Facada no professor
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Poucos dias após a publicação exclusiva, pela REDEPARÁ, dos números preocupantes de violências nas escolas, novo caso assusta a sociedade local: uma tentativa de homicídio dentro de sala de aula. O ataque ao professor de português, identificado como Nuno André da Silva Nunes, na escola municipal Doutor Benedito Maia, localizada no conjunto Abelardo Conduru, bairro do Coqueiro, em Ananindeua, foi sintomático.
Ele foi esfaqueado na noite de quinta-feira (13) e levado às pressas para o Hospital Metropolitano, teve ferimentos no lado esquerdo do rosto, no braço direito e no peito. Mais uma vez se comprova que as ocorrências policiais no interior das instituições de ensino não podem mais ser tratadas como casos isolados.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública, ao informar apenas os casos considerados mais graves, classificados em 21 categorias, confirma a ocorrência em 2017 e 2018 de dois latrocínios, três homicídios, 14 tentativas de homicídio, 533 casos de lesão corporal, 850 ameaças, 14 envolvimentos com armas brancas ou de fogo, 113 estupros e outros 58 crimes sexuais, 982 roubos ou tentativas, 22 casos envolvendo tráfico, posse ou uso de drogas. Em 2019, de janeiro a abril, foram 87 casos de violência por mês, em média. O erquivalente a três registros policiais por dia nas escolas paraenses.
A violência é muito assídua nas escolas de todo o país. Dados da Prova Brasil indicam que um terço dos professores foi agredido verbalmente por alunos, um em cada dez sofreu ameaças e um a cada 50 apanhou de estudantes. O Sindicato de Professores de São Paulo colheu depoimentos revelando que 44% dos docentes foram agredidos e 84% presenciaram agressão verbal, bullying, vandalismo e agressão física.
Metade dos professores brasileiros já foi agredida em sala de aula, segundo a Unesco. Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação, 53% das escolas particulares e 65% das escolas públicas não fazem nada para evitar a violência no interior dos colégios.
O noticiário deste ano tem sido farto na publicação de casos de agressões físicas contra professores. As imagens do ataque em uma escola estadual de Carapicuíba ganharam horário nobre na TV brasileira. O Brasil é o líder mundial neste tipo de ocorrência, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Quase 13% dos professores ouvidos pela OCDE foram vítimas de agressões verbais ou intimidações de alunos.
A insegurança está minando os ânimos do professor, como mostram os resultados da pesquisa Profissão Docente, iniciativa do programa Todos pela Educação e do Itaú Social, com realização do Ibope Inteligência e a empresa de consultoria Conhecimento Social. Apenas 21% dos professores da educação básica no Brasil estão satisfeitos com a atividade docente, enquanto 33%, um terço deles, estão totalmente insatisfeitos. No município do Rio de Janeiro, por exemplo, um professor é licenciado a cada três horas por doenças ligadas ao estresse e à depressão.
“O tema de violência nas escolas é complexo e multifatorial. Poderíamos estender o debate a respeito das condições de risco e vulnerabilidade em que se encontram inúmeras escolas brasileiras. Analisar a fundo o impacto das condições familiares de alunos que apresentam comportamento violento, e refletir sobre os aspectos psicológicos relacionados à impulsividade e à regulação da raiva em adolescentes”, observa a psicóloga e pedagoga Ana Carolina C D'Agostini, mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University. “Mesmo assim, é inaceitável que a escola seja palco de violência contra o professor. Seja moral, pela intimidação desses profissionais, ou física, como lamentavelmente seguimos liderando rankings internacionais”.
Segundo o Estadão, os professores registram em média 3 boletins de ocorrência por dia, só em São Paulo, por conta de agressões feitas por alunos. São casos semelhantes ao do aluno e do professor da escola em Ananindeua. O professor está internado, fora de risco, mas com sequelas psicológicas para o resto da vida. O aluno foi encaminhado à Divisão de Atendimento ao Adolescente e deverá engrossar outra estatística preocupante, a dos 19 mil adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em meio fechado no Brasil.