Dia do Brega
Não é exagero dizer que está para nascer paraense que não saiba cantarolar as marcantes. Surgido da criatividade da periferia da Amazônia, o brega superou preconceitos, foi alçado a Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará e ganhou uma data especial só para ele. Nesta sexta-feira (26), o Dia da Música Brega é celebrado no Estado e aponta que o futuro do pop nacional vem do Norte.
“O tecnobrega é o novo pop do Brasil”, declara Gerson Dias, produtor cultural que desponta na cena nacional à frente do Festival Psica, voltado ao protagonismo da cultura preta e periférica da Amazônia. Ele destaca o “boom” da cena brega, que tem se fortalecido com a premiação da Gaby Amarantos no Grammy Latino, o estouro nacional de Manu Bahtidão e figuras como Pabllo Vittar levando o ritmo a toda América Latina.
“Isso deveria ter acontecido faz tempo. Agora eu percebo que estamos mais maduros e o movimento de ascensão do brega e do tecnobrega está mais orquestrado, mais organizado”, diz. “O tecnobrega é a nossa cultura. Quem cresceu na periferia do Pará, então, sabe que era a música que mais tocava. Então não tem como pensar cultura o Norte sem considerar essa cena, que precisa ser valorizada e tem potencial para se tornar música popular do Brasil”.
“Eu acho o tecnobrega e ritmos paraenses algo muito internacional. Então tem que ser exportado para outras regiões do Brasil e também do mundo”, declara Pabllo Vittar, artista que tem conquistado o continente com seu mais recente disco “Batidão Tropical - Vol 2”, repleto de versões de hits do Pará. A artista se prepara para trazer pela primeira vez ao Pará a turnê do novo disco, em dezembro, no Festival Psica. “É claro que eu teria que levar esse show para Belém. Vai ser babado, uma honra poder apresentar esse disco na terra que tanto inspirou esse trabalho!”, celebra.
Entre as drags mais populares do mundo, Pabllo Vittar é estrela da música pop. Nascida no Maranhão e criada até os 14 anos em Santa Isabel, na Grande Belém, Pabllo traz da infância o amor por bandas como Tecnoshow, Ravelly, Calypso e as famosas aparelhagens, com sua estética apoteótica: luzes de led, pirotecnia e DJs que se tornam celebridades nos bailes dos subúrbios do Pará. “Eu amo. Eu era criança, adolescente, não podia ir aos shows, mas eu ouvia muito o som”, relembra.
Uma das mais populares artistas do Brasil, a cantora acaba de entrar para a história da música mundial ao conquistar uma posição no Top 50 Global do Spotify, tornando-se a primeira drag queen a alcançar esse feito. A artista já foi reconhecida pela revista norte-americana “Time” como uma das principais líderes influentes da nova geração. Este ano, se apresentou ao lado de Madonna no maior show de toda carreira da rainha do pop, que reuniu 1,6 milhão de fãs em Copacabana.
No auge, Pabllo declara seu amor à cultura do Norte. Além do novo disco, que traz a participação de artistas como Gaby Amarantos, Maderito e Will Love, Pabllo acaba de lançar “Quem manda em mim”, um feat com Zaynara, a mais nova revelação da cena paraense com o beat melody, vertente do tecnobrega. A música, que fez sucesso nas redes sociais e projetou Zaynara nacionalmente com uma performance no Festival Psica, em 2023, ganha nova versão ao lado da drag queen.
"Eu acompanho a carreira da Zaynara há um tempo já e fiquei fã de primeira! Lembro de falar com meus amigos e equipe sobre ela e botar todo mundo pra ouvir! Fiquei muito feliz pelo convite para participar de ‘Quem Manda Em Mim’, porque amo a Zay e já era viciadíssima nessa música", revela Pabllo.
Panteão do tecnomelody
Grande tendência de 2024, o tecnomelody surgiu em Belém na década de 2000, misturando música eletrônica com pop e gêneros regionais, como o brega, o calipso e o carimbó.
Lenda do estilo, a banda Os Brothers é dona de vários clássicos que todo paraense sabe de cor, como “Hoje Eu Tou Solteira”, “Rainha” e “À Distância”. Atração confirmada no Psica 2024, o grupo tem mais de 20 anos de estrada, e circula por casas de shows do Pará, Amapá e Maranhão, e em países como Suriname e Guiana Francesa.
“A banda Os Brothers está no panteão do tecnobrega junto com Banda AR-15, Tonny Brasil, Fruto Sensual, Viviane Batidão. Então nada mais justo do que tê-los no festival”, diz Gerson.
A semente do grupo tem DNA de música pop americana, rap, forró e brega clássico. Essa mistureba fazia a cabeça de Davison Martins, o Marth, quando ele fundou a banda nos anos 2000, e entrou para a história do tecnomelody. “Eu ouvia muito Chris Brown, Beyoncé, Rihanna. Também curtia muito Calcinha Preta. Do Pará, eu escutava muito Nelsinho Rodrigues, que se tornou padrinho da banda”, relembra.
Marth diz que o tecnomelody dos Brothers combina letras românticas com os beats acelerados do pop - uma parceria irresistível. “A gente se apresenta por outras regiões, outros países, e a galera não fica parada”.
A banda promete levar essa receita infalível para o show do festival, uma vitrine para a região Norte e para o Brasil. “A gente há muito tempo desejava participar do Psica. Tocar em um festival dessa proporção é uma imensa satisfação. A gente sempre esteve preparado e agora chegou nossa hora. Viva a nossa cultura”, celebra.
PROGRAME-SE
Festival Psica 2024
Quando: 13 a 15 de dezembro
Onde: Cidade Velha e Estádio Mangueirão
Ingressos: https://ingresse.com/festivalpsica2024/