Shows
O Pará entrou de vez na rota dos festivais. São mais de 10 somente neste ano - o dobro do ano passado. Entre estreantes e outros que foram retomados depois de longo hiato, os eventos reúnem atrações regionais, nacionais e internacionais, contemplando desde o pop, rock, brega ao hip hop.
“Vejo que as marcas estão mais abertas a ouvir e a investir na Amazônia, dada a importância e singularidade da região como sede da COP-30 e de seu grande papel para justiça climática e alternativas à sustentabilidade ou a transição ecológica que encontra-se em nossa vivência com a natureza”, celebra Cássio Nogueira, idealizador do Festival Aceita, evento inédito que traz um line-up dedicado a exaltar estrelas LGBTQIA+, como Gloria Groove, Billy Porter e Christian Chávez.
O festival, idealizado em 2020, levou quatro anos para ser erguido – feito que só foi possível graças à reativação das leis de incentivo. A volta da Lei Rouanet, depois de 4 anos suspensa, e o aumento do teto da Lei Semear no Pará impactaram numa onda de eventos culturais no estado. Em 2024, o edital da Semear passou a aceitar inscrições de dois projetos por proponente, no limite total de R$ 600 mil por submissão - R$ 200 mil reais a mais do valor anterior.
“Eu estou observando no mercado um grande crescimento nos investimentos das empresas nas leis de incentivo. É imperativo frisar que a volta do Ministério da Cultura e das políticas de incentivo, principalmente para a cultura amazônica, tem potencializado e muito a retomada e o protagonismo da região na produção cultural”, garante Lanny Cavalléro, profissional do setor cultural há 23 anos e diretora executiva do Festival Aceita.
Norte no centro do mapa
No Pará, a Lei Semear movimentou R$ 17 milhões em 2023, e a projeção é que chegue a R$ 20 milhões este ano, uma dinâmica capaz de gerar emprego e renda a milhares de pessoas. “Com as captações realizadas a partir dos recursos de 2023, de acordo com os proponentes dos projetos, foram gerados cerca de 70 mil empregos diretos e indiretos”, destaca Carmem Fischer, secretária executiva da Semear.
Um dos projetos beneficiados foi o gigante Festival Psica. Realizado na Amazônia há 12 anos, um dos maiores festivais independentes do Brasil comprova esse momento de retomada. Com diversas edições realizadas “na garra”, o Festival Psica acontecia graças a uma vaquinha colaborativa que juntava verba entre amigos.
“A gente financiava e executava juntos ali com todo mundo: via o que cada um tinha no cartão de crédito, algumas milhas sobrando, algum dinheirinho. A gente juntava tudo e fazia o festival acontecer, e se comprometia a retornar o valor com o que a gente fizesse de bilheteria e bar. Então era meio que um empréstimo coletivo”, explica Jeft Dias, diretor do festival ao lado do irmão Gerson.
Em 2018, o Festival Psica conseguiu girar a chave e passou a ter apoiadores. No entanto, depois da pandemia e em meio a profundos cortes em políticas públicas para a cultura, em 2022, o evento foi realizado sem qualquer patrocínio - um desafio hercúleo. Eis que, em 2023, já com os ventos soprando a favor graças à reativação e ampliação das leis de incentivo, o Psica realizou a maior edição de toda sua história, com mais de 30 atrações gratuitas na Cidade Velha e diversos palcos no Estádio do Mangueirão.
“Esse apoio das marcas via leis de incentivo e renúncia fiscal foi fundamental: cobriu 83% de todo nosso custo, sendo que a maior parte do orçamento é destinado ao artístico e à estrutura”, detalha Jeft.
"A valorização da regionalidade, da diversidade e o entendimento da importância da cultura para a economia são premissas do nosso apoio à cultura. São aspectos que encontramos muito refletidos no Festival Psica, projeto de alta qualidade que se mostrou um grande parceiro", declara Milton Bittencourt, gerente setorial de Patrocínio Cultural da Petrobras.
Movido pelo anseio de colocar a música da Amazônia, sua cultura preta e periférica, no protagonismo, o Psica promoveu mais de 300 shows e vem conectando a cultura popular do Norte a grandes nomes da música brasileira, reverenciando a história dos povos tradicionais e a identidade cabocla da região. Na edição deste ano, o festival traz shows de Pabllo Vittar, a rapper Duquesa, e o feat inédito de Íris da Selva e Nilson Chaves.
“Vemos com entusiasmo nossa parceria com o Festival Psica para celebrar a potência da cultura amazônica! Por meio dos incentivos fiscais ligados à cultura, queremos impulsionar pessoas, ideias e iniciativas que celebram a brasilidade e fazem a diferença de norte a sul, entregando sempre o melhor do Brasil, onde a cultura e a inventividade pulsam em todos os cantos", declara Laura Motta, gerente sênior de Sustentabilidade do Mercado Livre no Brasil.
