"Eu quero que seja explorado"

Às vésperas de uma visita ao Amapá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas contundentes ao Ibama pela demora na liberação de pesquisas para exploração de petróleo na Margem Equatorial, que engloba a Foz do Amazonas. Em entrevista à rádio Diário FM, de Macapá, Lula expressou insatisfação com a lentidão do processo. “Não é que vou mandar explorar, eu quero que seja explorado. O que não dá é ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo e está parecendo que é contra o governo”, afirmou.
A pressão sobre o Ibama ocorre em um contexto estratégico, considerando as eleições presidenciais de 2026. Além do potencial econômico da exploração petrolífera, a movimentação de Lula também fortalece sua aliança política com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que reassumiu a presidência do Senado. O objetivo do governo é resolver o impasse antes da Conferência do Clima (COP-30), marcada para novembro em Belém.
Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, minimizou as declarações do presidente, afirmando que não sofreu pressões diretas. “O presidente nunca me pressionou para isso, mas de tempos em tempos surgem empreendimentos que são emblemáticos e a sociedade toda cobra uma resposta”, declarou. Em contrapartida, a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente manifestou repúdio a qualquer tentativa de interferência política no trabalho técnico do órgão.
A declaração de Lula foi interpretada como um indício de que podem ocorrer mudanças na cúpula do Ibama. Agostinho, que tem forte ligação com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e é filiado ao PSB, aparece como um possível alvo das alterações. Entre os nomes cotados para substituí-lo está o do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT), que possui experiência na área ambiental, tendo atuado como superintendente do Ibama em Aracaju e secretário do Meio Ambiente de Sergipe.
Mesmo com a lembrança do desgaste causado pelo licenciamento ambiental da usina hidrelétrica de Belo Monte — que levou à saída de Marina Silva do governo Lula em 2008 —, o Planalto acredita que a ministra seguirá no cargo. Em nota divulgada recentemente, Marina destacou que a decisão sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas não cabe exclusivamente ao Ibama ou ao Ministério do Meio Ambiente, indicando que a palavra final é do próprio presidente.
Além da questão ambiental, Lula também deve avançar nas negociações para uma reforma ministerial. O presidente sinalizou a aliados que pretende destravar conversas com Alcolumbre e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para redefinir cargos no governo. Fontes indicam que mudanças devem ocorrer principalmente entre ministros petistas ou indicados diretamente por Lula, com possíveis substituições na Saúde, atualmente ocupada por Nísia Trindade, e no Desenvolvimento Social, comandado por Wellington Dias (PT-PI).