1º Congresso Brasileiro de CCS
Um dos principais desafios do Brasil é regulamentar as políticas para a captura e armazenamento de CO2 com o intuito de incentivar a redução das emissões de gases do efeito estufa entre as grandes indústrias. Essa questão foi debatida no “1º Congresso Brasileiro de CCS: Desafios e Oportunidades de Desenvolvimento”, realizado na ultima terça-feira, 20/09. O evento, on-line, reuniu representantes de diversas empresas do setor de energia, instituições não governamentais, universidades, pesquisadores e órgãos do Governo Federal, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Além de apresentar os desafios para fomentar as tecnologias de CCS (Carbon Capture and Storage, na sigla em inglês), os painelistas do congresso reforçaram a importância da integração entre as instituições de pesquisas, governos e empresas privadas para conseguir estabelecer marcos regulatórios que garantam a segurança ambiental, jurídica e social dessa alternativa de redução da pegada ambiental.
“Atualmente, existem investimentos globais para a descarbonização, mas os investidores querem ter segurança e isso precisa estar bem estabelecido e normatizado. O Brasil precisa avançar nesse aspecto”, afirmou Fernando Vale, Analista Sênior de petróleo e gás na Bloomberg Intelligence, que fez a palestra “Green Bonds, Parcerias e Financiamento Sustentável Alavancando Captura de Carbono Global” durante o congresso.
No congresso, também foram amplamente discutidas as alternativas para se efetivar uma economia mais sustentável com a utilização dos créditos de carbono, como forma de compensação ambiental. O crédito é como um certificado que os países, empresas ou pessoas compram para mitigarem a emissão de gases do efeito estufa. As estimativas brasileiras são promissoras, com valores que podem passar de US$ 100 bilhões em créditos de carbono até o ano de 2030. Além disso, o Brasil pode criar um modelo de negócio próprio que o colocaria na condição de um dos principais exportadores de créditos do mundo.
Uma das grandes vantagens competitivas brasileiras no desenvolvimento dessas tecnologias é a possibilidade de acoplar CCS à geração de etanol, biogás e biomassa. O resultado dessa combinação que captura CO2 biogênico é a obtenção das chamadas emissões líquidas negativas, ou seja, a remoção efetiva de CO2 da atmosfera. Esse potencial precisa ser bem aproveitado pelo Brasil, que pode não apenas impulsionar a exportação de créditos de carbono, mas também de tecnologias com DNA brasileiro.
Outro passo fundamental a ser dado pelas empresas para que CCS passe a compor uma nova atividade econômica, com geração de empregos sustentáveis e desenvolvimento regional, é a consolidação de mecanismos de precificação. Com um valor atribuído ao CO2, as empresas passam a buscar as propostas mais eficientes para redução da pegada de carbono e CCS certamente será uma das alternativas mais econômicas factíveis para diversos setores produtivos.
No painel “Experiências Internacionais”, foi evidenciado o quanto o Brasil já está atrasado nesta discussão. Os países europeus e os Estados Unidos já criaram políticas que viabilizam essa alternativa para a sustentabilidade das operações e a efetiva redução das emissões de gases do efeito estufa na atmosfera.
“Esse encontro está nos ajudando a analisar quais lições internacionais podem auxiliar o Brasil na tomada de decisões e na escolha de projetos para que a transição energética seja eficiente no país”, disse Alexandre Cardoso, gerente de Desenvolvimento de Negócios de Transição Energética da Vallourec, um dos participantes do evento.
Outra questão debatida entre os participantes foi a necessidade de um ambiente cooperativo para criar uma cultura de baixo carbono no país, ou seja, além de construir uma política mais clara e efetiva, há a necessidade de unir todos os players em uma espécie de “hélice tríplice”. Foi assim que denominou o diretor científico do Research Centre for Gas Innovation na Universidade de São Paulo (USP), professor Júlio Meneghini, para a sinergia entre as instituições de ensino superior, governo e iniciativa privada.
“As transformações provocadas pelas mudanças climáticas impõem ações urgentes para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Todos os atores: sociedade, instituições de pesquisas, empresas privadas e instituições governamentais devem unir esforços para encontrar soluções financeiramente viáveis, ambientalmente corretas e que façam a diferença na vida de toda a humanidade. Estamos dando o primeiro passo, mas ainda falta uma longa estrada pela frente”, afirma Isabela Morbach, diretora da CCS Brasil.