COVID-19



Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O novo coronavírus é especialmente mortal para os povos indígenas na Amazônia. A afirmação é de um estudo feito pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) sobre a vulnerabilidade dos povos tradicionais da região em relação ao impacto da Covid-19. Segundo a pesquisa, a taxa de mortalidade pelo coronavírus entre indígenas (o número de óbitos por 100 mil habitantes) é 150% mais alta do que a média brasileira e 19% mais alta do que a registrada somente na região Norte – a mais elevada entre as cinco regiões do país.
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Igualmente preocupante é a taxa de letalidade, ou seja, quantas pessoas infectadas pela doença morreram: entre os indígenas, o índice é de 6,8%, enquanto a média para o Brasil é de 5% e, para a região Norte, de 4,5%. Já a taxa de infecção pela doença por 100 mil habitantes entre os indígenas é particularmente elevada se comparada com a média do Brasil.
“Essa taxa não é maior do que o índice de toda a região Norte, mas demonstra uma inclinação da curva mais aguda. Nesta análise, traduzimos em números aquilo que tem sido mostrado e falado pelos povos indígenas desde o início da pandemia: esta é uma população extremamente vulnerável ao novo coronavírus e, como tal, precisa receber um tratamento diferenciado”, diz a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar.
O estudo levanta ainda algumas possíveis explicações para a taxa alta de infecção, mortalidade e letalidade entre os povos indígenas. A análise aborda alguns temas como: os sistemas deficientes de cuidados específicos a essa população; o possível baixo grau de imunidade e a problemática da invasão das terras indígenas, que aumenta os riscos de contaminação nas comunidades
“Os dados da Coiab vêm para fortalecer os dados do governo federal. Estamos levantando as informações oficiais das organizações indígenas sobre a realidade que estamos vivendo hoje. É um controle social, que faz parte do trabalho de atenção básica de política de saúde”, explica Mário Nicácio, vice coordenador da COIAB.
Invasões nas Terras Indígenas aumentam risco de contagio
"Não podemos esquecer que a doença também chega através das invasões de terra diante da situação que o país está vivendo, com esse governo genocida, que é a favor de madeireiros, de mineração em terras indígenas”, pontua Puyr Tembé, vice-presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará. No estado, há mais de 250 casos entre indígenas Xikrin numa aldeia de difícil acesso, relata Tembé.
Entre os Munduruku, etnia mais numerosa no Pará, a situação é ainda mais grave. “Uma das preocupações é que já foram 10 mortes do povo Munduruku e muitos não querem vir mais para a cidade, justamente porque acham que vão morrer. A gente está muito preocupado, inclusive a gente votou para lançar a campanha para tentar ", explica a líder indígena Alessandra Korap Munduruku.
A campanha que a Alessandra se refere se chama “Munduruku contra a covid-19”, uma ação de financiamento coletivo promovida pelas associações indígena Pariri e Wakoborun de Mulheres Munduruku. O valor arrecadado será usado para manter os anciãos na aldeia e montar unidades intermediárias de tratamento no território Munduruku. As doações podem ser feitas através da plataforma Cartarse no endereço catarse.me/mundurukucontracovid19
Na TI Yanomami não é diferente. "Nós estamos sofrendo junto com o mundo, com os indígenas e não indígenas”, diz Dário Kopenawa, da Hutukara Fundação Yanomami. Com o apoio de pesquisadores, a fundação contabilizou 82 casos de covid-19, com quatro mortes confirmadas e outras quatro suspeitas. Como forma de combate à doença, os Yanomami buscam a expulsão dos garimpeiros. "Fora garimpo, fora covid. É a mensagem para as autoridades e para o mundo inteiro também. É dever do governo brasileiro expulsar os mais de 20 mil garimpeiros que invadiram nossa terra”, ressalta Kopenawa.
Funai afirma que tem reforçado combate à pandemia
A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que tem reforçado as medidas de prevenção ao contágio da covid-19 entre a população indígena. Em entrevista coletiva, realizada na última semana, o órgão afirmou que já investiu cerca de R$ 20,7 milhões em ações de combate ao novo coronavírus.
De acordo a Fundação, parte desses recursos serão usados para custear 500 mil cestas básicas entregues em todo o país, em uma iniciativa que envolve o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), entre outros parceiros.
"Esta ação articulada mostra o compromisso do governo federal com os povos indígenas. Ao garantir a segurança alimentar nas aldeias, contribuímos para que os indígenas evitem deslocamentos, reduzindo as chances de contágio pelo novo coronavírus", explica Marcelo Xavier.