MODERNIZAÇÃO
Desde muitos anos vem se desenvolvendo planos e projetos para melhorar a logística de transporte e com isso reduzir custos para tornar o Brasil um país mais competitivo e mais atrativo ao capital estrangeiro. A Amazônia, e o Pará em particular, sofrem há décadas com propostas que não saem do papel. A pergunta é: por quê? Para o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisador Hito Braga, “o transporte marítimo eficiente e de baixo custo tem papel essencial no crescimento e desenvolvimento sustentável de uma nação, mas os problemas vão desde a elevada burocracia, até a limitada infraestrutura de estradas, ferrovias, portos e aeroportos. Além disso, ainda é possível mencionar o conhecido “custo Brasil”, que vai desde problemas institucionais até problemas trabalhistas e tributários enfrentados pelos empreendedores”, afirma.
Também há muitos anos se tem o objetivo de viabilizar o aumento da capacidade de transporte hidroviário de mercadorias pelo Complexo Portuário de Barcarena, por exemplo, e mais recentemente o Governo do Pará celebrou um Convênio de Cooperação Técnica com a Universidade Federal do Pará (UFPA) para o desenvolvimento de estudos para a análise do aprofundamento dos canais do Quiriri e Espadarte, localizados às proximidades da foz no Rio Pará, em uma iniciativa considerada fundamental para o aumento das condições de escoamento da produção paraense.
Além disso, o Governo do Pará concedeu à Companhia Docas do Pará - Porto de Belém, autorização para a dragagem no Porto Organizado de Belém, o que inclui os Terminais Petroquímico de Miramar e Portuário de Outeiro. A licença é válida até 28 de junho de 2026. O projeto prevê a dragagem de um volume de aproximadamente 6,5 milhões de metros cúbicos, como parte da preparação da capital paraense, para a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém.
Essa obra vai permitir com que a cidade possa receber embarcações de grande porte, como navios de cruzeiro. Uma simulação, já considerando a dragagem de um trecho da Baía do Guajará, especificamente no porto de Belém, da Companhia Docas do Pará (CDP), visando observar a possibilidade de atracação de navios de 323m de comprimento, nunca antes manobrados no porto de Belém, foi realizada no mês passado, em São Paulo e acompanhada por uma equipe de praticagem da Barra do Pará, responsáveis pela atividade de condução de grandes embarcações durante as manobras de atracação e desatracação dos portos da região, e profundos conhecedores do estuário marajoara.
Eles participam das conversas desde o início e alertam que este tipo de projeto precisa de manutenção, pois a Baía do Guajará sofre assoreamento constante. Além disso, também alertaram sobre o fato da área inicial de dragagem não ser suficiente, o que foi comprovado pela simulação realizada na Universidade de São Paulo (USP). “Com isso, a largura do canal foi ampliada, encontrando condições de segurança aceitáveis para a navegação. A nossa preocupação é exclusivamente a segurança da faina, pois o mundo estará de olho na Amazônia. O projeto do novo canal de acesso será importante para além da COP, pois tornará o porto de Belém habilitado a receber navios de passageiros, incrementando o turismo da nossa capital”, diz Marcos Martinelli, Diretor Técnico da Praticagem da Barra do Pará.
Pará é importante polo de exportação - Nos últimos dez anos, o transporte hidroviário representou uma injeção na economia do Pará de cerca de 7 bilhões de dólares, passando de 14 bilhões em 2014, para 21 bilhões de dólares em 2022, representando 3% de superávit na balança comercial brasileira, além de ser o modal com mais baixa emissão de carbono. Estima-se que o setor de transportes seja responsável por 14% do total de emissões globais de dióxido de carbono (IPCC). A matriz de transportes brasileira ainda tem forte tendência rodoviarista, com 52% da carga movimentada, enquanto apenas 5% são transportados pelo modo hidroviário.
O Estado do Pará é a porta de entrada dos países que fazem fronteira com a região Amazônica. Diversos projetos de exportação de grãos, minerais e importação de gás, estão sendo implantados na região, devido a sua localização privilegiada. O destaque é o Porto de Vila do Conde, parte do Complexo Portuário de Barcarena – CPB, envolvendo, também, municípios vizinhos. Trata-se de um sítio logístico importante e com enorme potencial de expansão e excelência: águas profundas, que poderão ser mais bem aproveitadas se implementado o projeto de aprofundamento do Canal do Quiriri ou Espadarte; retro área generosa; possibilidade de articulação intermodal rodoviária, hidroviária e ferroviária. Além disso, é o terceiro porto, em exportação de grãos, perdendo apenas para os portos de Santos, em São Paulo, e Paranaguá, no Paraná.
A praticagem da Barra do Pará, junto com a Marinha do Brasil e a AMPORT, permitiram que, desde 2014, o calado do canal do Quiriri fosse elevado de 12,20m para 13,90m e já prevista a ida para 14,0m (profundidade em que o navio fica submerso na água). Agora, os estudos conduzidos pelo Governo e lançado em 2022, são para um aprofundamento do Canal para próximo de 18,0m. “O Pará tem uma importância enorme para a exportação de grãos do país, pois sai mais barato escoar a produção aqui pelo Arco Norte, que abrange portos ou estações de transbordos dos estados do Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Maranhão, representando uma economia de cerca de 53% em termos de logística. E o Quiriri é o principal porto de exportação do Arco Norte”, destaca Alex Sapucaia, prático da Barra do Pará.
“Todo o mundo se beneficia do transporte marítimo, entretanto, a percepção de cada indivíduo é pequena no que diz respeito à relevância deste modal. Por meio dele são movimentados diversos bens de consumo e elementos fundamentais na vida de qualquer ser humano atualmente, como: produtos alimentícios, veículos, tecnologia e medicamentos. À medida que a população mundial continua em pleno crescimento, especialmente nos países em desenvolvimento, o transporte marítimo eficiente e de baixo custo tem papel essencial no crescimento e desenvolvimento sustentável de uma nação”, avalia Hito Braga.