Artes visuais
A cidade como personagem, a memória como trama e a fotografia como linguagem que atravessa o íntimo e o coletivo. Esses são alguns dos eixos da exposição Desacontecimentos, nova mostra individual do artista paraense Lucas Negrão, que abre ao público no dia 9 de maio, às 19h, na Associação Fotoativa, em Belém.
Com mais de 40 imagens dispostas em uma instalação fotográfica acompanhada por textos autorais, a mostra propõe uma investigação visual sobre os rastros do que deixou de acontecer — ou que resiste apenas na lembrança. “É uma exposição sobre ruínas, não no sentido romântico, mas sobre os sinais de uma cidade em constante processo de desaparecimento”, explica Lucas.
Natural do bairro da Terra Firme, em Belém, Lucas Negrão é artivista e fotoativista, com atuação marcada pelo engajamento em temas como justiça climática, arte-educação e memória urbana. Mestre em Artes pela Universidade Federal do Pará, o artista vem acumulando uma trajetória plural, que passa por curadorias, cinema, intervenções visuais e exposições individuais e coletivas. Seu trabalho se destaca pela capacidade de entrelaçar a experiência pessoal com a história social dos espaços que ocupa e observa.
Desacontecimentos nasceu de um processo iniciado ainda em 2014, com registros fotográficos que capturam vestígios de memórias urbanas em Belém e em outras cidades, como Belterra. “O projeto começou com o desejo de buscar vestígios da memória da cidade nas ruas. A fotografia do trilho do bondinho na Cidade Velha é um exemplo de como restam apenas sinais das coisas que deixaram de existir”, conta Lucas. A exposição reúne desde imagens da Samaumeira do Can — cuja queda recente provocou comoção entre os moradores — até fachadas de casas em estilo “raio que o parta”, ameaçadas pela descaracterização urbana.
O título da mostra reflete essa poética do fim. “Desacontecimentos fala das coisas que efetivamente aconteceram, mas que agora estão em ruínas, prestes a desaparecer, ou que já não existem mais concretamente”, diz o artista. A proposta, segundo ele, é provocar o público a refletir sobre como a cidade se inscreve em nossas vidas, marcando a história de cada um com seus próprios rastros e ausências.
O retorno à Fotoativa tem um significado especial para Lucas. “Essa é a segunda exposição individual que realizo aqui, e tem um valor simbólico porque foi nesse casarão que minha trajetória como fotógrafo começou, em 2015. Esse espaço foi e continua sendo minha escola de imagem”, destaca.
Além da mostra, o projeto prevê a realização de oficinas com foco no debate sobre memória e patrimônio, como a oficina de construção de mosaicos com a Rede Raio Que O Parta. As ações são viabilizadas por meio do incentivo da Política Nacional Aldir Blanc, voltada à valorização da produção artística brasileira.
Com sua linguagem atravessada pela fotografia, autoficção e engajamento político, Lucas Negrão convida o público a se aproximar do que insiste em desaparecer — e a reconhecer, na cidade que se transforma, os contornos das próprias histórias.
Serviço:
Abertura da exposição "Desacontecimentos", dia 9 de maio de 2025, às 19h, na Associação FotoAtiva (Praça visconde do Rio Branco, 19). A exposição ficará aberta entre 9 de maio e 9 de julho. Visitação: terça à sexta-feira, de 10h às 17h; e sábado, de 9h às 12h.