TRADIÇÃO







Foto: Arquivo - Agência Belém
Não fosse pela pandemia, este sábado de Aleluia iria trazer uma tradição popular que resiste nas ruas de Belém. Bonecos de palha ou de pano, pendurados em postes de iluminação pública ou galhos de árvores, são rasgados e queimados. O ritual faz a festa de pessoas de todas as idades, em uma espécie de catarse católica.
Costume secular - É a malhação ou queimação de Judas, costume trazido pelos portugueses e espanhóis para toda a América Latina, desde os primeiros séculos da colonização europeia. Para alguns pesquisadores, seria um resíduo folclórico transfigurado das perseguições aos judeus, que se desencadeou na Idade Média, na época da Inquisição.
Para outros, o Judas queimado seria uma personalização das forças do mal, vestígio de cultos para obter bom resultados, no início e no fim das colheitas, realizados em várias partes do mundo. Há ainda alguns historiadores que afirmam ser o costume remanescente da festa pagã dos romanos.
A brincadeira ocorre na Semana Santa, especificamente no sábado de Aleluia. O Judas representa o personagem bíblico, Judas Iscariotes, que traiu Jesus Cristo com um beijo por 30 moedas. Consumada a traição, arrependeu-se, tentou restituir o dinheiro, mas, repelido pelos sacerdotes, enforcou-se numa corda.
A brincadeira seria uma maneira dos católicos se vingarem da traição do Judas. Antes de o boneco morrer enforcado como o traidor, ele é xingado e espancado. O “ Judas” das ruas ganha, por vezes, o rosto de algum político ou pessoa pública antipatizada pela população.
Associação dos Malhadores de Judas de Belém - Em Belém, a tradição da malhação de Judas é coisa séria, institucionalizada. A Associação dos Malhadores de Judas de Belém e Distritos foi fundada há 21 anos. Conta com 19 associados de bairros como Cremação, Condor, Marco, Umarizal, Fátima, Pedreira, Guamá, Terra Firme e o distrito de Icoaraci. A Associação promove a união e interação das comunidades, por meio de eventos sociais e lazer, com foco nas crianças.
Neste segundo ano de pandemia, os associados não pararam de atuar. “Continuamos fazendo os eventos sociais e beneficentes, apesar de não termos tido ajuda da prefeitura anterior”, revela Deodato de Oliveira Júnior, presidente da Associação.
Fumbel resgatando a tradição - Mas a Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) firmou apoio à Associação e vai patrocinar uma série de oficinas itinerantes nos bairros e distrito de Icoaraci, destinadas, principalmente, às crianças e jovens. As oficinas irão ocorrer logo após a Semana Santa de 2022 e irão ensinar confecção de bonecos, decoração de eventos e sonorização. Acima de tudo, valorizando a cultura popular e a tradição da malhação de Judas.
“Você fazer um evento ou uma oficina com o apoio de um órgão público é fundamental. Lembrar do prefeito Edmilson Rodrigues na gestão anterior se torna muito fácil, pois foi o melhor momento dos malhadores de Belém e distritos. Participante e sempre agregando os mais carentes”, destaca Deodato.
Por trás do apoio da Fumbel, está um morador do bairro do Jurunas, pertinho da Cremação, onde tradicionalmente ocorre a malhação de Judas. Entusiasta da tradição, Michel Pinho, presidente da Fumbel, reconhece Belém mais viva com esse costume e comemora a parceria. "O diálogo entre os fazedores de cultura da malhação de Judas foi muito interessante. Primeiro porque a Fundação reconhece a sua importância para a cidade por meio de práticas sociais enraizadas em Belém. Segundo, pela inovação. A Fumbel vai apoiar, a partir do ano que vem, oficinas que levem o conhecimento dos construtores dos bonecos para as praças, contando a história da prática cultural para todas as pessoas. E o melhor é que essa proposta foi feita pela própria associação", destaca Michel.
A pandemia vai fazer, pelo segundo ano seguido, com que a malhação de Judas aconteça de forma simbólica neste sábado, 03. Um grupo de quatro associados irá se reunir na casa de um deles para malhar um “Judas” na parede e manter viva a tradição. A esperança é a de que em 2022, a alegria esteja de volta às ruas de Belém. Festejando e educando.