Arte e educação
Dezenas de jovens ribeirinhos de comunidades das ilhas de Belém se preparam para seu primeiro filme. Crianças e adolescentes ribeirinhas de Jutuba, Viçosa, João Pilatos, Cotijuba, Arapiranga, Mosqueiro e Caratateua vão roteirizar, filmar e editar um documentário sobre uma das manifestações mais tradicionais da região: o Festival do Açaí, que celebra a safra do fruto ícone da Amazônia e acontece neste domingo (15), na ilha de Viçosa.
Entusiasmada pela oportunidade de fazer parte do projeto, a aluna Vanessa Seabra, de 17 anos, moradora da ilha do Jutuba, contou que sempre sonhou em ser artista e participar de alguma novela ou filme. “Está sendo uma honra participar desse trabalho. Debater sobre filmes que retratam temas que fazem parte da minha realidade é um sonho”. Ela, assim como dezenas de jovens ribeirinhos, participaram de oficinas e atividades de audiovisual desenvolvidas pelo projeto Cinepesca, responsável pela empreitada cinematográfica dessa garotada.
O projeto em 2015, idealizado pela professora Renata Aguiar, que durante as aulas de Arte, percebeu a carência de acesso ao audiovisual além da falta de salas de cinema na região insular de Belém.
“O Cinepesca é um projeto que promove reflexões horizontais de ideias a partir dos afetos que a linguagem audiovisual provoca: olho no olho, os alunos e suas vivências protagonizam a experiência, e as oficinas os instrumentalizam. O objetivo é difundir e democratizar a produção audiovisual de base comunitária, aumentando o repertório cultural e crítico desses jovens, e isso também constrói cidadania e fortalece as narrativas próprias das comunidades”, diz Renata Aguiar.
O projeto pedagógico é desenvolvido na Casa Escola da Pesca, com o suporte de professores e da instituição, vinculada à Fundação Escola Bosque, localizada na ilha de Outeiro. A princípio, a escola foi concebida para proporcionar a formação de filhos de pescadores da região das ilhas com o propósito da redução da pobreza e a melhoria da gestão dos recursos naturais do município de Belém. Atualmente, os alunos são oriundos das mais diversas comunidades, desde as periurbanas, às insulares da grande Belém, aos assentamentos rurais, como, por exemplo, o Paulo Fonteles, situado na Ilha de Mosqueiro.
Cinema na floresta
Durante o Festival do Açaí, os alunos vão participar filmar desde os preparativos, na véspera do evento, com entrevistas junto à comunidade e organizadores da programação. Vão documentar a festa e depois fazer a edição e finalização do minidocumentário.
“Filmar a festividade é uma maneira de valorizar esse que é um acontecimento cultural, social e econômico. Além de construir subsídio técnico para que os moradores dessas comunidades ribeirinhas se narrem a partir de seu modo de viver, construindo identidade, tendo como fio condutor o Festival”, diz Rosângela Amador, coordenadora do projeto.
O plano é que o filme seja lançado até o final deste ano e passe a circular em programações de cineclubes pelas comunidades, já que, além de investir na formação em audiovisual, o Cinepesca incentiva a criação de cineclubes na região, com formações em curadoria e programação cineclubista por meio de oficinas gratuitas.
A mostra de audiovisual vai circular pelas comunidades. As etapas da mostra terão as exibições de filmes seguidas de debates com o público, sempre mediado por professores e/ou convidados.