COP 30
O Pará acaba de conquistar dois prêmios nos eventos de mobilidade ativa mais importantes do Brasil. O coletivo Paráciclo, dedicado à difusão da cultura do ciclismo e à defesa de políticas públicas de transporte ativo na Amazônia, recebe o reconhecimento nesta quinta-feira (5), no 13º Fórum Mundial da Bicicleta e 11º Bicicultura, eventos que acontecem paralelamente na Universidade de Brasília (UnB), no Distrito Federal.
Os projetos premiados são o projeto “Bicicletas Douradas”, que implantou um sistema de bikes compartilhadas na Ilha de Cotijuba; e o “Perifa na Pista”, voltado ao empoderamento de mulheres ciclistas que vivem em territórios de baixa renda da Grande Belém.
“É simbólico que o Pará receba esses prêmios no Dia da Amazônia, porque a bicicleta é um meio de mitigar a crise climática, é um transporte zero poluente, democrático, saudável. E a Amazônia tem toda a relação com esse conjunto de valores, sobretudo neste contexto de COP 30. Junto ao transporte público, a bike é a principal forma de deslocamento dos moradores da Grande Belém. Então pensar em projetos que fortaleçam o uso da bicicleta, ações que destaquem a importância de políticas públicas que garantam segurança e dignidade do ciclista na Amazônia é nosso propósito e nossa luta social. Estamos muito felizes por contribuir nacionalmente nesse debate”, diz Ruth Costa, presidente do coletivo Paráciclo.
O Fórum Mundial da Bicicleta e o Bicicultura 2024 é organizado pela Associação Rodas da Paz, organização de cicloativismo com 21 anos de atuação no Distrito Federal, e tem como objetivo celebrar e discutir a mobilidade ciclística como alternativa ao automóvel num contexto de crise climática. Além de cicloativistas do Brasil, também participam da atividade grupos Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Chile.
Conheça os projetos premiados
Bicicletas Douradas
Em parceria com a comunidade ribeirinha da ilha de Cotijuba, região insular de Belém, o Paráciclo implantou, em dezembro de 2023, um sistema comunitário de bicicletas compartilhadas.
O nome do projeto celebra a força Tupinambá de Cotijuba, já que a etnia indígena foi a primeira a habitar a ilha. Na língua tupi, Cotijuba significa trilha dourada ou caminho dourado, por causa da cor do solo que marca o território.
Cotijuba foi escolhida para a implantação do projeto já que, por ser uma área de preservação ambiental, é proibida por lei a presença de carros, o que culmina na falta de transporte público na ilha. Em Cotijuba, vivem cerca de 10 mil moradores, que precisam se deslocar muito tempo a pé ou gastam com transporte de moto, motorretes ou dependem do único bonde que serve a ilha.
O idealizador do projeto, Murilo Rodrigues, que é arquiteto, professor da rede pública e cicloativista, destaca a motivação ecológica do projeto, já que houve uma explosão do uso de motocicletas na ilha, a partir da década de 1990, aumentando a poluição de fumaça e da poeira que levantam nas ruas, assim como a poluição sonora. “Parte da comunidade percebe que é importante reduzir o uso motorizado e retomar ao uso da bicicleta”, afirma o professor, que concluiu recentemente o mestrado abordando um tema voltado para este assunto.
A ideia, segundo Murilo Rodrigues, é repensar o “uso predatório que o sistema capitalista impõe”, seduzindo os jovens “pela motorização para ter sensação de poder” e marginalizando a bicicleta. “A bicicleta pode ser um agente transformador, anticapitalista, um agente de transformação social. Um agente que vai contribuir para reduzir as mudanças climáticas”, afirma.
Para os moradores de Cotijuba, o uso das bikes é gratuito. Para turistas, é cobrada uma taxa, que é convertida na manutenção das bicicletas, que são doadas pelos próprios moradores locais e por empresas parceiras.
Perifa na Pista
A bike é um meio de transporte fundamental na periferia da Amazônia. No corre do dia a dia, a magrela ajuda demais por ser de baixo custo e estar sempre disponível – diferente dos ônibus, que custam caro e sempre estão em falta nos subúrbios da cidade.
Seja pra atravessar distâncias e cruzar a cidade pra trabalhar no centro; seja para resolver o dia a dia, ir à feira, pegar as crianças na escola: a bike está sempre a postos. E a mulherada sabe bem a importância da bicicleta nesses corres.
Para fortalecer o uso da bike em território de baixa renda e empoderar mulheres no pedal, nasce o Perifa na Pista. O projeto levou para o bairro Águas Lindas, entre Belém e Ananindeua, rodas de conversa sobre o direito Das mulheres à cidade, sobre o código brasileiro de trânsito e sobre a importância da bike como meio de transporte saudável para o corpo e para o meio ambiente.
Essas mulheres já usam muito a bike, mas por falta de opção. A ideia do projeto é contribuir para que elas percebam a bike como um transporte digno, que pode ser um instrumento de mitigação da crise climática, e como elas podem se unir à luta pra cobrar do poder público infraestrutura pra gente se deslocar com segurança por meio desse modal tão necessário e saudável pra todo mundo”, diz Ruth Costa, idealizadora do projeto, mulher preta, moradora da periferia da Grande Belém e presidente da Paráciclo.