Para Caroline Afonso, head de ESG do Nubank, a cultura é um pilar fundamental para a expressão e a identidade de uma comunidade, e apoiar os Festivais Psica e Aceita é uma forma de reconhecer a importância que a região Norte tem para o Brasil e para o mundo. “Ambos festivais emergem como uma vitrine para a diversidade de narrativas culturais, alinhando-se com o nosso compromisso de fomentar iniciativas que promovem a inovação artística e o desenvolvimento econômico a partir do protagonismo regional", afirma.
“O Psica é uma iniciativa cultural que transcende os limites do convencional. O projeto acolhe pessoas independentemente de suas origens e habilidades. Ao apoiar o projeto, estamos fortalecendo os laços da cultura tradicional paraense, que sempre se mostrou presente em todas as edições do Festival. Como fomentadores culturais, salientamos a importância de apoiar festivais de música. Eles são mais do que eventos; são celebrações da nossa cultura, motores econômicos e espaços de conexão entre artistas e público. Ao investir no Festival Psica, estamos construindo um legado cultural duradouro para o Pará”, destaca Carmem Fischer.
Custo amazônico
Produtor que atua na cena de Belém há 16 anos, Gibson Massoud destaca as especificidades de promover eventos culturais no Norte - desafios que tornam ainda mais fundamentais as leis de incentivo para o setor. “A gente sempre conversa com os empresários dos artistas e produtores de outros estados sobre o ‘custo amazônico’. Temos sérios problemas logísticos, malha aérea complexa, clima diferente e menos patrocínios que as outras regiões”, pontua.
Além do custo amazônico, Massoud destaca que os preços dos serviços após a pandemia aumentaram muito, o que onerou ainda mais a promoção de eventos culturais no Norte. “O aumento do teto da Lei Semear foi fundamental, pois o mercado pós pandemia é outro. Os preços dos fornecedores, cachês artísticos e passagens aéreas, praticamente triplicaram. A Lei precisava acompanhar o mercado”.
A reativação dos editais desengavetou um dos projetos de Massoud: o Festival Sunset, que teve sua primeira edição em 2018 e foi descontinuado por falta de apoio financeiro. Este ano, o line-up traz nomes de sucesso internacional, como a cantora Marina Sena; além do cantor Silva, destaque na nova MPB; e Zaynara, estrela do beatmelody.
“Só está sendo realizada a segunda edição do Sunset agora, depois de 6 anos, pela falta de patrocínio. As leis de incentivo são fundamentais para que os patrocínios aumentem na região. Sem as leis, 80% dos projetos nem existiram aqui”, diz Massoud.
Se liga no calendário de festivais em Belém:
Festival Aceita
Data: 23, 24 e 25 de agosto, no Espaço Náutico Marine Club.
Line-up: Gloria Groove, Banda Uó e Gaby Amarantos estão entre as atrações confirmadas no line up.
Ingressos: entre R$ 60 e R$ 150.
Festival Sunset
Data: 31 de agosto, no Espaço Náutico Marine Club.
Line-up: Marina Sena, Silva, Zaynara e mais.
Ingressos: entre R$120 e R$ 550.
Festival Bailão Baixão o Pressô
Data: 6 de setembro, no Palácio dos Bares.
Line-up: Júlia Costa, Caio Prince, Leall, Nic Dias, Moraes MV, Sumano, Mc Super Shock, Dj Betinho e mais.
Ingressos: a partir de R$ 80.
Festival Se Rasgum
Data: 10 a 14 de Setembro, no Píer das Onze Janelas, Margarida Schivasappa e no Espaço Na Bêra.
Line-up: Tom Zé, Ana Frango Elétrico, Marcia Griffith, Novos Baianos, DEEKAPZ, Valéria Paiva, Nic Dias, Céu e mais.
Ingressos: entre R$ 50 e R$ 140.
Afropunk Experience
Data: 21 de setembro, no Espaço Náutico Marine Club.
Line-up: Dona Onete, Black Alien, Olodum, Bruna BG, Mega Príncipe New Tech e muito mais.
Ingressos: entre R$51 e R$120.
Festival Psica
Data: 13, 14 e 15 de dezembro, na Cidade Velha e no Estádio Olímpico do Pará, o Mangueirão.
Line-up: Pabllo Vittar, a rapper Duquesa, Nilson Chaves e Íris da Selva, a banda de tecnomelody Os Brothers e a batalha dos Bois de Parintins.
Ingressos: entre R$ 100 e R$ 200.