Audiovisual
A Amazônia é ancestral, mas também é tecnológica. A um só tempo, floresta e metrópole. A partir da compreensão múltipla da profusão do território onde nasceu, a artista visual Roberta Carvalho cria intervenções urbanas, instalações, realidades mistas e projeções que ocupam desde a arquitetura, às árvores e rios. Mulher, LGBTQIA+, fora do eixo, a paraense é atualmente um dos nomes mais relevantes da produção multimídia no país, e assina este ano o projeto NAVE, que leva ao Rock in Rio um convite à imersão na Amazônia contemporânea.
“Participar do Rock In Rio, o maior festival de música do mundo, é um grande reconhecimento do meu trabalho como artista e articuladora cultural dentro da região amazônica”, celebra Roberta. “A NAVE pretende desconstruir o estereótipo reducionista da Amazônia e construir percepções empáticas sobre a potência da região, a partir de um olhar de multiplicidade: são muitas Amazônias. Preta, coletiva, originária, mas ao mesmo tempo é pop, contemporânea, é o tecnobrega, a cultura que pulsa na periferia das cidades”, diz.
Para dar vida a esta NAVE, o Rock in Rio e a Natura, cocriadoras do projeto, passaram por um processo de criação com duração de mais de dois anos. Convidada para assumir a direção artística da NAVE, Roberta explica que a instalação de 360 graus traz obras de mais de 50 artistas e também ativistas da região, reunidos depois de um longo e atento mapeamento. “Foi desafiador conectar essa vastidão e olhar para todo o território criativo da Amazônia brasileira”, destaca.
Com cenografia de Daniela Thomas, argumento de Karla Martins e direção musical de Aíla, a NAVE contará com experiências imersivas e grandiosas que vão fazer o público mergulhar na região amazônica. Uma das atrações imperdíveis serão as enormes projeções que vão do chão ao teto, trazendo a Amazônia em primeira pessoa sob a voz e ótica de artistas da região. Outra novidade será a presença da maior aparelhagem já construída por João do Som, mestre criador das famosas aparelhagens de tecnobrega do Pará. Roberta fez o convite pessoalmente ao João do Som, propondo a construção de uma aparelhagem exclusiva para a NAVE.
Mais de cem mil visitantes diários são esperados para acessar a experiência imersiva que conjuga diversos elementos: projeções monumentais, texturas, ruídos e musicalidade, e traz elementos centrais da cultura do norte, como barcos, águas, viveiros, a aparelhagem de brega.
Telas em todo os lugares
A trajetória de Roberta surge da palavra. A partir da poesia visual, a artista inicia experimentações com vídeo e fotografia. “Quando comecei a produzir imagens, senti vontade de fazer com que elas transitassem pela rua, e na rua eu encontrei diversas telas: a arquitetura, a história da cidade, as árvores, as águas. Essas telas começaram a se expandir. Eu comecei a entender esse cinema expandido a partir da relação com esses ambientes e essas pessoas”, conta.
Com obras como “Pretérito do Presente”, “Cinema Líquido” e “Resiste!”, Roberta versa sobre a tensão entre a floresta e a urbanidade, sua história e arquitetura, identidade cultural, conflitos socioambientais e modernidade. Em “Symbiosis”, obra emblemática de sua carreira, Roberta projeta imagens nas copas de árvores e vegetações em diversos espaços de cidades, comunidades, áreas verdes, florestas, misturando intervenção urbana, fotografia, vídeo digital e instalação. “São dois entes: imagem e natureza, sendo a natureza hospedeira da arte, criando com ela um novo ser, um UNO. E desta relação uma coisa outra é gerada: escultura de luz, uma árvore observadora”, diz a artista.
Voltada para a pesquisa sobre arte e tecnologia, Roberta tornou-se referência sobre o assunto, e colocou a região na rota mundial da produção multimídia com projetos como Festival Amazônia Mapping, que trouxe para o coração da Amazônia o evento de ocupação urbana por meio de mega projeções mapeadas.
Com participação em projetos e festivais pela Europa e diversos lugares do Brasil, Roberta foi vencedora do Prêmio FUNARTE Mulheres nas Artes Visuais e possui obras em acervos como Museu de Arte do Rio (MAR) e Museu de Arte da UFPA.