AÇÃO
Foto: Louriene Ataíde
Contribuir para a formação e o acolhimento de jovens em situação de vulnerabilidade social é o maior objetivo do projeto “Voando com a Cultura na Ilha Bela”. A criação veio da necessidade de levar políticas públicas voltadas à cultura para o distrito de Outeiro, por meio da manifestação cultural originalmente paraense do Cordão de Pássaro e Pássaro Junino.
O projeto atua nas escolas de rede pública municipal Pedro Demo, Casa Escola da Pesca, Fundação Escola Bosque e Escola Municipal Monsenhor José Maria Azevedo, com o objetivo de promover palestras sobre a manifestação do Cordão de Pássaro e Pássaro Junino, além de selecionar os alunos das escolas atendidas para serem brincantes do Cordão de Pássaro Pipira da Água Boa, do distrito de Outeiro.
Para os brincantes do Pássaro Pipira da Água Boa são desenvolvidas oficinas de produção de instrumentos musicais e aulas de iniciação musical dos instrumentos construídos. Na sua primeira fase, o projeto proporcionou a oficina “Reciclando Música”, onde foram produzidos 23 instrumentos musicais feitos de material reciclável, como banjo de panela de pressão e capacete de moto; reco-reco de bambu; pau de chuva de bobeira seca; e maracá de cuia verde. Na segunda fase, foram desenvolvidas aulas de iniciação musical dos instrumentos construídos com os brincantes para que fossem inseridos nas apresentações do grupo, realizadas durante o ano todo.
Yara Coutinho foi convidada para ser guardiã e fazer o resgate do Pipira da Água Boa. A brincante e coordenadora do projeto explica que a ideia de criar a iniciativa veio de um sonho de que crianças de escolas públicas soubessem o que é um Cordão de Pássaro. “Quando a gente chega nas escolas e pergunta assim: ‘alguém sabe o que é pássaro?’, as crianças dizem: ‘não sei, tia’. É triste porque é uma manifestação que só existe aqui no Pará e a classe estudantil não conhece. Eu tinha um sonho de quando eu entrasse em uma escola, as crianças soubessem o que é um Cordão de Pássaro porque, na maioria das vezes, 80% da turma não sabe o que é”, relata a guardiã.
De acordo com Yara, hoje a vida dela gira em torno das atividades do Pássaro, como oficinas, ensaios e as apresentações do grupo, que são realizadas durante o ano todo. Ela conta ainda que se apaixonou por levar a cultura do Cordão de Pássaro e ver a felicidade das crianças ao terem contato com o teatro. “Talvez pro jovem da cidade não seja tão especial quanto é para um jovem da periferia sair pra conhecer o teatro. Eu me apaixonei pelo brilho no olhar das crianças quando elas estavam no palco sendo rainha, rei, príncipe, princesa. Pra mim, que sou guardiã, quando eu vejo esse tipo de alegria nos nossos jovens faz com que a gente vá em frente a cada dia”, conta Yara.
A guardiã explica que além de garantir o acesso à cultura para os jovens de Outeiro, o projeto tem a função de garantir um local seguro e de acolhimento para dar possibilidade aos brincantes de se descobrirem dentro do Cordão. “Quando você vê um jovem aprendendo a tocar um instrumento musical, aprendendo a ser um ator, você entende o quanto é importante o projeto pra eles. Eles estão buscando um ‘eu’ no projeto que muitos não têm. Então, ao invés de ficarem ociosos na rua, eles ficam aqui dentro do projeto tendo uma oportunidade de mostrar como eles são capazes e se surpreender com o que sabem fazer”, afirma.
“Quando a gente traz eles pra cá, estamos mostrando outro mundo para que eles tenham outra história de vida que não seja a realidade. A gente passa pra eles a segurança de que aqui no projeto eles são eles mesmos e podem tudo. Aqui eles podem ser rei, rainha, príncipe, princesa e eles realmente se sentem como se fossem. Eles vivem esse conto de fadas e têm um porto seguro, por isso que gostam de estar aqui. Pra eles é muito gratificante estar aqui aprendendo algo que realmente terá algum valor pra eles no futuro”, declara a coordenadora do projeto.
Hoje a ação atende 45 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, entre brincantes do Cordão de Pássaro Colibri de Outeiro e comunidade geral. Voando com a Cultura na Ilha Bela é um dos 38 projetos patrocinados pela Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), através do edital de projetos culturais de relevância social aprovado no ano de 2018.