Tratamento humanizado
Em estilo de Luau, o Projeto “Tardezinha”, realizado no final da tarde desta sexta-feira (19), reuniu os adolescentes internados e seus familiares para um momento musical de elevação da autoestima. A iniciativa é do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém, e foi realizado na Classe Hospitalar Prof. Roberto França. A música ficou por conta de Guto Risuenho, Diego Xavier e Felipe Martins e a ação também contou com a participação das alunas do curso de Estética da Esamaztec, todos voluntários da instituição. Um dos objetivos do projeto é ajudar familiares e pacientes a enfrentar o câncer e aderir melhor ao tratamento.
O projeto se iniciou no ano passado durante a Colônia de Férias envolvendo pacientes da infância e da juventude. Entre os resultados positivos, a constatação de que era necessário oferecer algo específico aos adolescentes, conforme explica a coordenadora de Humanização, Natacha Cardoso.
“Observamos que eles são mais conectados, gostam de música e acompanham as tendências. É uma fase de busca da identidade e afirmação. Hoje, nossos pacientes puderam escolher as composições que mais lhe agradam. Também ofertamos cuidados de estética, tão importantes para a percepção da autoimagem, que é uma preocupação constante nesta faixa etária”, detalha Natacha.
Mais que entretenimento, as atividades lúdicas aliviam a ansiedade e o estresse e, dessa forma, são aliadas na recuperação de quem enfrenta longos períodos de tratamento, sob internação. “A ideia é oferecer um atendimento cada vez mais humanizado, aliviar o adoecimento e trazer aquilo que perdem do ‘mundo exterior’ quando estão internados. As boas práticas são bem recebidas, principalmente por aqueles que passam longos períodos hospitalizados”, enfatiza Natacha.
Manchas no corpo, sangramento na boca e febre. Foi assim que a estudante Júlia Rodrigues, hoje com 19 anos, foi tocada pelo câncer na medula, detectado depois pelo exame de mielograma. Para ela, o “Tardezinha” foi a oportunidade de ouvir Tempo Perdido, da Legião Urbana, e tirar o foco da doença por algumas horas.
“Essa canção me faz refletir sobre o momento atual, pois fala que não temos o tempo que passou, mas temos muito tempo, todo o tempo do mundo. Eu me identifico muito com a letra, ainda há muita coisa para viver”, disse Júlia, há três semanas no hospital.
Michele Patrizia, 38 anos, está com a filha Ana Clara, que fez 17 anos na segunda-feira passada. Dois meses e nove dias de internação, desde o diagnóstico de leucemia aguda. Elas vieram de Bujaru, nordeste do Estado, para que a menina consultasse um hematologista, depois que os nódulos se espalharam pelo corpo. Mas não houve tempo, Ana Clara piorou. Consulta na UPA da Sacramenta, exames no Hemopa, ela foi transferida para um leito de UTI do Octávio Lobo, onde ficou por 20 dias.
“A gente saiu de casa para uma consulta e entrou num mundo totalmente diferente. Tem horas que a saudade bate, o peito aperta. Por isso, essas atividades são um alento, aliviam a angústia de estar longe de casa e ‘morar’ dentro de um hospital”, anima-se Michele Patrizia.
Os momentos de interação também fazem bem a quem ajuda a tornar o dia do outro mais alegre, garante o cantor e produtor musical Guto Risuenho. “Deus é muito bom, tento reverter um pouquinho desse amor que recebo para eles. Não é nenhum esforço, mas um prazer estar com a molecada, levar pra cinema, comemorar aniversário”.
Esse compromisso social também motivou os amigos de Guto, Felipe Martins e Diego Xavier, uma harmonia de múltiplas sonoridades em prol da solidariedade. “Estamos unidos pelo talento e pela vontade de ajudar o próximo. Vejo a importância que a música tem, traz alegria para os pacientes. A música tem o poder de curar e transformar vidas como transformou a minha”, afirma Diego.
Serviço: Credenciado como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo é referência na região Norte no tratamento especializado do câncer infantojuvenil, na faixa etária entre 0 a 19 anos. A unidade é gerenciada pelo Instituto Diretrizes, sob o contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública, e atende pacientes oriundos dos 144 municípios paraenses e estados vizinhos.