Belém
O Boiler Room surgiu em 2010, em Londres, e se tornou referência em mapear DJs e a música eletrônica do mundo todo. O formato, que revolucionou o modo como o estilo é consumido e compartilhado, volta os ouvidos e os olhos para o frisson que emerge da periferia do Pará: seus beats, ritmo, e sua estética repleta de pirotecnia e dança frenética.
“O tecnomelody deve ocupar o seu devido lugar como uma forma legítima e inovadora de música eletrônica”, destaca Joe Howard, da Boiler Room.
“Essa cena musical integra imagens e tradições locais e indígenas a algo que é hipermoderno. É o encontro perfeito entre tecnologia e espiritualidade, e parece que só poderia vir desta parte do mundo. Existem algumas técnicas de produção únicas que funcionam muito para festas de clubes. Tem aquele apelo universal onde alguém que nunca a ouviu antes sabe instantaneamente como dançar. Também é uma música com uma história e contexto ricos, tem uma história para contar”, celebra.
“O tecnomelody e o tecnobrega conseguem chamar atenção dos ouvidos estrangeiros pela inventividade. Aqui no Norte, na Amazônia, a gente tem mania de absorver todos os gêneros musicais do e acaba traduzindo tudo pro nosso sotaque, criando uma sonoridade própria, nova, que rompe algumas fronteiras dos gêneros musicais internacionais. Então a música eletrônica é transformada: quando chega aqui, ganha beats, samples, graves, sintetizadores, que são misturados de um jeito exclusivo, muito autêntico”, diz o DJ Zek Picoteiro, pesquisador da cena musical da Amazônia e uma das atrações da noite.
“Isso deveria ter acontecido faz tempo. Agora eu percebo que estamos mais maduros e o movimento de ascensão do brega e do tecnobrega está mais orquestrado, mais organizado”, diz. “O tecnobrega é a nossa cultura. Quem cresceu na periferia do Pará, então, sabe que era a música que mais tocava. Então não tem como pensar cultura o Norte sem considerar essa cena, que precisa ser valorizada e tem potencial para se tornar música popular do Brasil”, declara Gerson.
A anfitriã da festa é Miss Tacacá, curadora do line-up da edição amazônica do evento. Nascida em Belém e criada no bairro da Cremação, ela cresceu cercada pelas sonoridades da periferia do Pará. DJ desde 2018, ela já tocou no festival Rock the Mountain, no Rio de Janeiro, e fez a cabeça de Joe Howard, da Boiler Room, quando ele ouviu uma de suas apresentações, o que acendeu o desejo de trazer para o Norte do Brasil uma edição do projeto, que é realizado em Belém em parceria com o Festival Psica.
Joe conta que tinha acabado de começar a pesquisar para a nova temporada dos shows do Boiler Room SYSTEM com o Havana Club - que explora expressões globais da cultura do soundsystem e da comunidade que os rodeia - quando conheceu o set de Miss Tacacá.
"Foi realmente uma série de eventos de sorte. Eu estava no Rio para um show, que tinha marcado para a Miss Tacacá tocar,e ela arrasou! Ao mesmo tempo, eu tinha visto algumas fotos incríveis da aparelhagem do Vincent Rosenblatt. O som e as imagens me surpreenderam e despertaram um interesse mais profundo”, conta Joe.
“São pessoas visionárias, do mundo inteiro, elas sempre estão caçando tendências e querendo ir atrás de coisas que são inovadoras. E é muito bom ver que a música eletrônica da Amazônia fomenta curiosidade do público estrangeiro. O funk já está estourando, e o Brasil é um antro de música. Somos muito criativos, a gente é referência. Acredito que jogar holofote pra música eletrônica do Norte seja uma novidade, algo revolucionário, e as pessoas vão abrindo portas pra conhecerem coisas novas e se surpreenderem”, diz Miss Tacacá.
Serviço: Boiler Room Especial TecnoMelody e TecnoBrega, que vai rolar nessa quinta-feira, dia 19, a partir de 19h. A entrada é gratuita. Inscreva-se através do link. As pessoas credenciadas irão receber o endereço secreto da festa.