Música da Amazônia
A música como pajelança, dança, ancestralidade, celebração. Música como alimento. Karibé, o primeiro trabalho solo da artista paraense Karimme Silva, faz um potente passeio sonoro pelos ritmos populares do Norte e Nordeste do Brasil, e mostra a força da música autoral da Amazônia a partir de elementos regionais para se conectar ao contemporâneo. Com uma poética que fala de encantarias, da ligação umbilical com a natureza e seus ciclos, o disco traz a fusão de estilos como o lundu, o baião, coco e maracatu. Karibé chega às plataformas digitais no dia 22 de novembro, e pocket tem show de lançamento no dia 29, no Teatro Cláudio Barradas, com entrada franca.
O disco marca os dez anos de carreira da artista, que há uma década se dedica à pesquisa entre linguagens cênicas, literárias e musicais. Atriz, ela conta que foi o teatro que a levou até a canção. “Acho que tem uma coisa muito importante que o teatro me deu: o compromisso com a presença. Foi um corpo no palco abrindo camadas para diversos personagens, e me deu espaço para a música. Desde a primeira peça que participei, Um Certo Caboclo, de 2012, eu já cantava em uma personagem. Isso abriu oportunidades para participar de projetos musicais em Belém”, conta.
Com uma proposta de trabalho envolvendo performance sonora, Karimme, que é doutoranda em Artes pela Universidade Federal do Pará, é uma das fundadoras do projeto musical MANTO, atuando como compositora e intérprete desde o ano de 2017. O projeto nasceu de uma parceria com o artista paraense Mateus Moura e o encontro da dupla gerou frutos, como um disco lançado em 2021 que entrou na lista dos 25 melhores álbuns independentes daquele ano, segundo o site Hominis Canidae, especializado em música, e shows do projeto lotados pelo público. “Nesses anos de trabalho com o Manto - compondo, interpretando, pesquisando - entendi que esse meu estado performático vem de uma trajetória como atriz há mais de 10 anos. O teatro é minha primeira raiz e é o que pretendo seguir levando para o futuro no que desenvolvo: essa presença cênica viva do corpo-voz”, destaca.
Karimme também é educadora popular pela Rede Emancipa Belém, e foi uma das duas artistas do Pará selecionadas pelo Programa de Formação ASA OI Futuro e da instituição britânica British Council (2022), que visa impulsionar a equidade de gênero na indústria musical brasileira por meio da capacitação de mulheres.
A partir de toda essa vivência e experimentações artísticas em suas múltiplas possibilidades, nasce Karibé, termo que faz alusão ao caldo de farinha consumido no Norte - um alimento que cura, dá força e sustança. O nome também é o apelido de infância de Karimme. O EP traz, em suas cinco canções, a importante temática da cultura regional como indução. No trabalho, Karimme saúda seus antepassados, fala com seus guias, e abre caminhos a partir da narração da própria história - que se conecta com as memórias de todo amazônida.
“Este trabalho surge da necessidade de recontar diversas histórias ligadas às minhas raízes familiares, a relação com minha mãe e meu avô. Nenhuma história é somente individual. Aqui no Norte existe um tipo de memória que é individual e ao mesmo tempo, muito coletiva: essa relação com avós, essa coisas de ouvir ‘causos’ e outras histórias, a coisa de ter família que veio do interior do Pará, as viagens de barco nos nossos rios, o significado de tomar bença dos mais velhos. Acredito que, em tudo isso, as nossas memórias se encontram, partindo de uma perspectiva amazônida”, diz.
Inspirada por grandes vozes da música brasileira, como Maria Bethânia, Ellen Oléria e Juçara Marçal, Karimme costura o disco que dialoga com o trabalho de muitos artistas da terra, como Trio Manari, Flor de Mururé, Florisse, Nação Ogan, Mestre Damasceno, Dona Onete e Sammliz. Já na onda nordestina, Karibé busca inspiração em movimentos musicais como o Manguebeat, grupos como Cidadão Instigado, Cabruêra, Mombojó e as cantoras Lucy Alves e Alessandra Leão.
O pocket show de lançamento que apresenta o EP Karibé para o público será no dia 29 de novembro, no Teatro Universitário Cláudio Barradas, na programação do Sonoracena - 1º Encontro de Técnicas e Poéticas do Som em Cena, coordenado pelo Prof. Dr. Thales Branche, uma parceria é com o LAB-Guma, projeto de extensão da UFPA do qual Karimme faz parte.
O EP traz a participação da artista Carol Magno, parceira de composição na canção Gira/Gyra, lançada como single em junho de 2024 e repaginada para o lançamento do disco. No trabalho, a voz de Karimme é acompanhada pelos violões de Thales Branche (que também é diretor vocal); o baixo de Helênio Cézar; e as percussões de Kléber Benigno (Paturi). Contemplado pelo Edital Multilinguagens da Lei Paulo Gustavo (2023) na Categoria Música, o disco tem a produção musical de Karimme Silva e Thiago Albuquerque, que também assina a gravação, mix e master, no Studio Z.
Serviço:
Lançamento do disco Karibé nas plataformas digitais, dia 22 de novembro. O pocket show de lançamento será dia 29 de novembro, às 19h, no Teatro Universitário Cláudio Barradas, localizado na Rua Cônego Jerônimo Pimentel, nº 546 - Umarizal. Entrada franca.
Faixa a faixa - Karimme comenta as canções do disco Karibé
KARIBÉ - "Karibé" era um apelido que minha mãe me chamava quando criança, algo próximo de Karimme. Depois descobri que existia uma palavra-alimento Caribé, algo que representa força e cura para corpos doentes. Quis trazer nessa canção todo o sumo de raiz, dessas memórias que tenho e desse alimento que vem de uma memória coletiva paraense.
CÍCLICA - Nessa canção, a melodia toda veio antes da letra. Em Cíclica falo sobre esses vários ciclos que nós vivemos e sobre ter paciência para atravessá-los. Faço uma relação com alguns elementos da natureza (terra, rio, céu, noite) pra cantar os ciclos da vida.
GYRA - Lançada em single em Junho/2024 como Gira, a Gyra que vem no EP é uma versão expandida, minha parceria de composição com a artista Carol Magno (eu na letra e ela na melodia), fala sobre um período do ano muito importante pra gente, as Festas Juninas.
SOU RIO - Essa canção nasceu no Marajó (entre Salvaterra e Soure) e terminou em Belém, muitos anos depois. Fala sobre morte e vida, sobre essas ambiguidades do rio, seu tema central. No final de tudo, ela volta para aquele outro Marajó (Curralinho), pensando que os rios sempre se encontram, os do passado e do futuro.
CAMINHO - Caminho é uma grande homenagem pras histórias que o meu avô contava. Entre o maracatu e o coco, busquei no Nordeste as fontes musicais para reencontrar meu Norte. Afetivamente, é recontar as histórias que me foram contadas. Também falo de pedras e flechas como elementos no nosso caminho, escolhas que fazemos, dificuldades a superar.