Educação
A trajetória profissional de Aline Oliveira começou como professora particular, ministrando aulas de reforço no âmbito domiciliar. No entanto, foi no período pós-pandemia que ela encontrou sua verdadeira vocação: a Psicopedagogia. Formada em Pedagogia, sentiu a necessidade de aprofundar-se por meio de cursos de formação, buscando novos conhecimentos para atender à demanda de alunos que apresentavam prejuízos acadêmicos em decorrência do fechamento das escolas durante a pandemia. Com o tempo, Aline percebeu que muitas das barreiras enfrentadas por seus alunos não podiam ser superadas apenas com metodologias pedagógicas e formações adicionais. Foi nesse momento de escuta e observação que mergulhou no universo psicopedagógico, apaixonando-se pela profissão que hoje exerce com compromisso e sensibilidade
Um olhar individual sobre a aprendizagem
Para Aline, o atendimento psicopedagógico é fundamental tanto no contexto educacional quanto no clínico. “A escola, muitas vezes, trabalha com uma metodologia única, e o psicopedagogo entra justamente para compreender como aquele aluno aprende. Desta forma, consegue realizar orientações aos professores e ações que possibilitam o processo de inclusão e permanência deste aluno no espaço escolar. Nosso trabalho é entender os obstáculos e intervir de forma significativa", afirma.
Ela explica que sinais como dificuldades persistentes em leitura e escrita, raciocínio lógico, baixa autoestima, desmotivação, esquecimentos, atrasos de linguagem e alterações de comportamento devem acender o alerta em pais e professores. “A observação cuidadosa é o primeiro passo para buscar ajuda”, orienta.
Conhecendo o atendimento psicopedagógico clínico
Aline desenvolve um trabalho clínico centrado na avaliação e na intervenção psicopedagógica. Esse atendimento mais aprofundado leva em conta aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais, permitindo traçar estratégias personalizadas para cada criança. “No consultório, conseguimos mapear com mais clareza as dificuldades e suas origens. Isso nos permite conduzir o processo com mais proximidade e eficiência.”
Segundo ela, o processo de avaliação envolve escuta da família, observação direta da criança, aplicação de protocolos específicos (quantitativos e qualitativos) e visita à escola. “Assim, conseguimos identificar se os desafios são pedagógicos, emocionais ou neurológicos e, a partir disso, orientar a família durante a devolutiva, apresentando os resultados e os encaminhamentos mais adequados.”
O papel do psicopedagogo na equipe multidisciplinar
A Psicopedagogia tem ganhado cada vez mais espaço nas equipes multidisciplinares que atendem indivíduos com transtornos de aprendizagem ou neurodivergência. Aline destaca que o psicopedagogo contribui com uma escuta especializada no aprender, sendo peça-chave na construção de um plano de cuidado eficaz. “Tivemos um caso de uma criança com suspeita de autismo que só pôde ser compreendida de forma integral com o envolvimento conjunto da psicopedagoga, psicólogo, fonoaudióloga e neurologista. O diagnóstico foi mais preciso e as intervenções mais assertivas.”
Ela enfatiza que, mesmo com essa importância, ainda existe muito desconhecimento sobre o papel da Psicopedagogia. “Muitos confundem com reforço escolar ou com a atuação de psicólogos. Nosso campo é o da aprendizagem: identificamos, prevenimos e intervimos nas dificuldades que a criança apresenta, levando em consideração sua história, sua cognição e seus sentimentos.”
Entre desafios e oportunidades
Entre os principais desafios da profissão, Aline cita a necessidade de regulamentação da atuação do psicopedagogo nas áreas da educação e da saúde, como defendido pelo PL 116/24. “Ainda enfrentamos limitações de reconhecimento e entendimento da nossa função, mas nosso trabalho é essencial, principalmente diante das demandas atuais, que exigem ampliação na identificação precoce de diagnósticos e prejuízos na aprendizagem.”
Ela acredita que o futuro da Psicopedagogia é promissor. “Com o aumento de diagnósticos relacionados à neurodiversidade e os debates cada vez mais abertos sobre transtornos e dificuldades de aprendizagem, o psicopedagogo se torna essencial para construir pontes entre o desenvolvimento humano e o processo de aprendizagem.”
Um trabalho que transforma vidas
Para as famílias que têm dúvidas sobre procurar um psicopedagogo, Aline faz um alerta: “Quanto antes iniciar a intervenção, menor o prejuízo e maior a possibilidade de sucesso. A Psicopedagogia pode transformar o percurso escolar e emocional da criança.”
Ela deixa ainda uma mensagem importante para pais, educadores e profissionais da saúde:
“Valorizar o trabalho psicopedagógico é entender que aprender vai muito além dos conteúdos escolares. Envolve o emocional, o cognitivo, a história de vida e o ambiente onde a criança está inserida. Quando enxergamos a aprendizagem de forma integral, promovemos inclusão, respeito às individualidades e oportunidades reais de desenvolvimento.”
Aline Oliveira é, acima de tudo, uma profissional que acredita no poder da escuta, da paciência e do acolhimento para transformar a relação das crianças com o aprender — e com elas mesmas.