Meio ambiente

Foto: Hydro Alunorte
A Alunorte, produtora de alumina em Barcarena, e o Instituto Senai de Inovação em Tecnologias Minerais (ISI-TM) vão começar a elaborar um estudo do aproveitamento de resíduo da bauxita resultante da produção de alumina.
Na tarde desta quinta-feira (16), a empresa e o instituto assinaram um convênio que garante investimento de R$ 6,5 milhões, em quatro anos, na execução de pesquisas com o objetivo de reduzir o impacto ambiental provocado pelos resíduos do refinamento da bauxita. A empresa pretende extrair o óxido de ferro contido no material descartado pela Alunorte no Depósito de Resído Sólido (DRS1), que utiliza um processo mais moderno (Ffiltro Prensa) de redução do volume de água dos rejeitos; desenvolver um produto a ser usado pela agricultura para correção da acidez do solo; e criar uma matéria prima para a indústria do cimento.
Veja o vídeo do Filtro Prensa da Alunorte:
As informações sobre o projeto foram divulgadas em coletiva de imprensa, na Feira da Indústria, que acontece no Hangar – Centro de Convenções da Amazônia desde a quarta-feira. No estande da Hydro, proprietária da Alunorte e da Albras, executivos da empresa e dirigentes do Sistema Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará) fizeram uma breve explanação do projeto e assinaram o documento do convênio.
O rejeito resultante do refinamento da bauxita, para extração da alumina (matéria-prima de larga aplicação nos mais diversos campos da indústria, notadamente na fabricação do alumínio) é um dos problemas ambientais mais graves provocados pela indústria químico-mineral em todo o mundo.
No Pará, essa questão tornou-se emblemática para a sociedade, governo e Justiça, depois da ameaça de transbordamento de um depósito de rejeito da Alunorte em Barcarena, em fevereiro de 2018, provocado por chuva excessiva na região no dia 17 de fevereiro. A Alunorte nega que tenha ocorrido vazamento ou transbordo dos depósitos de resíduos de bauxita após as fortes chuvas de fevereiro de 2018. Segundo a assessoria da empresa, mais de 90 inspeções de órgãos governamentais, incluído o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Defesa Civil e Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Barcarena confirmaram que as instalações da empresa se mantiveram íntegras mesmo após as chuvas extremas de 2018.
Hoje, em todo o planeta, existe um estoque calculado em três bilhões de toneladas de rejeitos de bauxita. A produção anual de rejeito de bauxita é estimada em 150 milhões de toneladas, e somente 3% desse volume são reaproveitados. Técnicos do setor admitem que é uma taxa ainda muito baixa.
Mudar esse cenário é o objetivo do convênio assinado em evento que contou também com a participação do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), José Conrado. “Temos que investir em pesquisa, inovação e novas tecnologias para extrair nossas riquezas gerando emprego com responsabilidade”, disse Conrado.
O objetivo geral do convênio é contribuir com a meta global de sustentabilidade do setor da mineração, que prevê aproveitamento de 20% de rejeitos até 2025, de acordo com o Instituto Internacional do Alumínio.
A empresa deseja tornar a Alunorte, maior refinaria do mundo fora da China, uma referência global em aproveitamento de resíduo de bauxita, informa Raphael Costa, diretor de Tecnologia da Área de Bauxita & Alumina da Hydro.
“Os resultados das pesquisas podem ajudar nas soluções de um dos desafios mais importantes da indústria da mineração e metais, que é a diminuição da pegada ambiental por meio da redução das áreas de depósito de resíduo”, afirmou Carlos Neves, diretor de Operações da Área de Bauxita & Alumina da Hydro.
O projeto começou a ser desenvolvido em 2016. A empresa não vincula o estágio atual ao episódio de fevereiro de 2018 em Barcarena, mas Carlos Neves não nega que a questão perpassa pelo Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que a empresa assinou com o Ministério Público Federal, ano passado, para equacionar os problemas causados pelo vazamento.
Conforme termos do convênio, o Instituto vai desenvolver um projeto piloto para estudar as diversas possibilidades de reaproveitamento dos resíduos da Alunorte. Com a capacidade total de produção, a refinaria gera, anualmente, 4,7 milhões de toneladas de rejeito de bauxita – informa a Assessoria de Comunicação da empresa.
Estima-se que o rejeito acumulado atualmente em Barcarena contenha 30% de dióxido de ferro. O aproveitamento desse mineral é um dos objetos dos estudos que o instituto vai fazer nos próximos quatro anos.
A Hydro pretende, com essa iniciativa, liderar os esforços mundiais de equacionamento do contencioso ambiental que a mineração em geral provoca, e que se estende, no caso da alumina, ao setor químico.
A parceria com o ISI-TM prevê desde a caracterização física, química e mineralógica do resíduo de bauxita, até a elaboração de plano conceitual e projeto executivo para implementação de uma planta-piloto na empresa.
Para Adriano Lucheta, diretor do Instituto Senai de Inovação em Tecnologias Minerais, é o momento de quebrar os antigos paradigmas e considerar os resíduos produzidos pela cadeia mineral como matérias-primas para outras cadeias produtivas, agregando valor e aliviando a pressão sobre o meio ambiente. “Somente por meio do investimento em inovação, conseguiremos aplicar os conceitos de Economia Circular na mineração e a Alunorte está sendo a pioneira no Brasil. Estamos confiantes de que também será uma incentivadora para que outras indústrias extrativistas se insiram neste novo contexto”, disse. A contrapartida financeira do Instituto no convênio é de R$1,5 milhões.
Para que os resultados do projeto possam surtir efeitos concretos no futuro, a empresa deverá superar barreiras da concorrência de outros produtos; contar com regulamentação governamental do uso de rejeitos da mineração; obter a aprovação da opinião pública.
Além do aproveitamento do minério de ferro contido nos rejeitos, outro foco importante será a fabricação de um produto para uso da agricultura na correção do solo; somente no entorno de Barcarena há 200 mil hectares de áreas agrícolas com potencial para a aplicação de corretivo da acidez do solo.
Operando desde 1995, a Alunorte produz atualmente 6,3 milhões de toneladas de alumina por ano; além da Albras, a refinaria instalada em Barcarena, abastece fábricas de alumínio em todo o mundo.
Tanto a Alunorte quanto o ISI-TM contam com equipes de profissionais com larga experiência em pesquisa sobre rejeito de bauxita. Os estudos previstos no convênio serão realizados nos laboratórios do Senai, em Belém.