LEGADO HISTÓRICO






Foto: Amarilis Marisa/ Agência Belém
O ano era 1911, Belém vivia um período rico de investimentos e expansão por conta da economia aquecida pela exploração da borracha. A cidade se expandia para além da Cidade Velha e um novo pólo de comércio era necessário para atender as demandas dos moradores mais distantes do centro.
Preocupado com essa demanda, o intendente Antônio Lemos, concede ao arquiteto italiano Filinto Santoro, mais de 3mil m2 para a construção do segundo Mercado Municipal da capital.
O bairro de São Brás já tinha recebido o projeto da Caixa D’água, e era onde ficava a estação da Estrada de Ferro Belém-Bragança, então consumidores era realmente o que não faltaria para esse novo mercado.
“Depois de apenas 11 meses de construção, com projeto e mão de obra toda italiana, Filinto Santoro começa a explorar o Mercado de São Brás. Um prédio com características neoclássicas bem definidas como a simetria, elementos clássicos nas colunas e enquadramentos, a posição de símbolos relativos à função de mercado como mercúrio e cabeças de boi que sinalizavam o comércio e a venda de carne. Além disso, o arquiteto introduz em Belém a construção de alvenaria e telhas de amianto”, conta Jussara Derenji, arquiteta e pesquisadora das construções históricas de Belém.
Toda a área recebe agora total recuperação com a obra de requalificação do espaço transformando o Mercado em Complexo Gastronômico e Cultural, uma das principais realizações da Prefeitura de Belém, em preparação da cidade para receber a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática (a COP 30), em 2025. O investimento é de R$ R$ 150.507.380,98, sendo R$ 85 milhões do Governo Federal, por meio da Itaipu Binacional.
Para a pesquisadora, a requalificação do mercado é importante não só pelo ponto de vista histórico, mas principalmente pela renovação do entorno. “A requalificação do prédio para novas funções é extremamente importante como possibilidade de recuperar uma extensa área que estava em degradação”, aponta.
Opinião compartilhada pelo arquiteto coordenador de projetos especiais da Prefeitura de Belém, José de Andrade Rayol. “O pólo de São Brás à época era chamado de Nova Belém e atraiu investimentos internacionais como a caixa d’água, de investimento francês, construída pela mesma empresa que fez a Torre Eiffel, o Mercado de São Brás, de investimento totalmente italiano e o investimento inglês da estação da Estrada de Ferro. O bairro andava meio meio descuidado e agora voltará a ser fortalecido com os vários serviços e restaurantes disponibilizados pela requalificação”, aponta o arquiteto.
Para ele, a entrega do Complexo Gastronômico e Cultural pela Prefeitura de Belém, marcada para 18 de dezembro, coroa uma política de valorização do patrimônio histórico da cidade. “Como arquiteto, a gente sente uma grande política de recuperação do patrimônio de Belém, desde o Palácio Antônio Lemos, o Palacete Pinho, o Solar Flávio Nassar, que já foram entregues e observar agora as obras do Ver-o-Peso e o Mercado de São Brás vem coroar essa política de uma maneira ousada. A requalificação com a criação do estacionamento subterrâneo para 200 carros foi uma aposta que poderia ter dado errado, mas que o trabalho bem realizado de engenharia permitiu fazer. Talvez sem isso, a funcionalidade do mercado estivesse comprometida no futuro”, explica.
Inspiração europeia
Autor do projeto de restauração do Mercado de São Brás, o arquiteto Aurélio Meira foi até os mercados em Lisboa, Madri e Barcelona para conhecer quais estratégias foram utilizadas nesses locais que poderiam ser reproduzidas aqui. “Visitei Mercados emblemáticos dessas cidades como o Mercado de Ourique em Lisboa, o Mercado de São Miguel de Madri, e o Mercado da Bocanera em Barcelona, e entre os quatro, teve um que eu gostei muito. Então eu captei aquele clima do campo de Ourique onde eles reabilitaram o velho mercado, onde hoje é a maior badalação. Foi esse clima que eu quis reproduzir aqui”, afirma o arquiteto.
“Preservar é insuflar vida aos ecos do passado, permitindo que o edifício respire o presente, alimente a cidade, e se alimente dela. É uma dança entre tempos, onde o concreto se torna árvore de raízes profundas sorvendo da seiva urbana para eternizar-se e cada restauração como uma alquimia funde as marcas do tempo sem apagar as cicatrizes que fazem de cada estrutura um coração pulsante”, declara o arquiteto.
Requalificação dignifica o Mercado e o bairro
“A imponência foi superada agora com o projeto que o arquiteto Aurélio Meira desenvolveu. E a Prefeitura, com muita ousadia, decidiu realizar este sonho. Hoje, Felipe Santoro agradeceria. A obra dele está ainda mais dignificada, porque nós transformamos, restauramos o que ele fez e ampliamos de forma muito significativa, mantendo a linha estética, mesmo trabalhando com novos materiais e com uma visão mais contemporânea de arquitetura, no entanto mantivemos a dignidade de um projeto que está à altura, digamos, da obra original e do próprio arquiteto, originalmente”, engrandece o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.
Ele manisfesta seu orgulho de, na condição de prefeito, de arquiteto e de cidadão de Belém, ter coordenado uma política de valorização do patrimônio histórico e de construção de novos instrumentos de desenvolvimento econômico que considerem a tradição da gastronomia e, ao mesmo tempo, a tradição de feira de mercados, que é marca da economia de Belém. " Valorizamos a arquitetura e a introdução e fortalecimento de outras dimensões da política de desenvolvimento econômico e social, como o turismo, a cultura. Portanto, o turismo, a chamada indústria sem chaminé e a cultura como espaço de produção de bens e materiais e, dessa forma, uma economia criativa. Então, com isso, não temos apenas a arquitetura do mercado de São Brás alterada, nós vamos ter um legado importante. Os efeitos para frente vão ser muito, muito positivos ", declara Edmilson Rodrigues.