Meio ambiente
O mês de abril trouxe perdas irreparáveis para a fauna das duas principais instituições científicas do estado do Pará. O Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi perdeu um dos mais populares moradores, a onça-pintada macho Guma, que faleceu com 19 anos de idade. Já o Jardim Zoobotânico da Amazônia Bosque Rodrigues Alves ficou sem um de seus ícones, o peixe-boi Cajuru, que se foi aos 63 anos. A espécie vive, geralmente, até os 50 anos.
Mas outro gigante, em tamanho e longevidade, resiste e está próximo de completar 70 anos, vivendo confortavelmente no Museu Paraense Emílio Goeldi, instituição pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia do Governo Federal, que se encontra fechado para visitação devido à pandemia do novo coronavírus.
Esse gigante é o Jacaré-açú Alcindo que está com idade estimada de 68 anos e, segundo Messias Costa, veterinário e curador da fauna do Parque Zoobotânico, esses animais vivem por volta de 75 anos.
“Esses animais em cativeiro, em áreas limitadas, eles se exercitam menos e crescem menos e tendem a ganhar mais peso. Foi o que aconteceu com o Alcindo, que é um ícone institucional”, explicou Messias.
Por ser idoso, Alcino já se submeteu a duas cirurgias bem sucedidas para a retirada de queloides, com neoformações nos membros do animal. “Ele se encontra muito bem. São animais bastante resistentes, de características muito primitivas, e muito resistentes a infecções e doenças. Ele merece uma atenção especial, assim como os outros animais, mas pela idade a gente tem um monitoramento frequente quanto a assegurar a sobrevida dele”, contou o veterinário.
Por ser uma espécie de muito agressiva, ele se encontra sozinho “e não teve a oportunidade de conhecer uma garota”, lamenta Costa.
Já prevendo a perda do animal, o Goeldi possui um casal da mesma espécie com 15 anos de idade que moram ao lado do recinto do Alcino, “para quando ele perder a vida a gente já tenha um casal para substituí-lo”.
O veterinário disse que o réptil recebe alimentação especial. Pelo seu porte, ele come de 10 a 15 quilos de 15 a 20 dias, em época quente de verão. Na época fria o metabolismo fica baixo e ele recebe alimentos uma vez a cada mês ou a cada dois meses, em função da estação climática. Por ser um animal de temperatura inconstante, a energia solar complementa a necessidade alimentar desses animais.
Outros animais de vida longa no parque são as onças. “Perdemos a onça negra Pepi com 21 anos. As onças, fora da natureza, podem viver até no máximo 20 anos. A última morte que tivemos foi do Guma, animal que foi apreendido pelo Ibama, em Macapá, com três anos, e passou 16 anos no Museu, morrendo com 19 anos. Outro animal idoso que vive solto pelo parque e está com 35 anos, é um cabeça seca, uma ave pernalta, que vive feliz, “mas com muita artrose e pode vir a óbito a qualquer momento”, contou Messias.
Também existem as araras que nas cidades chegam até os 65 anos. Outra espécie longeva são os peixes-boi. “A peixe boi que nós perdemos morreu com 56 anos. Ultrapassou a longevidade máxima que é de 50 anos”.
Outros idosos são os macacos que vivem em torno de 20, 23 anos. “E nós temos um macaco de 28 anos, um cuatá, que já está sem dentes, a musculatura facial hipertrofiada, e pode vir a óbito a qualquer hora. É o ciclo da vida, e a gente não pode fugir disso. E quando morre em idade muito avançada, a gente fica triste, mas ao mesmo tempo a gente tem a sensação do dever cumprido”, se resigna o curador da fauna do Goeldi Messias Costa.