Despedida

Ex-integrante do Manga Verde, um dos primeiros grupos de samba de Belém, o músico Alcyr Guimarães deu uma importante contribuição para a música paraense. O “Chorão”, como era conhecido por alguns amigos mais próximos, soube encantar, ao cantar para Belém e para o mundo sobre as belezas da nossa terra e da nossa gente.
O artista da natureza, depois de 25 dias internado no Hospital Guadalupe, em Belém, onde deu entrada com quadro de infarto permanecendo em estado grave, veio a óbito na tarde de domingo (9), aos 68 anos de idade. Segundo os médicos, a morte foi em decorrência de falência múltipla dos órgãos.
No cenário musical paraense Alcyr participou da criação do Arraial do Pavulagem, sendo ainda destaque no carnaval local como compositor da escola de samba Rancho Não Posso Me Amofiná. Ficou conhecido pelas obras "Boi do Céu", “Tiempo de Flores”, “Do Rancho" e "Ausência”, que integram, entre outros trabalhos, a produção de 250 discos, com mais de 500 músicas gravadas por ele.
“Nem bela nem formosa, cabocla desajeitada e pequenina, simples como a beleza de uma rosa, mundana que não pertence a ninguém...”. O artista revela na canção Janela de Belém sua relação de amor, desafeto, coincidências e brigas com a cidade das mangueiras, onde viveu suas melhores histórias.
Alcyr também fez muitas referências a Belém em seus sambas-enredos, boleros, valsas e toadas que compõem seu histórico musical.
Pela biomedicina, Alcyr foi pesquisador da Organização Mundial da Saúde (OMS), no projeto Mefloquina nos anos 1970, medicamento oral usado na prevenção e tratamento de malária.
O filho de Muaná, município do arquipélago do Marajó, foi músico, biomédico e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e entre 1965 e 2001 lançou vários discos, entre os quais "Alugado", "Santarém", "Oficina", "Manga Verde" e "Festa”.
A Sociedade Paraense do Samba emitiu uma nota de pesar na qual traduz a importância de Alcyr paraa música paraense.
“A Sociedade Paraense do Samba teve o privilégio de acompanhar e testemunhar uma das mais belas histórias de amor que já vimos em nossas vidas entre o Poeta Alcyr Guimarães e nossa querida Cikinha (como ela era carinhosamente chamada por ele). O nosso Padrinho sempre foi uma pessoa educada, gentil, humilde, atenciosa, não bebia, frequentava lugares simples, sempre vestido do mesmo jeitinho e acompanhado de sua viola, nunca foi de ostentar e esbanjar dinheiro (quem conhece sabe muito bem disso), e não esse monstro que foi descrito nessa reportagem covarde e oportunista”, explicam os sambistas.
Segundo representantes da entidade, a única ambição que ele tinha era de alegrar e emocionar as pessoas com as suas músicas.
“Por essa razão resolvemos manifestar a nossa profunda revolta e indignação, por vê pessoas que não conheciam o Alcyr, outras que até abraçavam ele, compartilhando mentiras, inverdades, duvidando da sua índole, do seu caráter, sua honra, tentando manchar a sua história, uma atitude leviana e vil, julgando sem que ao menos ele pudesse se defender e mostrar a verdade dos fatos, pois se encontra em um leito de UTI internado em estado grave lutando pela vida”. Manifestaram os sambistas antes da morte do artista.
“Mas nós, afilhados do Alcyr Guimarães, juntamente com os seus fãs, familiares, amigos e sambistas estamos aqui para defende-lo até o fim. Portanto, nesse momento tão difícil, exigimos respeito a sua família, ao poeta, ao médico, ao músico, ao compositor, ao professor, ao baluarte do samba paraense, ao ser humano Alcyr Guimarães”. Encerram os artistas.
POLÊMICAS – A partida desse importante personagem do mundo artístico paraense poderia ter sido na plenitude da paz, em meio às manifestações de carinho, admiração e respeito da sociedade paraense, em especial da imprensa, mobilizada nos últimos meses para intensificar as doações de sangue para salvar sua vida. No entanto, em suas últimas semanas de vida, repercutiu amplamente na imprensa inquérito policial no qual Alcyr é acusado de homicídio, que teria praticado contra a própria esposa, nos revelando um outro cenário que tornou os últimos dias de Alcyr entre nós um conto de terror.
O músico foi denunciado pela Polícia Civil à Justiça como acusado de matar a ex-esposa, Ciane de Olliveira Mackert, por envenenamento com carbofuram (chumbinho). Também foi acusado de ter furtado os bens e dinheiro após a morte da vítima.
Ciane de Oliveira Mackert morreu na noite de 28 de março de 2015. Laudo inicial apontou morte por infarto. Após exumação, IML de São Paulo encontrou substâncias tóxicas, como carbofuram (chumbinho) no corpo da vítima.
Defesa - Em nota, os advogados de Alcyr Guimarães o eximiram da acusação de homicídio qualificado contra a ex-esposa, Ciane de Oliveira Mackert. Segundo os advogados, laudo produzido pelo Instituto Médico Legal de São Paulo, não passou pelo contraditório garantido no devido processo legal, havendo inúmeros questionamentos que terão que ser respondidos pelos peritos que realizaram o laudo, além de declararem que o inquérito policial está repleto de falhas graves e que a defesa vai solicitar que todos os policiais envolvidos na investigação sejam intimados para prestar esclarecimentos perante o juiz.
Despedidas - Após a morte de Alcyr, que foi velado no último dia 9 em uma capela na rua Diogo Moia e sepultado na manhã desta segunda-feira, dia 10, as atenções se voltam para o andamento do processo judicial, mesmo após sua morte e partilha de bens, sejam os dele, sejam os de sua ex-companheira, que ele teria se apropriado indevidamente.
A despedida dos amigos foi marcada por momentos de muita emoção. Artistas de longa data compareceram para tocar, cantar e prestar as últimas homenagens ao artista paraense.
Agora resta esperar que a justiça faça a sua parte.
Com a colaboração do jornalista Ronaldo Quadros