Agora vai!




Foto: Embratur
Um evento simples, ao mesmo tempo solene e descontraído, realizado no início da noite de uma chuvosa segunda-feira, no pequeno (mas impecável) auditório do Centro de Cultura e Turismo do Sesc Ver-o-Peso, poderia passar despercebido. Poderia, se naquele belo prédio do século XVII, que traz à tona o glorioso passado de Belém, não estivesse sendo dado um salto para o futuro do Pará. “A criação do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da Fecomércio do Pará é um momento histórico”, sublinhou Sebastião de Oliveira Campos, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado, que abriga o conselho e promoveu o encontro.
Histórico, repleto de significados e cheio de surpresas. A primeira delas ocorreu no prelúdio do evento, quando a Orquestra Jovem da Fundação Carlos Gomes apresentou uma versão clássica para um hit popular, e genuinamente paraense, a canção “No meio do pitiú”, de Dona Onete.
Entre o carimbó do começo e o Hino do Pará cantado no fim da cerimônia, os discursos dos convidados que compunham a mesa e a apresentação dos componentes do conselho, também reservaram surpresas.
“A presença da Abrajet (Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo) em um conselho deste porte é inédita”, festejou a presidete da associação, Christina Hayne. “É a prova de que o trade reconhece a comunicação como uma ferramenta eficaz não apenas na divulgação, como também no debate e na construção de caminhos para o desenvolvimento do turismo no Pará”, acrescentou.
Também provocou impacto a clara determinação do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da Fecomércio-PA, expressa pelo presidente Joy Colares, de assumir o protagonismo do setor no Estado, criando um ambiente positivo para o relacionamento entre os diversos atores dos muitos segmentos da chamada “indústria sem chaminé”.
O setor empresarial avoca o protagonismo exatamente no momento em que o setor público aparentemente recua, com a extinção da Secretaria de Estado de Turismo e da Paratur. “Uma longa transição que logo apresentará resultados práticos”, segundo André Dias, secretário-adjunto de Turismo, pasta agora vinculada à Secretaria de Desenvolvimento e que prepara um novo planejamento para o setor, ainda guardado a sete-chaves.
Os novos planos tanto do governo quanto do empresariado pretendem afastar o risco de estagnação. Em menos de dez anos, dobrou o número de turistas que vieram ao Pará: de 585 mil visitantes em 2008 para 1 milhão em 2016, média repetida em 2017 e 2018, com uma queda quase imperceptível no ano passado.
Não é um número desprezível, mas poderia ser melhor. O Pará ainda enfrenta problemas para acolher os visitantes, que vão das dificuldades de infraestrutura em regiões mais distantes, aos hiatos de vagas nos voos comerciais, para citar apenas duas teias de uma rede de valores e serviços que compõem as expectativas dos turistas.
Mesmo assim, o Estado permanece promissor, cabendo agora ao trade, ao assumir o protagonismo, criar mecanismos, propor alternativas e cobrar de todas as esferas de governo as soluções mais apropriadas ao impulso que se deseja obter para uma atividade transversal que impacta mais de 60 segmentos econômicos e é responsável por 10% do PIB mundial.
CALEIDOSCÓPIO - Alguns dos apelos mais importantes para a atração de visitantes do Brasil e de todo o mundo estão reunidos no Pará, como se o imenso território de mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados fosse um verdadeiro caleidoscópio da Amazônia.
O Pará, segundo a Organização dos Estados Americanos (OEA), é dono de 49% das atrações naturais da Amazônia, com riquezas naturais e culturais imensuráveis, diversidade de atrações e pontos turísticos e a reconhecida hospitalidade, tipicamente paraense.
Além disso, todos os segmentos do turismo estão representados em terras locais, com destaque para os turismos ecológico, de massa, de negócios, rural, religioso e de convivência.
“O Pará tem tudo para transformar este potencial em realidade, ajudando o Brasil a tornar-se um destino competitivo e sustentável”, frisou Alexandre Sampaio, representante do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do Comércio.
Coube a ele, no discurso mais longo da noite, tocar em feridas que estarão à mesa dos debates do conselho agora criado, tais como o déficit de oferta de espaço aéreo mais amplo, o custo Brasil, a reforma institucional de secretarias e empresas de turismo para transformá-las em agências de fomento, a ampliação do turismo social com adoção de estratégias que promovam a inclusão do trabalhador menor remunerado no circuito de viagens, entre outras.
Mas a grande provocação, também surpreendente nessa noite simples mas cheia de significados, foi o desafio feito pelo representante do CNC ao recém-criado Conselho da Fecomércio, após destacar o potencial paraense no segmento de maior tendência no mundo, que é o turismo de experiência:
“Espero que em breve tenhamos o prazer de apoiar a realização de um evento, em Belém, para debater o turismo no próximo milênio a partir da Amazônia”.
Pode ser um bom começo para os conselheiros reacenderem o orgulho dos paraenses pela terra de rios gigantes, ricas florestas e encantos vibrantes cantados no hino do Pará.