Crônicas

Um amigo me cutuca com um papo pop: quem foi a melhor vilã da TV brasileira? Não sou expert em novelas, mas sempre fui leitor compulsivo. As leituras avulsas estão por todo canto, estampando vilãs, fofocas, bizarrices e outras coisas más.
Por favor, não me julguem. Quem, no desespero, nunca levou uma Contigo pro banheiro? Antes uma Contigo na mão do que o rótulo do Neutrox na cabeça - “o guardião da integridade dos cabelos, que age da raiz até as pontas, por dentro e por fora dos fios”. Sim, era o que tinha pra ler.
Voltando ao fio da meada, esse conhecimento aleatório me permite listar de cabeça ao menos cinco vilãs que já apertaram a mente dos telespectadores: Carminha (Adriana Esteves), Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), Odete Roitman (Beatriz Segal), Maria de Fátima (Glória Pires) e Perpétua (Joana Fomm).
Todas elas – e muitas outras – tornaram-se ícones da cultura pop e ainda hoje frequentam a galeria dos memes. Mérito de bons roteiros, de diretores competentes e, principalmente, de talentosas atrizes. Destas, eu gosto mais da Carminha. Mas antes de vê-la, eu tinha um preconceito idiota contra a Adriana Esteves. Sem necessidade. Nem conhecia o trabalho dela.
Peguei corda do Macaco Simão, que adorava agastá-la, chamando-a de Adriana Esteves Aqui e Não Disse ao Que Veio. Desculpe a ignorância do Macaco.
Hoje, Adriana Esteves tem o reconhecimento que merece. Brilhou na TV, no cinema e no teatro. Ganhou prêmios importantes, foi indicada até ao Emmy Internacional.
Arrancou-me gargalhadas no Toma Lá, Dá Cá e rios de lágrimas vivendo a Dalva de Oliveira.
Mas acabei guardando, na gaveta da memória, essa maldade do Simão. Anos depois eu a usaria, pra sacanear o amigo Francisco Weyl, parceiro de redação e dos bares da vida, chamando-o de Chiquinho Não Disse ao que Weyl.
Pois saibam que o Chiquinho levou na esportiva, cagou pra mim e disse ao que veio, sim. Tornou-se um estudioso da comunicação, um inquieto fazedor, um carpinteiro da palavra e das imagens, vencendo prêmios e festivais de cinema e de literatura mundo afora. Parabéns, Chiquinho!
Quanto a mim, ainda gosto de vilões, não vou mentir. Mas só na ficção. Nesse terreno, admito, há desajustados inspiradores. Cheguei a batizar meu carro de Darth Vader da Gama Alves. Compreendi perfeitamente o dilema malthusiano de Thanos. Sofri com a desumanização de Raskolnikov. Senti as dores secretas de Hermógenes. Amei e odiei a busca essencial de Grenouille. E sucumbi ao poder de sedução de Lestat - para citar alguns.
Já os vilões da realidade, esses não. Cruéis, perversos, desumanos, eles se saciam com a dor alheia. Heróis do próprio espelho, são patéticos quando se acham. Quando se escondem, o que hoje é bem comum, aí mesmo é que se apequenam, acreditando que a covardia é uma arte. E seguem adubando o mundo com suas potocas, como diria Carminha.
Então, tô fora desse negócio de vilão. Tá amarrado. Mas também não desejo ser “guardião da integridade”. Me erra, Neutrox!
Agora, se o Chiquinho quiser, se ele me perdoar, se ele me permitir, quem sabe eu posso ser, sei lá... um malvado favorito?
Quem não, né?