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Médica paraense, Alice Malato, fala sobre o combate ao Coronavírus na Europa

A paraense é destaque na Europa e está na linha de frente na batalha contra a Covid-19

Alice Moraes Ribeiro Malato é formada em Medicina e Cirurgia Geral na Universidade Pavol Josef Safarik em Kosice, Eslováquia. Sua especialidade é em Medicina Aguda – atualmente atuando no departamento COVID-19.

1. Como enfrentou e enfrenta os movimentos da pandemia?

Enfrento os movimentos da pandemia com bastante cautela por tudo ser tão novo nessa área epidêmica, e extremamente perigosa na medida em que milhões foram fatalmente atingidos. Através da própria trajetória da doença, aprendemos a sobreviver, sobretudo a ultrapassar as ameaças, e a repensarmos o nosso papel existencial, inclusive com os seres animais e vegetais que nos cerca neste mundo tão violentado.

2. O que significa atuar na linha de frente diante de tantas situações adversas?
Significa ser humano no sentido mais profundo da existência e da palavra, porque, de repente, nossas vidas, de médicos e profissionais da saúde, estão em risco a serviço da vida do próximo. Como Hipócrates e Jesus preconizaram: o oferecimento de si a quem mais precisa, acima de tudo estando a vida e a dignidade.

3. Quais os momentos mais críticos?
Poderia citar muitos momentos, infelizmente. Na minha própria cidade, os números de mortes, não só de pacientes, mas de colegas de profissão, assustaram. Acredito que a isso somam-se o planejamento tardio do governo e as más condutas de muitos administradores na compra de aparelhos e equipamento de proteção pessoal para combater a doença. Crítico também foi quando contrai Covid 19, e tive que ficar isolada por 14 dias, sem nenhum contato humano. No entanto, a maior dificuldade que enfrento devido a essa pandemia considero que seja não poder ver minha família, estar tão longe, com as fronteiras inglesas fechadas, sabendo que se algo acontecer com eles não poderia estar presente.

4. Até quando vamos conviver com a covid-19?
Penso que conviveremos sempre com esse triste vírus, contudo começamos a assumir o controle através de mudanças nos nossos hábitos diários, como a utilização de máscara, higienização pessoal e de objetos mais frequentemente e, por fim, com uma futura vacina. Seria tão bom se a humanidade convivesse mais com o meio ambiente, praticando a solidariedade, evitando uma série de enfermidade como essa que surgiu ameaçando a vida. Os bons hábitos, inclusive os mentais como os da preservação do corpo e da mente, são fatores de combate, não só a essa doença, mas em muitas que os seres humanos estão enfrentando, algumas sem saber. Hábitos saudáveis sempre foram fatores de proteção. Há uma sociedade de consumo muito forte na vida social e interesse escusos de sistemas governamentais, amarrando o ser social, que facilitam a proliferação de situações endêmicas porque muitas doenças crescem na fragilidade física e mental do próprio membro da sociedade.

5. Que países do mundo reagiram melhor e por quê?
O primeiro país que merece ser mencionado acredito que seja a Nova Zelândia, que implementou medidas de proteção apenas 3 dias após a OMS declarar situação de emergência por surto do coronavírus (dia 30 de janeiro 2020), isso resultou em menos de 2.000 casos e 22 mortes (contagem até o dia 22 de setembro).

Outros países que até agora apresentam números relativamente baixos, de contaminação e de mortalidade, são Dinamarca, Islândia e Senegal, isso devido a dois fatores importantes: 1) Teste realizado em ampla escala e 2) distanciamento social.

6. Como avalia, mesmo à distância, a situação no Brasil?
No Brasil, que acompanhamos constantemente daqui da Inglaterra, vi o trabalho incansável dos profissionais da saúde, contudo preocupada com certo distanciamento do governo com as políticas públicas e protocolos internacionais voltados para o controle da doença. No plano administrativo foram feitas várias trocas de ministros da saúde, sugerindo instabilidade no controle da situação, e a priorização da economia ao invés da saúde da população teve como resultado 5,3 milhões de casos confirmados no Brasil – o terceiro maior número no mundo, depois dos EUA e da Índia – e só perde para os EUA em termos de mortes, com quase 155.000 registrados até agora. Quem sabe a criação de um Conselho Nacional de Saúde, fazendo parte médicos, administradores, economistas, para deliberar sobre essas urgências possa ser uma medida no combate ao vírus. O que se viu, também, no meio dessa enfermidade toda, foram vaidades e orgulhos sutilmente se apresentando no cenário da epidemia. Lembrando que essa observação não só vale para o Brasil.

7. Sobre a vacina o que você pode nos dizer?
Das 170 vacinas que estão sendo criadas atualmente, 2 já estão na fase 3, que é a fase final antes da aprovação para distribuição. Uma delas é a vacina AstraZeneca, criada na Universidade de Oxford, a qual está em testes na África do Sul e no Brasil. Espera-se que a mesma seja distribuída no primeiro semestre de 2021, de acordo com o vice-diretor médico do Reino Unido, Prof. Jonathan Van-Tam. É importante que sejamos realistas. Vacinas protegem os indivíduos contra doenças, mas nenhuma vacina é 100% eficaz.

8. Essa pandemia pode ser comparada a outras?
Creio que essa pandemia foi a mais preocupante por causa da modernidade dos meios de transportes que atravessam oceanos e ares. Em 1918, o vírus influenza H1N1, a gripe espanhola, infectou 500 milhões de pessoas, um quarto da população mundial na época. Cem milhões morreram. O Covid19 não teve fronteira, matou quase 1 milhão de pessoas. No Brasil, mais de 150 mil.

9. Qual a sua mensagem aos brasileiros, em especial, aos paraenses?
Minha humilde mensagem aos brasileiros, e aos meus conterrâneos paraenses, é a de que a pandemia ainda está viva. Conseguimos enfraquece-la com uma série de medidas que aprendemos a realizar em favor inclusive de novos hábitos entre os seres humanos. Infelizmente, a possibilidade de uma nova onda ainda nos ameaça e precisamos estar preparados, inclusive vacinados. Agradeço o convite e a oportunidade de aqui compartilhar a minha experiência profissional, pedindo a Deus forças para continuar. Agradeço à imprensa que, graças a sua grande representação social a humanidade, tem ciência do que está acontecendo na mundo endêmico e especialmente a você, Guarany, por seu jornalismo de renome, voltado ao bem estar da humanidade, exercido em meu querido Estado do Pará.

*Com informações de Guarany Jr.


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