Mulheres de Barro

Rejeitos de minérios incrementam peças artesanais de qualidade, beleza e alta rentabilidade no Pará

As peças têm excelente aceitação de mercado pela beleza do designer contemporâneo, preço acessível e, sobretudo, pela natureza da ideia alinhada ao comportamento da preservação ambiental.

A Cooperativa dos Artesãos da Região de Carajás Mulheres de Barro, da cidade de Parauapebas, situada ao Sul do Pará, desde 2017, aproveita o rejeito da  mineração do ferro, manganês e cobtd, na fabricação de peças de  artesanato.

As artesãs fabricam artefatos decorativos de cerâmica inspirados  em peças arqueológicas da região. 

Com preço acessível, por terem a pegada da preservação ambiental, as peças têm boa aceitação. O apelo ambiental está na reutilização do rejeito da mineração. Geralmente tóxico, o material é usado  após o adequado tratamento, para eliminação de substâncias nocivas. Só então a matéria prima  ganha outra utilidade nas mãos criativas das "Mulheres de Barro", como são conhecidas as artesãss. O trabalho da cooperativa é tambem também uma resposta à inquietante questão ambiental da reutilização dos rejeitos da mineração, diante de eventos catastróficos, como  os rompimentos das barragense de  Brumadinho e Mariana.

O geólogo Oscar Pimenta, que atua na assistência a e trabalhadores da mineralização, percorrendo regiões de garimpos do Estado e comunidades vizinhas a grandes projetos de mineração, como o de Carajás e garimpos de rio Tapajós, no Baixo Amazonas, diz que sempre foi difícil lidar com esses rejeitos, já que não existe uma fórmula pronta para apresentar como resposta a um volume cada vez maior de efluentes resultante dos  processos da mineração.

As "Mulheres de Barro" apostar na inovação de reutilização dos rejeitos de minério. O caminho não foi fácil. Segundo a vice-presidente da cooperativa, Socorro Carneiro, o grupo formado por doze pessoas já trabalhava com artesanato de barro, quando nasceu a ideia de usar também o rejeito da mineração do  ferro, manganês e cobre como matéria-prima.

Passados dez anos, nos dois últimos desenvolvendo a técnica e estudando gestão e educação patrimonial, as artesãs chegaram ao ponto: produção em média escala de peças de decoraçãeca e bijuterias femininas (pingentes e colares).

A produção das peças exige trabalho demorado, com etapas da concepção dos desenhos, montagem das peças e queima em fornos de alta temperatura. “É demorado o processo, mas o resultado é muito bom”, conta a artesã Socorro Carneiro.  

A cooperativa tem o apoio da mineradora Vale, que abriu as portas para a qualificação do grupo de cooperadas, ajudando também na captação de recursos. “Nosso projeto foi apoiado pela Lei Rounet, considerando que se trata de uma  atividade de produção de artesanato sustentável;  atualmente, estamos viajando pelo Brasil e pelo exterior levando nosso trabalho”, conta orgulhosa.

Em Belém, as peças foram vistas pelo público que foi à  I Feira das Cooperativas do Pará, realizada na Estação das Docas, entre 24 a 26 de abril. O evento gerou mais de R$ 2 milhões em negócios e foi aprovado por mais de 70% do público presente, conforme pesquisa de pós-evento realizada pela Federação Nacional das Cooperativas (Fencoop), organizadora da Feira.

 As cerâmicas de rejeito de minério são únicas e têm preços entre R$15 a R$ 250. Os clientes interessados podem  encomendar as peças pela internet no site da Cooperativa (www.mulheresdebarro.com.br), onde há um catálogo de produtos.  

Além de Belém, as artesãs de Parauapebas já fez exposições em São Paulo, Rio de Janeiro e na Jordânia.

Texto – Selma Amaral
Fotos: Getúlio Barbosa


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