DIA MUNDIAL DA INFÂNCIA

Duas crianças correm de um lado para o outro, brincando de esconde-esconde, sob o olhar atento de suas respectivas mães. O cenário poderia ser o de uma escola ou um shopping, mas, na realidade, elas estão em uma unidade hospitalar. Esse momento de interação ocorre na brinquedoteca do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), que integra o Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA/Ebserh). O espaço reabriu as portas com mais cores e sorrisos, oferecendo um refúgio de alegria e aprendizado para os pequenos internados. No Dia Mundial da Infância, celebrado nesta sexta-feira (21), a sociedade é lembrada de que toda criança tem o direito de brincar, inclusive aquelas que enfrentam questões de saúde.
Concentrado entre dois super-heróis, Batman e Homem-Aranha, Abner Isaías, de 4 anos, passa pela segunda internação para tratamento de fibrose cística. Em meio a tantos exames e medicamentos, um momento se destaca na rotina do menino: a visita à brinquedoteca. “Antes, ele só tinha o celular ou um caderninho para pintar, mas já não se interessava mais. Agora, ele tem horário para se divertir”, contou Dielle Ramos, lavradora de 29 anos, mãe do menino. Com aquele brilho nos olhos de uma mãe que faz de tudo para ver o filho feliz, ela completou: “Ele fica ansioso para vir pra cá e não perde nenhum dia”, garantiu.
Brincadeira é um direito e gera aprendizado
O Artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, assegura que as crianças têm direito de "brincar, praticar esportes e divertir-se". A Constituição de 1988 também destaca que é dever da sociedade e do Estado garantir, com prioridade, os direitos à vida, saúde, educação e lazer. A Declaração Universal dos Direitos da Criança da ONU, de 1959, reforça esse direito, afirmando que “a criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se”.
A terapeuta ocupacional Manuella Azevedo, do Barros Barreto, explica que a brincadeira é essencial para que a criança explore o mundo e desenvolva habilidades motoras, cognitivas, emocionais e sociais. No entanto, em casos de internação, esse direito fundamental pode ficar comprometido. “O paciente infantil chega com a rotina interrompida, e sua principal ocupação, que é o brincar, fica fragilizada. Isso gera prejuízos psicoemocionais, como ansiedade, medo e frustração, além de impactos neuromusculares e cognitivos decorrentes da privação ocupacional”, relatou.
Para a profissional, a brincadeira vai além de uma simples distração: é uma forma de tratamento que auxilia no progresso do paciente. “A brinquedoteca vem no sentido de garantir a ocupação, que é indispensável para o desenvolvimento da criança. No espaço, ela expressa suas emoções, lida melhor com o estresse da internação e mantém um desenvolvimento saudável, mesmo diante das adversidades”, ressaltou.
Saúde e segurança do paciente
A brinquedoteca do HUJBB reabriu em uma nova localização neste ano. Antes situada na área externa do hospital, a estrutura foi reformulada e agora funciona no segundo andar da instituição. De acordo com a psicóloga hospitalar Emily Castro, o espaço é um recurso adicional no cuidado com os pacientes internados na Unidade da Criança e do Adolescente (UASCA), pois a ludicidade ajuda a enfrentar o cenário de adoecimento, angústia e sofrimento. “Observamos que, quando a criança chega a nós, costuma estar assustada e, muitas vezes, evita a aproximação da equipe. Com as atividades lúdicas, ela acaba se abrindo aos poucos, enquanto aquela tensão vai diminuindo”, afirmou.
Para frequentar a brinquedoteca, a criança deve estar clinicamente estável e autorizada a sair da enfermaria. Quando isso não é possível, como em casos de isolamento, as atividades são adaptadas e realizadas no leito do paciente, seguindo todas as normas de segurança para garantir o acesso ao momento recreativo.
Já para manter o espaço higienizado e seguro, os profissionais orientam as crianças a lavarem as mãos com água e sabão, evitando a infecção cruzada (transmissão de microrganismos de uma pessoa para outra ou de um objeto para uma pessoa). Ao final de cada atividade, os brinquedos são separados e higienizados com álcool a 70%. Além disso, eles são organizados por categorias, conforme a faixa etária das crianças.
Sobre a?Ebserh?
O CHU-UFPA faz parte da Rede?Ebserh?desde 2015. Vinculada ao Ministério da?Educação (MEC), a?Ebserh?foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45?hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio?de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais,?essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema?Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de?profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.