Em 24 de abril de 1912, Belém ganhava uma joia: o Cinema Olympia. Construído próximo ao Theatro da Paz, o cinema era um dos símbolos do auge econômico promovido pelo ciclo da borracha, um dos períodos de maior riqueza da capital paraense. Nesse período, o cinema, até então uma novidade em todo o mundo, virou a febre entre os mais ricos da cidade.

Hoje, 113 anos depois, o Cine Olympia passa pelas últimas etapas da obra de restauro, que busca resgatar esse patrimônio para a população de Belém. Nesta quinta-feira (24), representantes da Prefeitura de Belém e do Instituto Pedra, responsável pelo restauro, estiveram nas obras do cinema para realizar um parabéns simbólico, com os trabalhadores que, dia e noite, atuam para garantir a reabertura do cinema mais antigo em atividade no Brasil. 

"Hoje a gente está celebrando esse grande aniversário deste equipamento maravilhoso, que fez parte da história de muitas pessoas, e esteve na vida de muita gente da nossa cidade. Ele é mais do que um cinema, é uma verdadeira obra de arte da arquitetura paraense", ressaltou a secretária municipal de Cultura e Turismo (Semcult), Cilene Sabino.

A arquiteta Beth Almeida, responsável do Instituto Pedra pela obra do cinema, reforçou que o Olympia é um patrimônio muito importante para a cidade. "Além de ser um patrimônio muito bonito e que sofreu várias intervenções, para mim, que sou uma arquiteta, que trabalho com restauro, é muito importante a gente restaurar um cinema que é muito importante para a nossa cidade e para o Brasil".

Amor que fica na história

O amor da população e, em especial, dos produtores culturais de Belém pelo cinema está registrado na história do espaço. Um deles, foi a mobilização para manter o Olympia aberto em 2006, após o grupo dono da sala anunciar o fechamento.

Com a pressão de diversos setores da sociedade civil o espaço passou para a gestão da Prefeitura de Belém, como relata a fotógrafa e produtora cultural Maria Christina. "Soubemos que o Olympia ia fechar e o dono tinha intenção de coloca-lo à venda. Isso era inadmissível, considerando que ele é o cinema mais antigo do país em funcionamento, e que nossas histórias, e de muitas outras pessoas, inclusive de gerações que nos precederam, atravessavam aqueles corredores, poltronas, tela", ponderou Maria.

"Eu frequentei o Cine Olympia desde criança. Meus pais me levavam para as sessões de domingo pela manhã. Assim, fiz com as minhas filhas, e muitos de nós tínhamos a mesma experiência. Aquele cinema, hoje em dia, um dos poucos de rua, faz parte da nossa vida, da nossa construção de vida e pensamento. E não poderíamos deixar que ele sumisse, ou mesmo que assumisse outro papel senão o que já tão bem cumpria", afirmou.

Desde então, o espaço está sob gerência da Prefeitura de Belém, que agora se compromete a garantir o funcionamento pleno do patrimônio na cidade. "Ter o Olympia restaurado e funcionando não é um presente para um grupo apenas, mas para toda a cidade", disse Maria Christina, sobre as perspectivas de reabertura do cinema.

O sentimento é compartilhado por outras pessoas com histórias de vivência no Olympia. "Eu e minha atual esposa nos encontramos pela primeira vez na Praça da República e, no segundo encontro, a gente decidiu que queria ver um filme no Olympia. E então a gente passou a ir uma, duas vezes na semana no Olympia para ver alguns filmes que estavam em cartaz, eu lembro que nessa época estava passando um festival de filmes antigos de terror", contou a publicitária Vivian Martins, que deu o primeiro beijo na esposa durante uma sessão no cinema.

"O Olympia é não só um marco histórico na cidade, mas também é o roteiro de várias histórias como a nossa, que tiveram início ou meio na sala, nessas histórias, não só das telas, mas da vida. E são sete anos de relação que eu tenho com o Olympia e com a minha esposa. Eu nunca tinha ido lá, até então, e a primeira vez que eu fui, foi com ela", acrescentou Vivian. 

A enfermeira Monica Birani também viveu um momento só dela no Olympia. "Ele foi o cinema onde eu assisti a minha primeira sessão de cinema sozinha, sem a companhia dos meus pais ou dos meus irmãos, só eu e duas amigas da escola. Então, para mim, foi como se eu estivesse iniciando a minha vida adulta. E depois, quando meu filho nasceu, era onde eu levava o meu filho para assistir as matinês de filmes infantis. Ver ele sendo restaurado é como restaurar uma foto antiga, quando conseguimos reavivar as lembranças daquela época".

Programação de aniversário

Neste domingo (27), a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult) realizará a segunda edição do projeto Olympia Itinerante, dessa vez será em frente ao cinema.

Durante a sessão, serão exibidos diversos curtas de produtores paraenses, em uma programação gratuita, a partir das 18h30. Serão exibidos os filmes "O Time da Croa", de Jorane Castro; "Josephina - A moça do táxi", de Zienhe Castro; "Olhares do Norte: Pará: Luiz Braga", de Fernando Segtowick; além de uma homenagem ao cineasta e crítico de cinema Pedro Veriano.

Serão disponibilizadas cadeiras em uma área coberta para os primeiros que chegarem. Aqueles que chegarem depois também podem levar as próprias cadeiras de praia ou bancos para apreciar os filmes. 

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