COP 30
Nesta semana, o debate sobre crise climática envolve diferentes idiomas e contrasta realidades de diversos países em um intercâmbio inédito realizado na Amazônia. Até dia 21, artistas e ativistas de mais de 20 países se encontram em Belém para o Fórum Arte pela Justiça Climática, que começou na segunda-feira (16), com imersão em lugares simbólicos para cultura e sociopolítica da região.
Aproximar experiências que utilizam a arte como ferramenta política e social diante da crise ambiental que na qual o mundo contemporâneo está imerso é justamente a proposta central do intercâmbio, conforme explica Priscila Cobra, uma das curadoras do evento. “Queremos trazer o protagonismo para formas de resistência e de construção de justiça climática por meio de novas lógicas, formas não hegemônicas, descentralizadas, que buscam maneiras outras de sociedade para além do capitalismo predatório. Iremos promover essa troca com talentos e mentes de artistas e ativistas do mundo todo. E é muito importante que esse encontro ocorra na Amazônia, que é um dos territórios mais afetados pelas tensões ambientais. A ideia é conectar essas territorialidades com a nossa região”, diz Priscila, que é jornalista e carimbozeira afro-indígena de Icoaraci.
Artistas da Guatemala, Brasil, Porto Rico, Moçambique, Índia, Palestina, África do Sul, Equador, Colômbia, Egito, Argélia, Portugal, Angola, Malásia, Estados Unidos, São Martinho, Indonésia, China, Gana e Argentina se reunirão em vivências por diversos locais de Belém. A proposta para a etapa inicial do Fórum é introduzir os artistas à cidade, com suas complexidades, territórios e comunidades, desde o centro urbano até os bairros periféricos e as regiões insulares amazônicas.
“Neste momento inicial do encontro, pudemos perceber que nós temos problemas muito similares quando a gente pensa em justiça climática e nas próprias questões da arte em comunidade. E a solução pra esses problemas também pode ser construída coletivamente”, diz Renata Aguiar, artista visual, educadora e pesquisadora, que tabém assina a curadoria do Fórum ao lado de Zayaan Khan, artista da África do Sul que trabalha em defesa da justiça alimentar, da distribuição da terra e do uso de sementes, por meio da contação de histórias e artes multidisciplinares.
A primeira parada do intercâmbio foi o Museu Paraense Emílio Goeldi, uma instituição que tem acompanhado o desenvolvimento da cidade ao longo dos séculos e que desempenhou um papel significativo na formação das narrativas e discursos sobre a Amazônia. Após uma caminhada pelo parque do museu, foi realizada a roda de conversa "Amazônia, território sagrado, cultura ancestral", com a participação de Roberta Tavares, poeta, historiadora e quilombola; BorBlue, poeta de slam e músico trans; e Marlúcia Bonifácio Martins, coordenadora de pesquisa e pós-graduação do Museu Goeldi e pesquisadora em Biodiversidade.
“A partir desse apanhado de mentes pensantes e corpos amazônicos - uma cientista, um artista de rua, uma escritora - pudemos falar um pouco sobre esse território a partir da perspectiva de quem vive ele de diversas maneiras. Pudemos trabalhar a desconstrução da ideia estereotipada de que falar de Amazônia é pensar em fauna e flora, apenas, sem pensar nas pessoas que vivem na região. Foi um momento também de entender historicamente a preservação da Amazônia e de entender a respeito da ciência feita aqui no nosso território, a partir de uma perspectiva científica, acadêmica, mas também destacando formas tradicionais de conhecimento desenvolvidos pelos povos originários que estavam nesse território antes da intervenção colonial”, diz Renata Aguiar, curadora do Fórum.
No dia 17, o grupo vai até em Icoaraci, para oficina de cerâmica da Família Sant'ana. Lá, o grupo vai observar como diferentes tecnologias, tanto indígenas quanto contemporâneas, têm interagido e continuam a interagir atualmente, além de refletir sobre a comunidade, a preservação e a harmonia com a natureza amazônica. Os artitas farão ainda uma vivência na casa de carimbó mais antiga cidade, o espaço Coisas de Negro, com Mestre Nego Ray, mestre de reconhecida trajetória na cultura do carimbó do Pará. O próximo passo será pegar um barco para Cotijuba, para encontrar com mestres e músicos de carimbó — Mestra Nazaré do Ó, Mestre Jaci, Mestre Thomaz Cruz, Mestre Lourival Igarapé, Mestre Ney Lima pela Paz, Mestre Dimmi Paixão, Yuri Moreno, Lis Ferreira, Anne Almeida, Isaac Santos.
No dia 18, os artistas participam de uma vivência com Mãe Márcia de Xangô, líder comunitária e sacerdotisa do centro Caboclo Rompe Mato, um templo de Umbanda. Mãe Márcia compartilhará seu trabalho com esta religião afro-brasileira e suas muitas iniciativas na ilha, como o Festival Pyracema, que promove a cultura, com foco principal em saúde pública, culinária afro-amazônica e educação socioambiental. Ao final do dia, o grupo visita o Mercado Ver-o-Peso, para ter um vislumbre das vibrantes trocas culturais, naturais e simbólicas no maior mercado a céu aberto da América Latina.
O evento inédito realizado pela Prince Claus Fund em colaboração com a Open Society Foundations traz uma vasta programação gratuita e aberta ao público na Fundação Curro Velho. As inscrições estão abertas para oficinas até dia 20. Confira a programação aqui.