Óvni na pista

O advogado, professor e escritor Paraguassú Éleres, 80 anos, é uma das poucas pessoas na Amazônia que reúne, atualmente, uma miríade de histórias e documentos sobre questões fundiárias, principalmente sobre a titularidade de pequenas e gigantescas propriedades - seja porque advoga sobre o assunto, seja por ter entrado em territórios quase lendários, ou por ter realizado trabalhos de demarcação de terras ao longo de quase seis décadas. E ainda por ter vivido situações inéditas, como avistar um objeto voador não identificado no extremo noroeste da Amazônia.
Autor de sete livros (um sobre teatro), nesta terça-feira, 18, ele lança mais uma obra - “Contrafortes do Eldorado – Expedição da Força Aérea Brasileira ao Parima, março de 1961, monitorado por óvni”. O livro reúne em 206 páginas relatos de quem esteve no “palco das operações”. São registros inéditos apoiados por excertos de relatórios oficiais enriquecidos por anotações únicas sobre a “Expedição Parima”, realizada no antigo Território Federal do Rio Branco, atual Estado do Roraima, em 1961, da qual ele próprio foi um dos integrantes.
O lançamento ocorre às 19h, na Casa das Artes (antigo IAP, Praça ao lado da Basílica de Nazaré), em Belém.
Ao final, o livro brinda o leitor com uma “última revelação”, a de um fato presenciado pelo autor, que por razões administrativas superiores e de segurança ele manteve em segredo por 58 anos.
FAB vai à região desconhecida do Brasil
O livro, a rigor, trata de duas importantes expedições realizadas na Amazônia na primeira e na segunda metades do século XX, em territórios que hoje são do Estado de Roraima. A primeira, em anos da década de 1920, foi comandada pelo médico Hamilton Rice, membro da American Geographical Society (USA), quando aquela área ainda integrava o território do Estado do Amazonas. O pretexto da missão foi estudar a geografia do lugar, sob os auspícios de uma instituição americana, sem qualquer autorização do governo brasileiro.
Rica em detalhes, a obra traz informações preciosas sobre a região do Norte do Brasil, pouco conhecida até os dias de hoje. Lançando mão de extraordinária memória e de fartas anotações, o autor faz questão de citar as pessoas que integraram a expedição: militares, enfermeiros, índios. A expedição aconteceu no início dos anos 1960, sob o comando do Coronel Aviador João Camarão Telles Ribeiro, militar da Força Aérea que se tornou quase lendário na Amazônia, tendo chefiado o I Comando Aéreo Regional, sediado em Belém.
Paraguassú Éleres tinha 22 anos de idade e era funcionário da 1ª Zona Aérea, como desenhista e estatístico. À época, fazia teatro amador em Belém. Sobre uma apresentação de atores paraenses, ele inclusive, em Brasília, após a inauguração da capital federal, publicou um artigo no jornal interno do I Comar; o Coronel Camarão leu e gostou, e assim o jovem ator e burocrata da Aeronáutica foi nomeado “escriba” da Expedição Parima.
O objetivo da expedição foi plotar o território e localizar áreas estratégicas onde a Força Aérea abriria campos de pouso, numa área da Amazônia até então pouco conhecida e povoada, fronteiriça a Venezuela, território habitado pela etnia Yanomami, onde já havia presença de missionários norte-americanos. A área explorada já era então Território Federal de Rio Branco.
Entre muitos registros, o autor publica detalhes inéditos sobre aquele território fronteiriço, ao Norte do Brasil, obtidos pela expedição, além de 27 fotos dos militares, aeronaves e índios. “Os pontos da floresta onde depois eram abertas pistas de pouso, eram bombardeadas com napalm, que queimava o capim, onde as equipes desciam para iniciar a construção”, lembra Paraguassú. Hoje, essa região é ocupada pelo 4º Pelotão de Fronteira do Surucucu, do Exército.
Óvni na cabeceira da pista
O escritor lembra que na véspera da esquadrilha decolar da base instalada perto do Rio Uraricuera, principal formador do Rio Branco, ele e um militar dormiram na pista, fora do acampamento; na madrugada, ele despertou e viu um objeto voador não identificado prateado. Era um óvni na forma de um charuto sobrevoando, cerca de 150 ou 200 metros, sobre a cabeceira da pista, que ficava do outro lado do rio, em frente a uma base da Missão de Evangelização Mundial, integrada por missionários norte-americanos. “Amanheci contando o que vi e disse que iria registrar no relatório, mas fui aconselhado a não fazer isso, pois seria aberto um inquérito e, sem provas, eu ainda acabaria sendo chamado de doido, desses que veem disco voador”, contou o autor com exclusividade para www.redepara.com.br.
O escritor guardou o segredo da sua visão de um óvni no extremo Norte do Brasil, durante 58 anos. “Só depois que o livro estava escrito é que revelei para a minha família. Nem minha mulher, nem meus filhos sabiam dessa história”.
O livro de Paraguassú Éleres a ser lançado neste dia 18, no antigo IAP, é uma dessas obras que atraem o leitor por causa de histórias como essa de óvni, mas têm o mérito de revelar acontecimentos fundamentais para a história contemporânea da Amazônia, que ele vive, ainda hoje, aos 80 anos de idade, comandando demarcação de terras.
Na região da Expedição Parima, cortada pelo Rio Banco, Paraguassú conheceu uma fazenda que era de propriedade da mãe da socióloga Violeta Refkalefsky Loureiro, ex-presidente do antigo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará (IDESP), convidada para escrever o prefácio da obra. Se a expedição tivesse ocorrido nos dias de hoje, talvez se dissesse o mesmo que a socióloga escreveu: que a região (ainda agora) é de “abandono, desproteção e desconhecimento pelo governo brasileiro e pela sociedade nacional”.
Do Marajó a Nigéria
Formado em agrimensura pela Escola Técnica Visconde de Souza Franco (atual escola estadual), Paraguassú Éleres formnou-se em Direito mais de 20 anos depois daquela viagem memorável. Como agrimensor, já percorreu doze mil quilômetros no território paraense, sendo três mil só no Marajó. Na Nigéria (África), topografou 25 cidades para projetos de telefonia de uma empresa brasileira. Seu currículo inclui ainda o cargo de ex-diretor técnico do Instituto de Terras do Pará (Iterpa), e o de primeiro chefe da Defensoria Pública do Estado. Entre uma missão de campo e uma imersão em mapas, plotagens, imagens de satélite e documentos de Sesmarias do Império, Paraguassú leciona Direito Agrário e questões fundiárias.
Se dos registros e documentos que preserva numa biblioteca admiravelmente organizada, ele resgata histórias incríveis e improváveis e trás a lume também acontecimentos fundamentais para o estudo da história contemporânea da Amazônia.
SERVIÇO
Lançamento do livro “Contrafortes do Eldorado...”
Data: 18 de março
Hora: 19h
Local: Casa das Artes (Praça Justo Chermont, 236, ao lado da Basílica de Nazaré).