Quadrilha inclusiva
Foto: Reprodução/Facebook
A iniciativa de uma professora da escola municipal de Mãe do Rio, município a quase 200 quilômetros de Belém, no nordeste paraense, tornou a quadra junina deste ano inesquecível para o aluno Pedro Ezequiel. Pedro é surdo e esse fato dificultaria a participação dele na quadrilha do colégio, não fosse a ajuda da professora Janaína Araújo. Para não deixar o menino de fora, ela aprendeu a Língua Brasileira de Sinais, ensaiou os passos com o estudante utilizando os códigos da Libras e os dois fizeram o maior sucesso na apresentação.
Comovida com o gesto da colega, a servidora Darlene Chaves de Jesus gravou um vídeo dos dois dançando e publicou em seu perfil no Facebook. Em poucos dias, o vídeo viralizou, com mais de 56 mil compartilhamentos, matérias em jornais e portais de notícias de Norte a Sul do País e centenas de visualizações em canais do Youtube.
O Brasil tem mais de 1 milhão de crianças com necessidades educacionais especiais, segundo o último Censo Escolar. Os alunos da educação básica com surdocegueira, deficiência auditiva ou surdez somam mais de 54,4 mil. Considerando apenas os estudantes com esse perfil matriculados em escolas públicas, 93% deles estão incluídos em turmas regulares. O desafio dos professores e pedagogos é justamente promover essa inclusão, que vai muito além da simples integração.
Daí a importância e a comoção provocadas pela jovem professora de Mãe do Rio, que usou com criatividade uma ferramenta pedagógica disponível, a Libras, valorizando o aluno de acordo com a sua especificidade, depois de identificar uma dificuldade e ajudá-lo a superá-la. Esta é a essência da inclusão, diferente da simples integração, que se refere à presença do aluno surdo, por exemplo, na mesma sala de aula em que estudam crianças sem necessidades educacionais especiais.
O ensino bilíngue de crianças surdas, em Português e na Língua Brasileira de Sinais ao mesmo tempo, tem sido difundido pelo Ministério da Educação, mas infelizmente não é uma realidade na maioria das escolas públicas brasileiras. Segundo o Censo 2010 do IBGE, existem no Brasil mais de 9 milhões de surdos de todas as idades.
No Exame Nacional do Ensino Médio de 2017, a redação pediu aos estudantes justamente uma reflexão sobre a educação dos surdos no País. Um dos efeitos provocados pelo debate acerca do tema após aquele Enem foi a publicação, neste ano, do Decreto nº 9.665/2019, que definiu as funções da Diretoria de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos. Um passo decisivo para melhorar a performance da inclusão nas escolas nacionais.