DENÚNCIA
A perspetiva sobre segurança nas comunidades e territórios tradicionais sempre é uma pauta pertinente nas organizações de base no Marajó. Historicamente e tradicionalmente criam estratégias para se manter seguras em diferentes meios, em seus modos de vida, em seus territórios, salvaguardando suas tradições, subsistência e mantendo a floresta em pé.
No entanto, os territórios tradicionais historicamente têm seus direitos violados na falta de acesso a políticas públicas necessárias para autonomia territorial, o que leva essas comunidades a enfrentarem problemas socioeconômicos, deixando-os um “quadro“ de vulnerabilidades sociais, muitas vezes invisibilizadas pelas instituições e criminalizadas pelas forças de segurança.
Foi a partir dessa realidade que escrevemos o artigo “Segurança Punitivista Pune a Vida e o Território”. Feito por lideranças que vivem o dia a dia no território, o artigo vem refletir e expor o modelo de segurança implementado pelo estado aos territórios e comunidades tradicionais marajoaras, aponta a (in)eficiência de uma política de segurança punitivista que não funciona no combate a criminalidade no Marajó mas reforça estereótipos posicionando as comunidades como perigosas.
O artigo foi lançado dentro do relatório Além da Floresta: conflitos socioambientais e deserto de informações, construído pela Rede de Observatórios de Segurança. O documento reúne dados e análises de diferentes regiões do Brasil, com foco na segurança ambiental e nos desafios da produção de informações sobre os povos da floresta e seus territórios.
Segurança para quem? Esta é a pergunta que ecoa no artigo do Observatório do Marajó. Uma provocação necessária para repensar modelos de segurança que, ao invés de proteger, aprofundam desigualdades e violam direitos. Para garantir a vida, o território e a floresta, é urgente ouvir quem está na linha de frente da resistência.
Esse debate se torna ainda mais urgente diante do avanço de grandes projetos na Amazônia, como exploração de petróleo, abertura de rodovias e outros, que agravam os conflitos e ameaçam os modos de vida tradicionais. A ausência de políticas públicas de proteção real a esses territórios só favorece a lógica da exploração e do abandono.
Repensar a segurança pública no Brasil, especialmente na Amazônia, é repensar a presença do Estado. Um Estado que, ao invés de garantir direitos, tem se feito presente com armas e algemas. Como bem apontam as lideranças no artigo, é preciso virar a chave: da punição para o cuidado, da opressão para a escuta, da criminalização para o reconhecimento.
A vida nos territórios marajoaras não precisa de mais repressão — precisa de respeito, justiça e investimento. O que o artigo revela é que a segurança verdadeira só será possível quando ela for construída com os povos da floresta, e não contra eles.
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