Carimbó, tropicalismo e free jazz
Vem da Amazônia o som disruptivo de Tainá EIOU. Combinando carimbó, noise, guitarra, tropicalismo e colagens sonoras, a jovem artista de Manaus traz para a cena da música autorial do país composições cheias de personalidade. Tendo como entusiastas de sua carreira músicos como Tom Zé, Tainá circula por palcos do Brasil e do mundo, recebeu prêmio na Itália em 2023 e se destaca como uma das figuras mais criativas na nova cena musical brasileira. A artista se prepara para fazer seu primeiro show em Belém, no Festival AMAJAZZON, que ocorre na quarta (27) e quinta-feira (28), no Teatro Gasômetro.
Tainá cresceu em meio a complexidade da cultura amazônica ao mesmo tempo em que foi exposta aos sons da oficina mecânica de seu pai. Tudo o que possibilitou expandir seu universo de descobertas e experimentalismos. Na luta pela inclusão de artistas do Norte no cenário musical não só brasileiro como mundial, Tainá chama atenção pelo seu estilo artístico livre e original.
Em entrevista, a artista fala da influência da Amazônia em sua sonoridade, da sua relação com Tom Zé e da sua admiração pela cultura do Pará. Confira:
1) Tainá, como uma artista mulher do Norte do Brasil, da Amazônia, como foi abrir esse espaço nos palcos nacionais e internacionais? Dá pra fazer um resumo dessa trajetória?
Sendo mulher e do Norte tudo se torna mil vezes mais difícil, mas persisto porque acredito que nossa arte tem que ser vista, ouvida e consumida em qualquer lugar do mundo. O Norte esbanja riqueza natural e artística. Nós também fazemos parte do Brasil apesar da maioria das vezes parecer que não. Ainda não me sinto fazendo um show, me sinto fazendo uma intervenção, mas espero que em um futuro próximo possamos nos sentir à vontade. Me sinto em uma eterna luta por espaços, e poder ocupar um espaço internacional e agora nacional é muito simbólico. Já são mais de 15 anos de estrada e agora que consegui finalmente lançar meu álbum estreia, chamado “METACOMUNICANÇÃO”, produzido por mim e Guilherme Pestana Vaz.
2) Tom Zé é um entusiasta da tua carreira. Conta como que se deu essa aproximação entre vocês? O que Tom Zé representa para você?
Ouvi Tom Zé pela primeira vez com 13 anos de idade na rádio da minha cidade. Perguntei aos meus pais quem era e eles falaram “Tom Zé”. A partir daquele momento meu mundo se tornou mais bonito e a vida fez mais sentido. Passei anos com a música “Tô” na cabeça, pois não achava mais nenhum vestígio de Tom Zé por Manaus, até que um dia vi que ele participaria do programa do Jô Soares, e foi aí que vi a figura pela primeira vez. A paixão foi avassaladora. Por falta de acesso à internet anteriormente fui conhecer a obra de Tom Zé aos 23 anos, 10 anos depois. Aos 25, me mudo para Niterói e aos 28 vou ao primeiro show de Tom Zé no Manouche, graças a Leo Lichote que fazia uma programação musical de primeira por lá. Sou eternamente grata a ele e ele sabe disso.
Lá conheci Tom Zé e falei com ele sobre minha paixão pela figura e pela obra dele, disse que também era cantora e compositora e que queria mostrar para ele. Trocamos telefone e a partir daí nunca mais paramos de nos falar. Tom Zé é um gênio generoso, é meu mestre maior, minha eterna inspiração.
3) O quanto a Amazônia influencia a tua sonoridade? Como definir a sua sonoridade?
A Amazônia influencia diretamente no meu som. Nasci em Manaus, vivi 25 anos da minha vida em Manaus, cresci em meio a essa complexidade amazônica, fusões rítmicas, arvores, rios. Além disso, tem toda uma história de eu crescer na oficina mecânica do meu pai, crescendo ouvindo todas as músicas e sonoridades de prego, barulho, ruído. E tudo isso reflete na música que eu comecei a compor e fazer.
4) Esse será seu primeiro show em Belém? Qual a expectativa deste diálogo entre esses dois estados irmãos?
É minha primeira vez no estado do Pará. Muito simbólico porque eu sou uma artista de Manaus e as histórias do Amazonas com Pará caminham junta. É algo muito forte porque os estados crescem juntos, são influenciadas pelas mesmas características, árvores, animais, frutos, folhas, ritmos... Nasce ali toda a história da música do norte de uma forma muito autentica, bonita, única. É muito simbólico um artista do Norte poder tocar em um festival do Norte.
5) Você acompanha a cena musical do Pará? O que mais te chama atenção?
O Pará tem uma musicalidade pela qual eu sou completamente apaixonada. Tem guitarrada, amo carimbó, amo Dona Onete, Fafá de Belém, meu querido amigo Arthur Nogueira, Sebastião Tapajós, que é um gênio. Muitos artistas e musicalidades que eu estou ansiosa para ver tudo isso de perto
2ª Edição do Festival AMAJAZZON, no Teatro Estação Gasômetro, dias 27 e 28 de novembro. Ingressos à venda aqui. Com a realização da Connecting Dots, o festival tem apoio do Governo do Pará, através da Secretaria de Estado de Cultura (Secult); da Academia Paraense de Música (APM); da Embaixada da Espanha no Brasil; da Assobio (Associação de Negócios da Sociobioeconomia da Amazônia), e da Bioma (Consultoria e Assessoria ESG).
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