante, principalmente com uma orquestra jovem, com uma molecada a fim de fazer. Então, é muito gostoso fazer música brasileira num festival tão brasileiro como esse aqui”, destacou Ayres durante a apresentação da Orquestra Popular do XXXI Fimupa no Theatro da Paz.

Para a maioria dos artistas que estiveram em Belém durante uma semana, foi uma grande emoção subir ao palco do Theatro da Paz. “É um dos teatros mais lindos que já vi na vida e toda vez que tenho a possibilidade de vir aqui a felicidade é total. Muito obrigada”, agradeceu a cantora Mônica Salmaso, que fez duas apresentações na capital.


Tags

carlos gomes cultura