Empreendedorismo feminino



Foto: Emanuel Jadir
O gosto pelo trabalho artesanal e o cultivo de plantas em algumas situações tornam-se terapias essenciais para o enfrentamento de perdas e traumas. Na zona rural do Município de Tailândia do Pará, nordeste paraense, Vanusa B. Jardim, de 46 anos de idade, encontrou nestas ocupações uma dupla utilidade para o cotidiano: o desenvolvimento da prática do empreendedorismo feminino e o cuidado com o aspecto socioemocional.
O trabalho que a artesã vem desenvolvendo há 2 anos rendeu a ela a oportunidade de expor, pela primeira vez, seus trabalhos na edição da 17ª Feira de Artesanato, que será realizada nos próximos dias 7 e 8 de outubro, das 18h às 22h, no Centro Cultural Praça do Povo, em Tailândia do Pará. O evento é promovido pelo Grupo Belas Artes, que existe desde 2012.
O encontro com o artesanato
Vanusa teve contato com o artesanato quatro meses após ter enfrentado a maior e mais difícil dor na vida. Para ela, a arte tornou-se a válvula de escape para superar a perda do filho do meio, o qual nem chegou a completar a maioridade.
“Conheci essa arte por meio de um momento trágico na minha vida, a perda de quem eu tanto amava. O artesanato está sendo uma terapia para mim. É nele que eu esqueço a minha dor e suporto a saudade”, confessa Vanusa, emocionada e com a voz embargada.
Jucy Lisboa, coordenadora do Grupo Belas Artes, explica a relevância social do grupo. “O grupo nasceu como a finalidade de promover a prática de terapia para mulheres que passavam por algum tipo de vulnerabilidade provocada por abuso, trauma, perda ou mesmo a depressão”, comentou.
O Grupo cresceu e resolveu abrir para a participação do público masculino em suas atividades. Atualmente, o grupo conta com 4 homens e 48 mulheres.
Moradora há 41 anos na comunidade rural Nova Paz, em Tailândia do Pará, o modo de aprendizagem que a artesã teve contato reforça alguns dos resultados da pesquisa, até o momento mais recente, desenvolvida pela Viewers Google/Provokers, em 2018, a qual aponta que 9 em cada 10 brasileiros utilizam a plataforma YouTube. A artesã está na estatística dos 87% que buscam por desenvolver habilidades profissionais.
Tudo começou de modo autodidata; foi estudando as técnicas nas vídeo-aulas e começou a aprender a fazer esculturas de aves, tais como pavão, arara, garça, tucano, pato e animais como cavalo, onça, macaco, além de vasos e outras peças. Com a venda das peças ela já conseguiu comprar um fogão novo e com isso colabora com o pagamento de algumas despesas da casa.
No quintal de sua casa ela cultiva diversas espécies de plantas, como samambaias, rosa do deserto, jaborandi, margarida, diferentes espécies de cactus, dentre outras ornamentais.
Ao ser indagada sobre qual seria o seu principal sonho, a artesã responde que pretende montar uma floricultura. “Minha vontade é abrir uma floricultura, assim eu posso fazer o que eu mais gosto e ter uma renda para ajudar minha família”, disse Vanusa.
Ao se falar sobre o papel da mulher como agente de transformação e de inspiração para outras mulheres que venham a conhecer a sua história, ela deixa uma mensagem de reflexão. “Cada pessoa tem a sua história, sua vida, suas dores. Só a gente sabe quão profundas são as cicatrizes causadas pelos tombos que tomamos na vida. Eu aprendi que parar, pensar e respirar dá forças para um novo movimento. Eu encontrei no artesanato a força para continuar”, pontuou.
Além de contribuir com o aspecto socioemocional, o trabalho do Grupo Belas Artes contribui com o movimento da economia local. “O trabalho que fazemos é muito importante para a economia, porque geramos renda para o município. Todos os integrantes do grupo compram materiais para a produção de suas artes. Algumas mulheres artesãs já estão gerando oportunidade de trabalho para outras mulheres. Algumas peças já são comercializadas para fora da cidade, para outros Estados e até mesmo para outros países”, destaca Jucy Lisboa.